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2.8.10

118. everybody hates chris

estou meio que viciada neste seriado. e estou apaixonada pelo chris rock.
já tinha visto algum filme muito trouxa dele e não tinha gostado, apesar dele ser super gatinho. mas agora que amo o everybody hates chris e vi que é dele, comecei a gostar dele de um outro jeito.
faz algum tempo que acompanho seriados negros americanos, embora sem nenhuma sistemática. acho que esse é imensamente feliz no trato do preconceito: é um tema complicadíssimo e que, se tratado de maneira conveniente, dificilmente pode ser engraçado, na minha opinião. quer dizer, é um assunto duro de manter sério, ao mesmo tempo em que tenha uma proposta de humor.
mas o chris rock, pelo menos tudo o que vi até agora, é imensamente sensível e doce, com um bom humor de alto nível. ele é engraçadíssimo, mas as situações engraçadas do seriado não te fazem achar que não houve alguma dor ou sofrimento.
correndo o risco de que ela leia isso, acho que a minha mãe é muito parecida com a mãe do chris (sim, margarida, tu grita demais). eu me identifico imensamente com os assuntos tratados nos episódios, inclusive algumas coisas pras quais às vezes meus colegas historiadores se mostraram muito pouco sensíveis.
uma delas é sobre ser pobre. eu lembro que quando entrei na faculdade tinha sérias dificuldades pra fazer certas coisas porque, well, eu morava em ALVORADA e trabalhava no turno da tarde. não gosto de fazer chororô de memórias, basta enfatizar que em diversos momentos me envolvi em situações em que as dificuldades inerentes ao local onde eu vivia ou à situação econômica da minha família não eram compreendidas satisfatoriamente. e eu acho que o chris ganha justamente nisso: sem fazer chororô de sua própria condição, ele aponta todos os momentos em que as coisas não eram tão simples. mas por não serem simples, não significa que fossem terríveis: eram boas, caralho.
outra coisa: sim, ele era negro e pobre e tinha uma família unida e bacana, com inúmeras imperfeições,  dificuldades financeiras e tal, mas uma família de que ele gostava. e ele era negro e pobre, mas sabia escrever com perícia, isso não era uma contradição. talvez muita gente não acredite, mas é verdade.
mais um ponto positivo: o cara pode ser pobre e ser soberbo e a sua família não querer se misturar com outros pobres. isso pode acontecer. e pode acontecer de o teu pai até poder fazer uma certa coisa pra ti, que seria legal pra ti se ele fizesse, mas tu não querer que ele faça por alguma estranha sensibilidade que te leva a considerar tudo o que ele JÁ FAZ e todas as dificuldades pelas quais ele passa e o quanto, por conta dele, tu pode ser alguém tão privilegiado em relação aos teus vizinhos. quer dizer, não é que ele próprio tenha se negado, mas tu mesmo reconhece que, diante de tudo o que ele faz e de tudo o que tu sabe sobre a tua própria família, tu sabe que não pode pedir mais isso a ele. nem que esse isso seja algo aparentemente ínfimo.
o chris mostra com muita sensibilidade todos esses momentos em que ele simplesmente decidiu compreender o pai dele, ou a mãe. em que toda uma história familiar vem à tona. e também que nada disso é ruim, meu. isso é ótimo, por isso é tão possível ser feliz, mesmo que a tua casa realmente feda a fábrica de sabão. fede, mas tu não faz chororô, não tem nada demais, tu teve uma ótima infância, ótimos pais - apesar dos gritos e maluquices, tu sabe que eles são boas pessoas e bem intencionadas e que fizeram de tudo pela tua educação, para garantir teu futuro.
o everybody hates chirs é o que há, no momento. não quis me comparar a um negro americano que vivia no bronx nos anos 80 e acho que isso ficou claro. a minha identidade é com as inúmeras situações familiares e escolares mais genéricas. ah, na real, não importa dizer qual é a minha identidade, apenas que há. não gosto de falar assim sobre a minha vida, justamente porque é o modo chato de falar da vida. o modo legal é o modo do chris: com senso de humor, rindo de si mesmo, com senso crítico também e com um fantástico entendimento sobre as posições das pessoas que te rodeavam. esse seriado é o que há.
e sobre preconceito: ele é o melhor de todos. chris rock, eu te amo. são pessoas reais que sofreram preconceito. basta dizer isso. pessoas que viviam coisas muito ruins, mas que reconheciam que seus pais viveram coisas piores, e se mostravam sensíveis a isso. quer dizer, ele dá conta de uma certa história familiar dessas vivências, mostrando a formação de um senso de união, de identidade.
chris rock é o que há.

Um comentário:

Nauber disse...

Pode crer guria, esse seriado "é o que há", um humor desde dentro da situação. Forte abraço pra vocês dois (tu e o desenho).