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13.8.10

122. grande lotte lenya

121.

era uma vez, cinco amigos: ártico, antártico, pacífico, atlântico e índico. de todos, atlântico era o mais garboso. apesar de todos o serem, índico era o mais proparoxítono. e ártico era o chato do grupo. sobre os outros dois ainda são desconhecidas as principais características.
certa vez, ártico mostrou o seu lattes para os outros e todos o acharam inconveniente e ridículo.
pacífico lavou a roupa dos cinco amigos e colocou tudo direitinho para secar. ele era gentil e cuidadoso, e sempre lavava a roupa de todos sem cobranças ou má vontade.
ártico frequentemente estava de má vontade e certa vez foi visitar os outros amigos de cara feia. todos o acharam inconveniente e ridículo. ele chegou a discutir com a mãe de antártico em um almoço de família.
pacífico se descuidou e estragou a corda de estender roupa. chorou aquela tarde como se tivesse perdido um grande amor. índico viu, mas fez que não reparou. achou estranho e não quis assumir nenhuma responsabilidade.
antártico ligou para sua mãe uma tarde, mas ela não atendeu. ele sabia que ela provavelmente estava em casa, mas não atendera de propósito, mesmo sem saber que era ele. isso não tinha nada a ver com as gafes de ártico, pois ninguém ligava para ele de verdade.
atlântico comprou uma bonita bota de inverno e todos gostaram, menos ártico, que também desejava secretamente uma bota de inverno. ao menos, a partir daquele momento, passou a desejar. cada vez que atlântico calçava sua bota, ártico sentia uma forte pressão no peito e uma queimação atrás dos olhos.

12.8.10

120. 101 coisas para fazer em 1001 dias

pretendo realizar 101 coisas em 1001 dias, começando amanhã, sexta-feira 13 de agosto e finalizando também numa sexta-feira, 10 de maio de 2013. achei que a data ficou super cabalística. em vez de 2010, ficou dia 10. em vez de dia 13, ficou 2013. as duas datas são sextas-feiras. os meses não têm nada a ver.
obviamente isso vai mudar ao longo do tempo, então deixei 11 espaços em branco para poder acrescentar coisas com o tempo. talvez algumas delas caiam fora. o que for concluído vai ser riscado.
é bem provável que em duas semanas eu esqueça que fiz esta lista.
o critério é que as tarefas sejam específicas, realistas e mensuráveis.
quem quiser ver quem adaptou a ideia para o brasil, clique aqui.

saúde e bem estar:

1. fazer academia por pelo menos 3 meses sem largar
2. comprar frutas uma vez por mês (e comê-las)
3. beber pelo menos 4 copos de água por dia por 1 mês
4. fazer uma arte marcial

mudanças de hábito:

5. comprar frutas e verduras na feira pelo menos 1 vez por mês por pelo menos 6 meses
6. ficar uma semana sem comer nada de chocolate
7. utilizar mais os princípios do wu-wei
8. ficar pelo menos um mês sem deixar livros e roupas jogadas no quarto
9. ficar pelo menos um mês sem deixar louças espalhadas pela casa
10. passar filtro solar todos os dias por pelo menos um mês
11. lembrar de preparar salada (e comer) todos os dias por, pelo menos, um mês
12. não me incomodar com a vizinha chata por pelo menos 1 mês
13. acordar às 8 e meia todos os dias úteis durante 1 mês

aprendizado:

14. aprender a costurar
15. desenhar pelo menos uma pessoa por semana por pelo menos 3 meses
16. aprender inglês
17. aprender aquarela (sozinha ou com um curso)
18. aprender a melhorar desenhos no computador, independente dos programas necessários pra isso
19. conhecer profundamente as obras de, pelo menos, 5 clássicos do jazz (0/5)

compras:

20. comprar um aparelho de DVD para olhar séries no quarto
21. comprar um scanner
22. comprar duas confortáveis poltronas para a sala de estar
23. comprar algum souvenir do zequinha
24. descobrir um perfume legal e comprar
25. comprar um hd externo
26. comprar - e manter com bateria, tentando levar comigo - um celular
27. comprar um mp3
28. comprar uma panela de pressão (e usar)

casa e organização:

29. colocar os quadros na parede do apartamento
30. fazer duas saídas de gás, uma para o fogão, outra para o chveiro (ou pagar alguém que faça)
31. colocar os lustres em todas as peças do apartamento
32. manter a escrivaninha organizada por 1 mês
33. obter os vídeos que tem eu e o desenho crianças e passar pra DVD
34. fazer um jardinzinho nas sacadas e tentar manter as plantas vivas por pelo menos 3 meses
35. fazer um móvel para organizar os livros bacanas e porta-retratos (mandar fazer)
36. organizar em um quadro ou porta-retratos as fotos lúdicas em que aparecem eu e o desenho crianças
37. organizar os panfletos e cartões de visita deixados na caixinha de correio
38. colocar os acabamentos nos banheiros do apartamento
39. colocar azulejos retrô no lavabo
40. iniciar uma horta de temperos (e mantê-los vivos por pelo menos 3 meses)
41. colocar moldura no quadro do maradona e nos outros de buenos aires
42. mandar reformar o quadro do meu pai e colocá-lo na sala de jantar
43. dar um destino a tudo o que ainda está na casa da minha mãe
44. comprar uma nova jarra para a cafeteira
45. consertar o atari
46. colocar um espelho no banheiro
47. tirar o pó das estantes e dos livros pelo menos uma vez a cada 6 meses
48. passar jimo em todos os móveis de madeira da casa uma vez por ano, no inverno
49. terminar de catalogar todos os livros
50. organizar os arquivos de TODOS os computadores (o meu, o do desenho, o notebook e os dois velhos que não mais funcionam), deletando o que não for mais necessário e dando destino ao que ainda presta
51. montar uma estação de trabalho para fazer os meus desenhos
52. passar o aspirador em todo o apartamento toda semana por pelo menos 3 meses

hobbies e lazer

53. terminar de ver a novela tieta
54. assistir pulp fiction
55. levar a marina em uma festa
56. escrever pelo menos uma história em quadrinhos
57. fazer um álbum de fotografias da viagem ao rio de janeiro
58. reformar pelo menos 3 móveis (0/3)
59. fazer um caderno de receitas customizado
60. ler 3 livros recomendados pelo mário (0/3)
61. terminar de ler "o homem sem qualidades"
62. fazer um abajur
63. criar uma fotonovela
64. escrever um artigo sobre seriados negros norte-americanos, com classificações
65. jantar em pelo menos 3 restaurantes onde nunca estive (todos em porto alegre) (2/3)
66. assistir a todas as temporadas de the big bang theory que saírem até o fim do projeto
67. assistir a todas as temporadas de two and a half men que saírem até o final do projeto
68. assistir a todas as temporadas de everybody hates chris que saírem até o final do projeto
69. fazer uma escultura

viagens:

70. conhecer nova iorque
71. conhecer três cidades brasileiras que ainda não conheço (0/3)
72. voltar a buenos aires
73. fazer turismo de estádios em pelo menos 3 cidades (0/3)
74. conhecer montevideo
75. passar um reveillon em são paulo
76. voltar ao rio de janeiro e vivenciar tudo como se fosse uma novela

metas e desafios:

77. ter um "amigo internacional"ou receber um estudante de intercâmbio
78. assistir a todos os filmes de woody allen
79. colocar pelo menos 50 reais na poupança todo mês (2010/2011/2012/2013)
80. aprender um prato novo todos os meses por pelo menos seis meses (0/6)
81. me hospedar em um hotel em porto alegre (e ir de táxi)
82. dizer "oi" pro júlio e pra regina
83. ler 3 livros em inglês em um ano (0/3)
84. aprender 5 receitas que possam ser servidas em ocasiões especiais, independente do nível de dificuldade (0/5)

profissional:

85. escrever pelo menos 3 capítulos da tese de doutorado
86. publicar minha dissertação de mestrado (ou, pelo menos, revisá-la para isso)
87. escrever um artigo sobre literatura
88. ter mais disciplina de trabalho - ir ao arquivo todos os dias úteis por pelo menos 1 mês

por fim:

89. tarefa secreta
90. decidir se quero fazer isso de novo.

9.8.10

119. graphic novels

estou terminando de ler persépolis.
não tinha muita vontade de ler particularmente esta graphic novel, não sei bem o porquê. acho que porque tudo o que eu tinha ouvido falar, ao menos sobre o filme, era sobre a revolução iraniana.
bom, eu até, como historiadora, me interesso pela revolução iraniana, mas estava com um certo ranço porque queria que os quadrinhos tivessem um outro sentido pra mim, distinto da minha profissão. tenho conhecido muita gente chata na minha profissão e só de pensar em história me sinto um pouco constrangida e incomodada.
mas o que me surpreendeu é que ela é mais uma graphic novel com caráter autobiográfico e cotidiano. bem, na verdade disso eu já sabia - já sabia que era a história de vida da própria moça que escreveu. mas fiquei bastante surpresa, positivamente, com o modo como ela descreveu a própria vida, ainda mais porque, ainda que cotidiana, a gente tem de concordar que o cotidiano em um país em guerra é bastante "diferente". as outras graphic novels que eu tinha lido, que têm esse mesmo tom autobiográfico, falam da vida de pessoas, embora em desacordo com o restante do mundo, muito comuns. tá, isso não é uma coisa ruim, mas é bastante simples ocorrer alguma identificação com essas pessoas. o estranho é se identificar com uma iraniana, sendo que tu não passa de uma brasileira.
a marjane satrapi, autora do livro, é muitíssimo feliz em descrever o encontro de culturas distintas. ela foi criada no irã, mas num irã até certo ponto ocidentalizado. ela estudava numa escola laica francesa, por exemplo. quando a revolução acontece, muitas pessoas são presas e perseguidas, inclusive parentes e amigos dela. muitos são executados. então, começa a guerra contra o iraque e teerã é bombardeada muitas vezes. a vizinha dela morre num desses bombardeios. aos 14 anos, os pais acham melhor mandá-la pra estudar na europa, antes que se meta em alguma confusão. então, ela se torna uma iraniana, com hábitos tradicionalistas (sobre relacionamentos, por exemplo), em viena. e uma estrangeira na europa. obviamente, ninguém está nem um pouco interessado nela. por outro lado, enquanto ela procura se integrar aos hábitos ocidentais, indo a festinhas, lendo sobre autores anarquistas e existencialistas e fumando maconha, se sente culpada e fútil ao ver as notícias de seu país em guerra. sente que abandonou seus pais pra viver uma vida despreocupada e falsamente politizada na europa.
quando retorna ao irã, porém, também não consegue se integrar novamente. suas amigas pensam que ela é uma puta por já ter tido algumas experiências sexuais e não consegue viver sob as normas fundamentalistas que o estado lhe impõe. ela é uma mulher independente, que, mais uma vez, não encontra seu lugar.
achei muito legal porque talvez ela tenha - não necessariamente de propósito - explicitado um pouco dessas experiências na fronteira entre culturas. quer dizer, nem sempre o problema dela na europa estava relacionado a algum tipo de preconceito dos europeus contra os iranianos terceiro-mundistas. muitas vezes era só o modo como os europeus enquadravam as questões políticas, que evidentemente não poderia ser o mesmo modo que ela enquadrava, já que o país dela estava em guerra etc etc etc.
tenho discutido com o desenho como as graphic novels são lugares privilegiados pra gente entender coisas. diferente de um romance mesmo, só em texto, ou de um filme, um romance em quadrinhos proporciona um outro tipo de envolvimento com os personagens. bom, talvez proporcione apenas a mim, mas o fato é que a forma de narrar se torna outra, necessariamente. o que vai no texto e o que vai no desenho são coisas diferentes e complementares... eu acho que a pessoa tem de ser muito, mas muito boa pra conseguir fazer uma coisa dessas, e ainda manter a singeleza e a complexidade dos acontecimentos.
o fun home, da alison bechdel, por exemplo, cita diversos autores como tentativa de compreender a própria história e a do pai, que era homossexual e enrustido e depois se matou. mas esses autores não aparecem de modo maçante, como a academia e os chatos da academia gostam de fazê-los aparecer. eles estão totalmente integrados a um texto que narra uma história de vida e a desenhos que também têm o mesmo papel.
fiquei cobiçando escrever alguma história (pequena) deste tipo.

2.8.10

118. everybody hates chris

estou meio que viciada neste seriado. e estou apaixonada pelo chris rock.
já tinha visto algum filme muito trouxa dele e não tinha gostado, apesar dele ser super gatinho. mas agora que amo o everybody hates chris e vi que é dele, comecei a gostar dele de um outro jeito.
faz algum tempo que acompanho seriados negros americanos, embora sem nenhuma sistemática. acho que esse é imensamente feliz no trato do preconceito: é um tema complicadíssimo e que, se tratado de maneira conveniente, dificilmente pode ser engraçado, na minha opinião. quer dizer, é um assunto duro de manter sério, ao mesmo tempo em que tenha uma proposta de humor.
mas o chris rock, pelo menos tudo o que vi até agora, é imensamente sensível e doce, com um bom humor de alto nível. ele é engraçadíssimo, mas as situações engraçadas do seriado não te fazem achar que não houve alguma dor ou sofrimento.
correndo o risco de que ela leia isso, acho que a minha mãe é muito parecida com a mãe do chris (sim, margarida, tu grita demais). eu me identifico imensamente com os assuntos tratados nos episódios, inclusive algumas coisas pras quais às vezes meus colegas historiadores se mostraram muito pouco sensíveis.
uma delas é sobre ser pobre. eu lembro que quando entrei na faculdade tinha sérias dificuldades pra fazer certas coisas porque, well, eu morava em ALVORADA e trabalhava no turno da tarde. não gosto de fazer chororô de memórias, basta enfatizar que em diversos momentos me envolvi em situações em que as dificuldades inerentes ao local onde eu vivia ou à situação econômica da minha família não eram compreendidas satisfatoriamente. e eu acho que o chris ganha justamente nisso: sem fazer chororô de sua própria condição, ele aponta todos os momentos em que as coisas não eram tão simples. mas por não serem simples, não significa que fossem terríveis: eram boas, caralho.
outra coisa: sim, ele era negro e pobre e tinha uma família unida e bacana, com inúmeras imperfeições,  dificuldades financeiras e tal, mas uma família de que ele gostava. e ele era negro e pobre, mas sabia escrever com perícia, isso não era uma contradição. talvez muita gente não acredite, mas é verdade.
mais um ponto positivo: o cara pode ser pobre e ser soberbo e a sua família não querer se misturar com outros pobres. isso pode acontecer. e pode acontecer de o teu pai até poder fazer uma certa coisa pra ti, que seria legal pra ti se ele fizesse, mas tu não querer que ele faça por alguma estranha sensibilidade que te leva a considerar tudo o que ele JÁ FAZ e todas as dificuldades pelas quais ele passa e o quanto, por conta dele, tu pode ser alguém tão privilegiado em relação aos teus vizinhos. quer dizer, não é que ele próprio tenha se negado, mas tu mesmo reconhece que, diante de tudo o que ele faz e de tudo o que tu sabe sobre a tua própria família, tu sabe que não pode pedir mais isso a ele. nem que esse isso seja algo aparentemente ínfimo.
o chris mostra com muita sensibilidade todos esses momentos em que ele simplesmente decidiu compreender o pai dele, ou a mãe. em que toda uma história familiar vem à tona. e também que nada disso é ruim, meu. isso é ótimo, por isso é tão possível ser feliz, mesmo que a tua casa realmente feda a fábrica de sabão. fede, mas tu não faz chororô, não tem nada demais, tu teve uma ótima infância, ótimos pais - apesar dos gritos e maluquices, tu sabe que eles são boas pessoas e bem intencionadas e que fizeram de tudo pela tua educação, para garantir teu futuro.
o everybody hates chirs é o que há, no momento. não quis me comparar a um negro americano que vivia no bronx nos anos 80 e acho que isso ficou claro. a minha identidade é com as inúmeras situações familiares e escolares mais genéricas. ah, na real, não importa dizer qual é a minha identidade, apenas que há. não gosto de falar assim sobre a minha vida, justamente porque é o modo chato de falar da vida. o modo legal é o modo do chris: com senso de humor, rindo de si mesmo, com senso crítico também e com um fantástico entendimento sobre as posições das pessoas que te rodeavam. esse seriado é o que há.
e sobre preconceito: ele é o melhor de todos. chris rock, eu te amo. são pessoas reais que sofreram preconceito. basta dizer isso. pessoas que viviam coisas muito ruins, mas que reconheciam que seus pais viveram coisas piores, e se mostravam sensíveis a isso. quer dizer, ele dá conta de uma certa história familiar dessas vivências, mostrando a formação de um senso de união, de identidade.
chris rock é o que há.

14.7.10

117. surabaya johnny, do happy end

Surabaya Johnny
Ich war jung, Gott, erst sechzehn Jahre
Du kamest von Birma herauf
Und sagtest, ich solle mit dir gehen
Du kämest für alles auf
Ich fragte nach deiner Stellung
Du sagtest, so wahr ich hier steh
Du hättest zu tun mit der Eisenbahn
Und nichts zu tun mit der See
Du sagtest viel, Johnny
Kein Wort war wahr, Johnny
Du hast mich betrogen, Johnny, in der ersten Stund
Ich hasse dich so, Johnny
Wie du dastehst und grinst, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
Zuerst war es immer Sonntag
So lang, bis ich mitging mit dir
Aber schon nach zwei Wochen
War dir nicht nichts mehr recht an mir
Hinauf und hinab durch den Pandschab
Den Fluss entlang bis zur See:
Ich sehe schon aus im Spiegel
Wie eine Vierzigjährige
Du wolltest nicht Liebe, Johnny
Du wolltest Geld, Johnny
Ich aber sah, Johnny, nur auf deinen Mund
Du verlangtest alles, Johnny
Ich gab dir mehr, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund.
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
Ich hatte es nicht beachtet
Warum du den Namen hast
Aber an der ganzen langen Kste
Warst du ein bekannter Gast
Eines morgens in einem Sixpencebett
Werd ich donnern hren die See
Und du gehst, ohne etwas zu sagen
Und dein Schiff liegt unten am Kai
Du hast kein Herz, Johnny
Du bist ein Schuft, Johnny
Du gehst jetzt weg, Johnny, sag mir den Grund
Ich liebe dich doch, Johnny
Wie am ersten Tag, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so

13.7.10

116. suspiria, 1977, dario argento

próxima quinta-feira, dia 15 de julho, às 21hs, aqui no telão do azulão: exibiremos "suspiria", de dario argento.

12.7.10

115.

eu não faço mais parte desta casa de gente louca e esquizofrênica.
não quero mais que venham até mim trazendo suas loucuras. quero me curar.

6.7.10

114.

113. a caça à raposa

a caça à raposa era o momento ideal para estreitar os vínculos com os ambiciosos filhos do barão. isso demonstrava interesse, por parte de reveillon, pelas seculares tradições britânicas. além disso, unia o trabalho à prática desportiva, criando um momento de agradável descontração no qual ele podia dar o bote.
conversa vai, conversa vem, uma raposa foi abocanhada por um perdigueiro. literalmente também. mas em sentido metafórico, reveillon, ágil e experiente perdigueiro, conseguiu se aproximar do filho do meio do barão de oxfordshire, ardiloso empresário em londres, uma raposa.
marcaram um jantar em um luxuoso restaurante francês da região - o filho do meio também reconhecia as tradições gastronômicas francesas.
já chegava o fim do jantar, a noite estava avançada, ambos bebericavam licores, quando...
- hahahaha - o filho do meio ria, um pouco confuso - eu ainda prefiro colocar leite no meu chá, sim, reveillon!
- então é verdade que há um quarto filho do barão que desapareceu há muitos anos?
- sim, é verdade... o que?! como você soube? seu... seu...

o filho do meio sentiu-se vilipendiado.

1.7.10

111. i want her she wants me

110. a retomada lenta da tese

retomarei o ari martins esta semana. mais cedo ou mais tarde vou ter de sentar e refletir sobre essa fonte, que eu considero ao mesmo tempo fascinante, cheia de possibilidades, e tão complicada de trabalhar.
nada melhor para pensar sobre ela do que utilizá-la, penso eu. recortei meu período. por ora, vou trabalhar com a década de 1900, apenas. e já é muito! além do mais, foi a década em que homero prates, álvaro moreyra e felipe d'oliveira ainda viviam em porto alegre, e trabalhar com o livro do ari martins vai ser importante pra conhecer o campo literário porto alegrense (gaúcho, quiçá) durante este período.
a grande questão é que todo mundo usa o livro dele - ótimo, diga-se de passagem - com a única finalidade de buscar uma outra referência sobre um ou outro escritor. era exatamente o uso que até agora eu vinha fazendo dele.
entretanto, penso que essa é uma fonte muito mais rica. é um banco de dados, e como todo banco de dados pode ser utilizado de variadas formas. não consta nele unicamente informações sobre escritores, mas também sobre editoras, números de publicações, cidades onde mais se publicava etc. o problema é que este banco de dados, embora contenha estas informações, não foi pensado para fornecê-las. não há, ainda, nenhuma nota sobre como o autor produziu seu banco de dados - buscou referências onde? jornais, revistas? quais? outras obras? de quais autores? bibliotecas particulares? de quem? há outros documentos de referência? se sim, quais?
tudo isso seria crucial para saber que tipo de fonte ele JÁ consultou e que outras ficaram pra trás - até por não servirem ao objetivo central da obra.
além disso, como banco de dados, se presta pra algumas coisas, mas não pra outras, e é muito importante saber direitinho pra que ele serve e pra que ele não serve. sim, ele possui todas aquelas informações. mas ele não conta, por exemplo, com publicações de escritores não gaúchos, mas que publicaram por editoras daqui. hoje em dia, nem sei mais que tipo de fonte eu poderia utilizar para descobrir esses dados, mas de todo modo seria crucial para retirar o caráter restritivo que a obra acabou tomando - obviamente isso não chega a ser uma crítica, já que construir um bando de dados desta monta sem computador é um grande, grandessíssimo feito.
entretanto, pensando nas perguntas que podem ser feitas hoje, no atual estado de ânimos da história dos livros, da leitura, intelectual, das ideias, cultural, social da cultura ou seja lá que tipo de história se pense em fazer que vise recuperar informações sobre o campo intelectual e editorial no rio grande do sul do passado, uma pergunta bastante relevante seria a de que porcentagem de autores nascidos fora do rio grande do sul, ou moradores de fora do rio grande do sul, chegaram a publicar por editoras daqui. isso não é possível descobrir com o livro do ari martins.
outro aspecto controverso com o qual é preciso lidar é o fato de que nem todas as informações constam em todos os registros (por exemplo, editora, cidade etc) e não há nenhuma explicação para tal ausência. seria falta de fontes? ou o livro não foi mesmo publicado por nenhuma editora ou tipografia (nenhuma tipografia "assinou" a edição do livro), como podia acontecer no século XIX?
se, por um lado, não há informações - não completas e sistemáticas, ao menos - de autores não gaúchos que publicaram no rio grande do sul, por outro lado há referência a publicações de autores gaúchos em outros estados. o que não foi informado é o local onde o ari martins localizou tais informações, ou que critérios utilizou para incluir estes escritores e não outros - já que, evidentemente, ele não buscou todos.
bueno, por enquanto é só o que sou capaz de pensar... quando estiver com todos os dados quem sabe faço algum comentário sobre isso aqui ;)

30.6.10

109. ironia

hoje estava lendo um blog sobre animais resgatados na rua e acolhidos em casas de passagem até que alguém os adote.
eram vários casos, gatos, cachorros, com doenças, castrados etc. lá pelas tantas surgiu a irônica história de um cão chamado beethoven. beethoven foi internado numa clínica e, lá, brigou com outros cães, tendo seu ouvido mutilado. a veterinária responsável, ao que parece, não tomou as providências necessárias e ele acabou mesmo surdo de um ouvido.
achei super irônico isso. parece que o nome o amaldiçoou.

108. o desenho escaneou o desenho pra mim

e por isso a imagem aparece melhor agora. mas ainda não fiz os acabamentos.

28.6.10

106.

cornichon e a família costumavam passar o fim do outono e o começo do inverno na casa de campo de reveillon, na baixa normandia. o outono era ameno e suave, ideal para reunirem-se, tratando de negócios e também do ócio do fim da estação.
desta vez, porém, reveillon esperava ainda uma ilustre presença, que talvez surpreenderia seus antigos convidados. seus negócios em sussex estavam prosperando. já havia chegado a hora.
na manhã seguinte ao suntuoso e perplexo jantar, porém, reveillon recebera cedo um telefonema de rye. a viscondessa de chichester exigia sua presença com urgência, pois tinha um assunto muito sério a ser tratado com ele. segundo ela lhe adiantara, tratava-se da doença do barão de oxfordshire. seus três filhos disputavam o controle majoritário das empresas, coisas do dia-a-dia. o ideal é que reveillon se tornasse íntimo de cada um deles.
sem esperar mais, reveillon tomou o primeiro trem. reencontrar a viscondesa de chichester era sempre magnífico. e, ardilosa como era, ela devia já estar ajeitando as devidas situações para o estabelecimento dos vínculos estreitos com a prole do barão de oxfordshire. ah, o reencontro com a viscondessa de chichester...

25.6.10

105. um dia no centro de porto alegre 2

fiquei tão empolgada em narrar o trajeto do C3 que esqueci o objetivo central deste post. fui até um café do centro esperar pela minha prima. para não usufruir do espaço sem nada consumir, optei por pedir um expresso. logo após pedir, solicitei um banheiro onde eu pudesse lavar as minhas mãos.
- ali atrás tem um. pode usar.
a primeira coisa que vi foi uma barata sendo comida por formigas. horrível a cena, mas já era de se esperar que estabelecimentos servindo comida no centro da cidade fossem acometidos por esses males. porém eles bem que podiam ter varrido a barata dali, né?!
imediatamente lembrei do expresso que havia pedido. em outros tempos, quando eu era mais inocente do que sou agora, eu pensaria que a máquina de café garantiria a intergridade sanitária do mesmo. mas após lembrar do café, lembrei da priscila:
- tu sabia que é comum encontrarem pedaços de baratas em máquinas de café? uma vez uma guria vomitou por causa disso.
não, eu não sabia, e preferia nunca ter ficado sabendo disso. a história inteira conta que insetos de tipos e tamanhos variados costumam se aglomerar em máquinas de bebidas - não apenas as de café, mas também é comum nas de refrigerante.
resolvi sentar numa mesa de frente pra rua e esquecer dessas histórias todas. esperei estoicamente pelo tal café, que foi trazido em seguida por uma atendente de mãos muito, mas muito molhadas (o que não quer dizer limpas). ao inclinar-se ao meu lado para depositar a xícara sobre a mesa, ela olhou muito de perto e com os olhos muito fixos em mim e disparou:
- onde que tu mora?
fiz que não ouvi, agradeci. ela se aproximou de novo, inclinada, e, mais uma vez:
- onde que tu mora?
como assim onde eu moro? senti-me ameaçada.
- moro em porto alegre.
- ah tá... é que tu parece com uma guria lá de alvorada.
- é que eu já morei em alvorada.
- então é isso.
era só isso. a mulher me conhecia de alvorada.

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sendo vitimada pelo expresso, acompanhava o movimento na rua.
uma mulher que tinha por volta de quarenta anos e que provavelmente trabalhava em outra espelunca insalubre das proximidades, vinda provavelmente, em condições péssimas de transporte, de alguma cidade da periferia da região metropolitana, parou diante do tal café onde eu estava e, fumando um cigarro, buscou o contato com a atendente de mãos molhadas que havia me atendido.
- e aí... - de vez em quando ela assoprava fumaça pra cima, meio rindo, meio tremendo - o meu amigo nunca mais apareceu aqui.
- ah não?
- não... o que será que houve? - já mencionei que havia uma certa e quase imperceptível tensão nessa mulher, que se manifestava com um tremelico no canto da boca, enquanto ela fingia sorrir?
- ah... tem gente que não vem muito seguido pro centro...
- pois é...
ela ainda fumava. dava pra ver que ela estava totalmente interessada naquele assunto, mas a outra não. dava pra ver que era um assunto realmente importante pra ela. de repente:
- ele até me deixou o telefone... mas eu não quero ligar. acho chato gente que fica em cima, insistindo...
o sorriso nervoso persistia. o sorriso falava mais do que ela. era uma mulher com uns quarenta anos, teria ainda pouco tempo de se arrumar com alguém. e esse cara parecia estar dando bola pra ela, parecia mesmo, ela alimentou esperanças. ela acreditou que era isso e isso talvez tenha feito a vida dela ser melhor. mas o cara simplesmente nunca mais apareceu.
- se ele não aparecer mais, vou ligar.
ela sabia que ele não queria nada com ela. mas ela não podia se confrontar com essa verdade. ela sabia que não devia ligar, mas precisava fazer alguma coisa por aquilo. o centro de porto alegre pode ser muito profundo.

104. um dia no centro de porto alegre

desde que me mudei para o bom fim tenho recorrido bem menos ao centro de porto alegre, já que aqui nas redondezas se encontra quase tudo que se precisa - e ainda há muuuuitas lojas de um e 99 espalhadas por aqui!!
ontem, entretanto, precisei ir comprar uns tecidos para estrear minha linda máquina de costura, recém adquirida. obviamente, peguei o C3, apesar de demorar uma boa meia hora para chegar ao centro - com outros ônibus da osvaldo eu chegaria em 5 minutos. mas é uma demora que vale muito a pena pelo caminho percorrido. sempre que tenho oportunidade, pego o C3 e aprecio seu percurso exuberante. ei-lo:
eu moro bem ali na fernandes vieira. pego o C3 na frente de casa e começo aproveitando as belezas da osvaldo aranha, por onde o ônibus cruza a fim de se dirigir à josé bonifácio.


em geral, os ônibus daqui que vão direto para o centro, seguem pela osvaldo, atravessam o viaduto, e já estão lá. mas o C3 não. o C3 se preocupa com a beleza do trajeto, mesmo que mais longo e sinuoso. em vez de entrar na osvaldera, ele vai pela josé bonifácio, diante do parque da redenção. aprecio, neste momento, olhar rapidamente para os dois lados, tanto o lado do parque quanto o lado das casas e prédios, pois ambos são belos.


o C3 continua fascinante pela venâncio aires até chegar na joão alfredo, que é um dos pontos altos do percurso.

detonado, mas é um casario muito bonito. antigamente, essa região ficava na margem do guaíba. saindo da joão alfredo, atinge a avenida loureiro da silva, de onde se pode ver a ponte de pedra.

e, finalmente, entra no centro. mas entra pela parte alta do centro, começando pela fernando machado. pra chegar no centrão mesmo, ainda vai demorar um pouco. mas a fernando machado vale a pena. vale muito a pena. primeiro porque hoje em dia ela é bonita. segundo, porque no passado foi ali que aconteceram os crimes do linguiceiro. pra quem não sabe, a fernando machado é a rua do arvoredo. e foi na rua do arvoredo, no século xix, que um açougueiro fazia linguiça com carne de gente. sempre achei essa história fascinante.

aí está a fernando machado hoje, em dia, com seus casarios e a feira do caminho dos antiquários - porque, obviamente, nessa rua há muitos estabelecimentos que vendem antiguidades. mas em 1864 foi aí mesmo nesta simpática ruazinha que um açougueiro esquartejava pessoas e usava suas carnes para fazer linguiça, que depois, of course, vendia no açougue. reza a lenda - viu, andrea, aqui também temos nossas lendas, sem títulos de barão, mas com muito sangue! - reza a lenda que a mulher do açougueiro, que era do leste europeu, era lindíssima e atraía as vítimas para as garras do marido. e também reza a lenda que as carnes daquele açougue eram apreciadíssimas pela população. bom, da fernando machado, o C3 passa pela frente da usina do gasômetro e chega na duque de caxias, até a praça da matriz, passando pelo teatro são pedro. adoro essa primeira casa logo aqui abaixo. está sempre fechada, velha e caindo aos pedaços, e com um gol 1.0 na frente. quem será que a habita?
aí passa pela biblioteca pública, pelo arquivo público, pelo hipólito - todos lugares onde costumo ir pesquisar. e chega na praça da alfândega, onde normalmente eu desço.

realmente, vale a pena demorar meia hora, em vez de 5 minutos, pra pelo menos apreciar o caminho. nada a ver isso de transporte meramente instrumental.
peço desculpas aos fotógrafos que não mereceram seus créditos neste post. não consegui acompanhar meu próprio ágil pensamento, a ponto de recolher os linques de onde as fotos foram tiradas.

23.6.10

103. desenho mais ou menos finalizado

falta colocar uma moldura e fazer uns acabamentos.

102. um peru, ao acaso

este peru estava desenhado num mapa do século xvi. bonito, né?
o que mais fascina em gravuras de mapas antigos é que, muitas vezes, coisas corriqueiras parecem absolutamente monstruosas. também gosto das desproporções. um monte de arvorezinhas bem pequenas e um peru imenso, horroroso, pisando firme sobre a terra.
e o que passou na cabeça do cara que julgou que o melhor que ele tinha a fazer era pôr um peru no mapa? qual a importância simbólica deste maldito peru, totalmente fora de contexto, em cima dum mapa? o que esse peru representava?

101.

o síndico não aguentava mais tanta pressão.
não era só o problema dos interfones dos apartamentos de baixo, nem só a sua doença. que era incurável ele já sabia há três meses, mas tinha decidido não se importar e aproveitar os últimos momentos de sua trágica vida. mas de tão trágica, ela ainda havia lhe preparado uma nova e inesperada surpresa, chegada pela boca suja e malcheirosa daquele engenheiro que viera na semana passada.
a imobiliária que administrava o condomínio estava em cima dele. os outros moradores queriam a solução de seus pequenos e mesquinhos problemas. que se fodam os interfones deles. que se foda o vasamento. que se foda, porra. idiotas. achavam que era só fazer mais um ou outro remendinho com massa corrida, que era só chamar qualquer vira-lata da rua pra fazer o conserto. não sabiam merda nenhuma sobre essa porra de prédio. e da vida dele.
o engenheiro tinha sido súbito e irreversível como o médico. toda a estrutura já estava comprometida, não havia esperanças. "o prédio ainda está pior do que eu. não dura seis meses." o que dizer aos vizinhos? eles acreditavam nas suas vidas tão pequenas, eles acreditavam na importância imensa de alguns pequenos reparos. eles não conheciam aquilo que não pode mais ser de outro jeito, só conheciam o dia que passa e tudo se resolve.
seus vizinhos que acenavam tão inocentemente uns para os outros não sabiam verdadeiramente nada sequer sobre suas próprias vidas. não tinham consciência da morte. o que dizer a eles, meu deus?! como resolver um problema tão inescapável na mediocridade mundana de uma reunião de condomínio?!?
após comprar o pão, antes de chegar em casa, passou na imobiliária. na próxima semana, às 17hs, seria a reunião fatídica. e pontualmente ele compareceu, como se precisasse de todos os minutos. solene e pragmático, deu o aviso final a todos.

22.6.10

100. cobiça oficial

fiquei cobiçando MUITO este livro.



mas há mais, minha gente. muito mais. há pérolas nesta internet que eu gostaria muito de ter comigo em casa.
ei-las:

99.

m. vivia há seis meses no hotel othon, em copacabana. em apartamento de frente, muito fino. sentia um certo constrangimento por isso, tanta gente pobre, cagando na rua, ele com vista pro mar, com tudo pago. mas, caralho, ele não ia cagar na rua também se não tinha porquê. cagava bem, em trono caro, limpo todo dia pelos empregados do hotel. só cagava em banheiro cheiroso, de preferência com bidê. só pro caso de ser preciso, não que fosse sempre preciso, mas, porra...
porra era essa fernanda, do buteco na gustavo sampaio. não queria colaborar, não devia se meter. desde o princípio ele havia dito, isso era negócio dele, era coisa dele, ela que cuidasse de servir cachaça. mas essa fernanda intrometida, enxerida, querendo saber demais, querendo saber do hotel, do dinheiro, dos empregados, do bidê, de tudo. ele também era burro, burro demais. não devia aparecer mais no boteco, então, se ela tava incomodando. mas tava gostosa, servia aquela cachaça sempre rebolando, aquela bunda, ah, aquela bunda.
chega de pensar em fernanda. hoje tinha que dar um pulo no catete, ver o que os caras iam arrumar pra ele. o telefonema de ontem foi meio fora de hora, mesmo pro padrão deles. não tinha padrão. mas foi estranho, todo o tom da conversa, mais mistério do que de costume. tinha caroço nesse angu. m. não era mais tão novo, já tinha vivido de tudo, já tinha cagado na rua. o que estavam arrumando pra ele agora?

21.6.10

98.

o jantar seguiu tenso, apesar das inapropriadas intervenções pretensamente lúdicas de vuvuzella. apenas ele não sabia da expectativa que cercava a chegada de reveillon.
o carré de cordeiro estava fabuloso. para a sobremesa, foram encomendados tenros morangos da aquitânia, que vuvuzella comeu com indecência. madame d'abajour bem o notou.
já menos tensos após a segunda rodada de licores de noz e framboesa, todos recolheram-se sonolentos e com a leveza desproporcional de um "que se dane". não importavam mais, não naquele microinstante, as grandes revelações de reveillon. apenas importava sentir o linho outonal dos lençois nas costas, como quem sentisse um cheiro, ou como quem continuasse sentindo os prazeres da mesa recém abandonada. só queriam ter mais um pouco dos fugazes prazeres que a pele podia sentir antes da ruína anunciada.
ninguém tinha certeza do que reveillon vinha trazer à tona, mas, como todos tinham seus pecados e ninguém confiava em ninguém, cada um sabia que podia ser agora. podia ser desta vez que tudo viria abaixo.
apenas vuvuzella relaxou na inocência dos trouxas. sequer percebera o quanto era indesejado naquela casa. deitou-se e logo dormiu um sono profundo, sem sonhos, apenas sensações. ninguém mais desfrutou de tal ventura naquela noite.

97. dunga: o contrapoder da televisão brasileira

o dunga está definitivamente ahasando nesta copa do mundo. além de manter um comportamento ambíguo (treinador de futebol gaúcho e - tido como - grosso e usando terno herchcovitch, por exemplo...), ele tem xingado os jornalistas esportivos, o que muito me compraz.
podem alegar que foi falta de educação, indelicadeza (!) e outras coisas do gênero, mas o fato é que jornalistas (não apenas esportivos) têm o incrível poder de destruir reputações com poucas palavras, por mais educadas e delicadas que elas possam parecer. e, como não há a possibilidade de criação de um órgão que regule esta atividade, já que os próprios jornalistas se aproveitam do grande espaço de que dispõem na vida das pessoas para alegar que tal órgão seria um instrumento de censura, eis que esta profissão aparece com grande penetração social e podendo agir mais ou menos como bem entender sem maiores consequências. um bom exemplo disso é o recente caso do antropólogo eduardo viveiros de castro e a revista veja, que teve grande repercussão nos meios acadêmicos, mas que muito provavelmente só chegou ao público mais amplo na forma da péssima reportagem da revista sobre a antropologia e as terras indígenas. ou seja, por mais que viveiros de castro venha a processar a veja pelo que foi (mal) dito a respeito da produção intelectual que ele passou a vida construindo, nada vai mudar o fato de que a reportagem saiu e a denegriu. no caso de outras profissões, atitudes similares seriam obviamente punidas, com, por exemplo, a perda do registro profissional do indivíduo que fizesse mal exercício do seu diploma - é o que ocorre com médicos que, por displiscência, acabam tirando a vida de seus pacientes.
os jornalistas não admitem que um conselho que fiscalize como sua atividade profissional vem sendo exercida seja criado, ainda que este conselho seja composto por seus próprios companheiros de profissão, e não por funcionários do estado, alegando que isso seria um retrocesso à censura, tal qual ocorria na ditadura militar. a ditadura militar brasileira (que, diga-se de passagem, não inventou a longa história de censura no brasil) é utilizada estrategicamente (e apenas estrategicamente) para simbolizar um demônio que devemos combater. mas, ao chamar de censura o que seria a fiscalização de uma profissão, acabamos nas mãos de um outro tipo de ditadura, já que não é possível, não há instrumentos eficazes para combater o mal jornalismo que anda por aí. a liberdade de imprensa foi uma vitória, sim, conquistada por muita gente que nunca entrou na redação de um jornal e que hoje é classificada, inclusive pela imprensa, como "comunistas baderneiros". e a liberdade de imprensa não existe, até onde eu sei, para que os jornalistas tenham o direito de agir irresponsavelmente sobre as vidas de outras pessoas.
como disse o bourdieu, o jornalismo é um assunto muito sério. e parece muito sério também todo o apoio popular que eu tenho visto o dunga recebendo pelas suas atitudes "mal educadas" nas coletivas após os jogos do brasil. parece também bastante sério o "cala a boca, galvão" que ganhou o mundo. não parece que só o dunga tenha percebido o que um jornalista pode fazer sobre uma reputação - e o que muitos deles têm efetivamente feito. é uma pena que a globo utilize a concessão que ganhou do estado brasileiro para tentar sair de vítima nesta história. se o dunga tem apoio, é porque as pessoas realmente não aguentam mais o jornalismo brasileiro. seria mais produtivo se fizessem (não apenas a globo, mas todo o campo jornalístico brasileiro, que conta com muitos profissionais sérios e interessados) uma crítica de sua responsabilidade e dos usos de sua profissão. mas uma crítica séria, não uma falsa adesão, como no caso do "cala a boca, galvão".
como isso está bem longe de acontecer, deixo o recadinho do nosso querido dunga, que ganhou merecidamente a minha torcida nesta copa.



e também deixo uma leitura de cabeceira para orientar o pensamento sobre tudo isso. a tv precisa de um contrapoder.

Pierre Bourdieu Sobre a televisão (seguido de A influência do jornalismo e Os jogos olímpicos)

16.6.10

96.

comentários sobre a primeira rodada da primeira fase da copa.


uruguai x frança



grécia x coreia do sul

neste match evidenciou-se a histórica fragilidade da composição defensiva grega. problema crônico, fora já apontado, ao menos em uma oportunidade, por platão, em seu diálogo teeteto.

alemanha x austrália

massacre teuto-brasileiro sobre a seleção formada pelos jogadores mais feios do mundial. a alemanha, de fato, colhe os frutos de ter sido a única seleção que treinou antes do mundial.


nova zelândia x eslováquia

se, por um lado, a seleção eslovaca jogava futebol pela primeira vez, a nova zelândia confundiu-se e acabou enviando à áfrica do sul seu selecionado de rúgbi.

itália x paraguai

este jogo não foi engraçado.

brasil x coreia do norte


dunga 1 x 0 jornalista

espanha x suíça

a espanha é a zebra ao contrário. como sempre.

14.6.10

95. a regra é clara?

tenho assistido aos jogos da copa e reparado num grande problema com relação à arbitragem. o problema é a crença infundada de que "a regra é clara". não é clara, é óbvio que não é clara.
o árbitro analisa apenas o sentido locucionário dos atos dos jogadores, esquecendo-se por inteiro dos sentidos ilocucionário e perlocucionário. isso torna as equivalências de faltas bastante problemáticas, pois muitas vezes o jogador não teve a intenção maliciosa ao atingir o adversário e recebe a mesma punição, ou às vezes punição mais grave, do que o jogador que foi maldoso. eu sei que alguns árbitros têm um posicionamento em relação a essas questões, mas andei vendo coisas que poderiam levar a uma interessante análise dos cartões aplicados na primeira fase da copa.
pensei em fazer um apanhado de vídeos em que os jogadores tenham feito faltas que mereceram uma mesma punição (cartão amarelo ou vermelho), mas que, em um caso, o jogador foi maldoso e, no outro, não foi. mas é claro que isso daria mais trabalho do que estou disposta a ter.
em compensação, achei lindinho esse stop-motion do frango do green:


aliás, o site de onde ele saiu originalmente vale a pena ser visto por todos aqueles que apreciam o futebol enquanto cultura e não enquanto jogo. e também por todos aqueles que apreciam stop-motion, ou apreciam lego.

94.

jean-martino vuvuzella corria sua própria corrida.
em geral, estava entre os retardatários, mas não ligava. o importante, para ele, era competir.
para seus colegas de pista - ele era piloto de fórmula 1 - o importante era que vuvuzella não competisse. mesmo como retardatário vuvuzella era um desastre, pois provocava acidentes entre os primeiros colocados. nunca eram acidentes graves, é verdade. mas era um aerofólio aqui, um pneu ali... ninguém gostava... os torcedores dos outros países detestavam vuvuzella - e os próprios italianos achavam que ele podia desistir, pois vuvuzella já era uma vergonha para um país tão identificado com as corridas.
certa vez, por ocasião do GP da frança, vuvuzella foi recebido na residência de seu grande e velho amigo, monsieur reveillon. mais uma vez, vuvuzella chegara atrasado e, como se não bastasse, em péssima hora.
vuvuzella adentrou a sala de jantar no preciso momento em que monsieur cornichon limpava-se de vinho e todos esperavam ansiosos pelas notícias trazidas por reveillon.
surpreso com o hóspede inesperado, monsieur cornichon, ainda sujo de vinho escorrendo-lhe pelas pernas, foi até a porta recebê-lo, não sem lançar, porém, um olhar grave, gravíssimo, a reveillon.
georges bidé e madame d'abajour permaneceram paralisados, embora triunfantes pelo adiamento das grandes revelações trazidas por reveillon.
os criados prontamente levaram mais um prato à mesa. e mais outro, pois reveillon também sentou-se para o jantar e todos fingiram uma tensa harmonia durante a refeição. entre olhares, todos sabiam da inconveniência de vuvuzella.

16.5.10

93. campinas e o ben stiller

parece que só em campinas eu toco pra frente meu projeto...

2009 - Uma noite no museu 2 (Night at the museum: Battle of the Smithsonian)
2008 - Madagascar 2 (Madagascar: Escape 2 Africa) (voz)
2008 - Trovão tropical (Tropic thunder)
2008 - Marc Pease experience, The
2007 - Elmo's Christmas countdown (TV)
2007 - Antes só do que mal casado (Heartbreak kid, The)
2006 - Danny Roane: First time director
2006 - Tenacious D in: The pick of destiny
2006 - Escola de idiotas (School for scoundrels)
2006 - Uma noite no museu (Night at the museum)
2005 - Madagascar (Madagascar) (voz)
2004 - Sledge: The untold story
2004 - O âncora - A lenda de Ron Burgundy (Anchorman: The legend of Ron Burgundy)
2004 - Com a bola toda (Dodgeball: A true underdog story)
2004 - A inveja mata (Envy)
2004 - Starsky & Hutch - Justiça em dobro (Starsky & Hutch)
2004 - Entrando numa fria maior ainda (Meet the Fockers)
2004 - Quero ficar com Polly (Along came Polly)
2003 - Nobody knows anything
2003 - Duplex (Duplex)
2002 - Correndo atrás do diploma (Orange County)
2002 - Run Ronnie Run!
2002 - You'll never wiez in this town again
2001 - Os excêntricos Tenenbaums (Royal Tenenbaums, The)
2001 - Zoolander (Zoolander)
2000 - Mission Improbable (TV)
2000 - Produção Independente (Independent, The)
2000 - Entrando numa fria (Meet the parents)
2000 - Preto e branco (Black and white)
2000 - Tenha fé (Keeping the Faith)
1999 - The Suburbans - O recomeço (Suburbans, The)
1999 - Heróis muito loucos (Mystery Men)
1998 - Uma vida alucinante (Permanent midnight)
1998 - Seus amigos, seus vizinhos (Your friends & neighbors)
1998 - Quem vai ficar com Mary? (There's something about Mary)
1998 - Efeito zero (Zero effect)
1996 - O pentelho (Cable guy, The)
1996 - Procurando encrenca (Flirting with disaster)
1996 - Lado a lado com o amor (If Lucy fell)
1996 - Um maluco no golfe (Happy Gilmore)
1995 - Turma da pesada (Heavyweights)
1994 - Caindo na real (Reality bites)
1992 - Highway to Hell
1990 - A sorte no lixo (Working Tra$h) (TV)
1990 - Stella - Uma prova de amor (Stella)
1989 - Elvis stories
1989 - Marcados pelo ódio (Next of Kin)
1988 - Obsessão (Fresh horses)
1987 - Império do sol (Empire of the sun)
1987 - Hot pursuit
1987 - House of blue leaves, The (TV)

6.4.10

90. dicas domésticas do google

1) como limpar uma panela queimada:
eu e o desenho esquecemos que estávamos fazendo comida e queimamos toalmente o fundo de uma panela novinha. recorremos ao google pra ver se conseguíamos minimamente restaurá-la - embora a primeira reação tenha sido "joga isso fora e começa tudo do zero". deixar de molho no bicarbonato de sódio é a principal dica que corre pela internet. entretanto, conosco não funcionou, como no caso das malfadadas dicas para combater formigas. fizemos o possível, usamos bom-bril, bicarbonato, deixamos de molho. a panela continuou com o fundo preto devido ao queimado.
essa semana, novamente esquecemos que estávamos cozinhando - utilizando a mesma panela ainda não recuperada da vez anterior. queimou outra vez, mas agora ela está plenamente recuperada e eu vou revelar como: após queimar a primeira vez a sua panela, deixe novamente que ela queime, desta vez com arroz dentro dela. após dois dias que o resto de arroz queimado permaneceu lá dentro, grudado na panela (ao menos foi o tempo que ele permaneceu aqui conosco), pegue uma colher de sopa de inox e retire a grossa camada de arroz. passe uma esponja com detergente e - voilá! - sua panela está nova outra vez!!
sei que a dica é bastante obscurantista e não existe nenhuma prova científica de que irá funcionar com você. mas quem sabe com novas experiências empíricas nas residências brasileiras não teremos mais dados com que trabalhar sobre esta fascinante hipótese, hã?

2) como abrir uma lata de conservas:
eu e o desenho compramos uma lata de molho de tomate natural e ecológico na feira de agricultores ecologistas. ontem, tal molho comporia minha janta, sendo, inclusive, um de seus elementos primordiais. a lata simplesmente não abria. recorremos novamente ao google. entre as mais variadas combinações de esforços a fim de vencer a lata, encontramos um vídeo demonstrativo que faz tal tarefa parecer brincadeira de criança. ei-lo:



se você não tem o tamanho do moço aí em cima, a dica provavelmente não funcionará - ao menos comigo não funcionou. sei que dizer isso vai contra as leis da física, mas o fato é que não funcionou - nem sempre funciona nem mesmo nos laboratórios das melhores universidades, por que funcionaria na minha cozinha?!
fica a dica mais correta: tente abrir a lata antes do super fechar. retorne ao super e compre o molho de caixinha. utilize uma tesoura de cozinha e - voilá! - seu molho está perfeitamente acessível!

5.4.10

89. vladimir kokol

esta foi tirada do blog do felipeta, que tem feito ótimos posts sobre todos os filmes do herzog. o último foi sobre um documentário chamado, em português, "terra do silêncio e da escuridão", sobre pessoas cegas e surdas.
ele chama atenção para o caso, segundo ele o mais foda de todo o documentário, de um guri chamado vladimir kokol, com 22 anos de idade, nascido cego, surdo e com síndrome de down. tudo isso desde o nascimento. me lembrou de cara o kaspar hauser. a mesma temática: a cultura X a natureza (que, aliás, aparece em todos os filmes do herzog que eu já vi). o que faz de um humano um humano? e o que um ser humano é capaz de fazer em relação a coisas que lhe ultrapassam? este vídeo precisa ser assistido, sério.
o cara bate na própria cara, atira com força uma bola vermelha na própria cara, faz barulhos aparentemente sem sentido com a boca. ele já tem uma dificuldade cognitiva derivada da síndrome de down. e, ainda por cima, é cego e surdo.



esse caso do vladimir kokol é ótimo pra pensar isso. o cara é cego, surdo e tem síndrome de down. o mundo dele, desde o nascimento, é apenas o interior de sua própria cabeça e alguns toques casuais em pessoas ou objetos. ele nunca viu luz, nunca ouviu a voz de uma pessoa. ele não adquiriu linguagem.
pra pessoas como nós, que enxergam, ouvem, se movimentam e aprenderam coisas, é quase impossível pensar a comunicação entre as pessoas sem alguma forma de linguagem. mas como adquirir a tal linguagem em tais condições?
pior: como o vladimir interpreta seus próprios sentimentos? é necessário interpretá-los? em que medida razão e cultura caminham juntas? não tem como não lembrar do kaspar hauser:



um vídeo como esses aí acima a minha vizinha podia assistir de vez em quando. quem sabe um pensamento se esboçaria na sua mente, antes que ela pudesse colocar uma música muito ruim, muito alto.
vladimir kokol, meu...

88.

os invejosos servem pra nos convencer, cada vez mais, do quanto a gente é bom, né?

4.4.10

87. cinema e homossexualidades


A mostra de cinema promovida em parceria entre o Coletivo LGBT da UFRGS e a Sala Redenção será uma atividade de extensão e, como tal, gerará créditos aos(às) participantes. As sessões têm entrada franca e a atividade também dará direito a certificados pelos quais será cobrada a taxa regular da UFRGS.

Para conseguir os créditos e o certificado, será necessário participar das sessões comentadas que acontecerão durante a mostra. Confira abaixo a programação das sessões comentadas e agende-se!

Santiago (Brasil, 2007, 79min) de João Moreira Salles
09 de abril – 19h 
Debatedor: Paulo Faria, professor do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS

Filadélfia (Philadelphia, Estados Unidos, 1993, 128 min) de Jonathan Demme
16 de abril – 19h
Debatedor: Henrique Caetano Nardi, professor do Departamento de Psicologia Social e Institucional do Instituto de Psicologia da UFRGS.

Um amor quase perfeito (Le fati ignoranti,2001, 105min) de Ferzan Ozpetek
22 de abril – 19h
Debatedores: Tânia Cardoso, Coordenadora e curadora Sala Redenção e Alexandre Bello, doutorando em Educação pela UFRGS.


Wilde (Wilde, Reino Unido, 1997,118 min) de Brian Gilbert
23 de abril – 19h
Debatedor: Roger Raupp Rios, Juiz Federal e Corregedor da Justiça Federal da Quarta Região.


Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, Espanha, 1999) de Pedro Almodóvar
30 de abril – 19h
Debatedora: Kathrin Holzermayr Rosenfield, professora do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS.