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30.6.10

109. ironia

hoje estava lendo um blog sobre animais resgatados na rua e acolhidos em casas de passagem até que alguém os adote.
eram vários casos, gatos, cachorros, com doenças, castrados etc. lá pelas tantas surgiu a irônica história de um cão chamado beethoven. beethoven foi internado numa clínica e, lá, brigou com outros cães, tendo seu ouvido mutilado. a veterinária responsável, ao que parece, não tomou as providências necessárias e ele acabou mesmo surdo de um ouvido.
achei super irônico isso. parece que o nome o amaldiçoou.

108. o desenho escaneou o desenho pra mim

e por isso a imagem aparece melhor agora. mas ainda não fiz os acabamentos.

28.6.10

106.

cornichon e a família costumavam passar o fim do outono e o começo do inverno na casa de campo de reveillon, na baixa normandia. o outono era ameno e suave, ideal para reunirem-se, tratando de negócios e também do ócio do fim da estação.
desta vez, porém, reveillon esperava ainda uma ilustre presença, que talvez surpreenderia seus antigos convidados. seus negócios em sussex estavam prosperando. já havia chegado a hora.
na manhã seguinte ao suntuoso e perplexo jantar, porém, reveillon recebera cedo um telefonema de rye. a viscondessa de chichester exigia sua presença com urgência, pois tinha um assunto muito sério a ser tratado com ele. segundo ela lhe adiantara, tratava-se da doença do barão de oxfordshire. seus três filhos disputavam o controle majoritário das empresas, coisas do dia-a-dia. o ideal é que reveillon se tornasse íntimo de cada um deles.
sem esperar mais, reveillon tomou o primeiro trem. reencontrar a viscondesa de chichester era sempre magnífico. e, ardilosa como era, ela devia já estar ajeitando as devidas situações para o estabelecimento dos vínculos estreitos com a prole do barão de oxfordshire. ah, o reencontro com a viscondessa de chichester...

25.6.10

105. um dia no centro de porto alegre 2

fiquei tão empolgada em narrar o trajeto do C3 que esqueci o objetivo central deste post. fui até um café do centro esperar pela minha prima. para não usufruir do espaço sem nada consumir, optei por pedir um expresso. logo após pedir, solicitei um banheiro onde eu pudesse lavar as minhas mãos.
- ali atrás tem um. pode usar.
a primeira coisa que vi foi uma barata sendo comida por formigas. horrível a cena, mas já era de se esperar que estabelecimentos servindo comida no centro da cidade fossem acometidos por esses males. porém eles bem que podiam ter varrido a barata dali, né?!
imediatamente lembrei do expresso que havia pedido. em outros tempos, quando eu era mais inocente do que sou agora, eu pensaria que a máquina de café garantiria a intergridade sanitária do mesmo. mas após lembrar do café, lembrei da priscila:
- tu sabia que é comum encontrarem pedaços de baratas em máquinas de café? uma vez uma guria vomitou por causa disso.
não, eu não sabia, e preferia nunca ter ficado sabendo disso. a história inteira conta que insetos de tipos e tamanhos variados costumam se aglomerar em máquinas de bebidas - não apenas as de café, mas também é comum nas de refrigerante.
resolvi sentar numa mesa de frente pra rua e esquecer dessas histórias todas. esperei estoicamente pelo tal café, que foi trazido em seguida por uma atendente de mãos muito, mas muito molhadas (o que não quer dizer limpas). ao inclinar-se ao meu lado para depositar a xícara sobre a mesa, ela olhou muito de perto e com os olhos muito fixos em mim e disparou:
- onde que tu mora?
fiz que não ouvi, agradeci. ela se aproximou de novo, inclinada, e, mais uma vez:
- onde que tu mora?
como assim onde eu moro? senti-me ameaçada.
- moro em porto alegre.
- ah tá... é que tu parece com uma guria lá de alvorada.
- é que eu já morei em alvorada.
- então é isso.
era só isso. a mulher me conhecia de alvorada.

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sendo vitimada pelo expresso, acompanhava o movimento na rua.
uma mulher que tinha por volta de quarenta anos e que provavelmente trabalhava em outra espelunca insalubre das proximidades, vinda provavelmente, em condições péssimas de transporte, de alguma cidade da periferia da região metropolitana, parou diante do tal café onde eu estava e, fumando um cigarro, buscou o contato com a atendente de mãos molhadas que havia me atendido.
- e aí... - de vez em quando ela assoprava fumaça pra cima, meio rindo, meio tremendo - o meu amigo nunca mais apareceu aqui.
- ah não?
- não... o que será que houve? - já mencionei que havia uma certa e quase imperceptível tensão nessa mulher, que se manifestava com um tremelico no canto da boca, enquanto ela fingia sorrir?
- ah... tem gente que não vem muito seguido pro centro...
- pois é...
ela ainda fumava. dava pra ver que ela estava totalmente interessada naquele assunto, mas a outra não. dava pra ver que era um assunto realmente importante pra ela. de repente:
- ele até me deixou o telefone... mas eu não quero ligar. acho chato gente que fica em cima, insistindo...
o sorriso nervoso persistia. o sorriso falava mais do que ela. era uma mulher com uns quarenta anos, teria ainda pouco tempo de se arrumar com alguém. e esse cara parecia estar dando bola pra ela, parecia mesmo, ela alimentou esperanças. ela acreditou que era isso e isso talvez tenha feito a vida dela ser melhor. mas o cara simplesmente nunca mais apareceu.
- se ele não aparecer mais, vou ligar.
ela sabia que ele não queria nada com ela. mas ela não podia se confrontar com essa verdade. ela sabia que não devia ligar, mas precisava fazer alguma coisa por aquilo. o centro de porto alegre pode ser muito profundo.

104. um dia no centro de porto alegre

desde que me mudei para o bom fim tenho recorrido bem menos ao centro de porto alegre, já que aqui nas redondezas se encontra quase tudo que se precisa - e ainda há muuuuitas lojas de um e 99 espalhadas por aqui!!
ontem, entretanto, precisei ir comprar uns tecidos para estrear minha linda máquina de costura, recém adquirida. obviamente, peguei o C3, apesar de demorar uma boa meia hora para chegar ao centro - com outros ônibus da osvaldo eu chegaria em 5 minutos. mas é uma demora que vale muito a pena pelo caminho percorrido. sempre que tenho oportunidade, pego o C3 e aprecio seu percurso exuberante. ei-lo:
eu moro bem ali na fernandes vieira. pego o C3 na frente de casa e começo aproveitando as belezas da osvaldo aranha, por onde o ônibus cruza a fim de se dirigir à josé bonifácio.


em geral, os ônibus daqui que vão direto para o centro, seguem pela osvaldo, atravessam o viaduto, e já estão lá. mas o C3 não. o C3 se preocupa com a beleza do trajeto, mesmo que mais longo e sinuoso. em vez de entrar na osvaldera, ele vai pela josé bonifácio, diante do parque da redenção. aprecio, neste momento, olhar rapidamente para os dois lados, tanto o lado do parque quanto o lado das casas e prédios, pois ambos são belos.


o C3 continua fascinante pela venâncio aires até chegar na joão alfredo, que é um dos pontos altos do percurso.

detonado, mas é um casario muito bonito. antigamente, essa região ficava na margem do guaíba. saindo da joão alfredo, atinge a avenida loureiro da silva, de onde se pode ver a ponte de pedra.

e, finalmente, entra no centro. mas entra pela parte alta do centro, começando pela fernando machado. pra chegar no centrão mesmo, ainda vai demorar um pouco. mas a fernando machado vale a pena. vale muito a pena. primeiro porque hoje em dia ela é bonita. segundo, porque no passado foi ali que aconteceram os crimes do linguiceiro. pra quem não sabe, a fernando machado é a rua do arvoredo. e foi na rua do arvoredo, no século xix, que um açougueiro fazia linguiça com carne de gente. sempre achei essa história fascinante.

aí está a fernando machado hoje, em dia, com seus casarios e a feira do caminho dos antiquários - porque, obviamente, nessa rua há muitos estabelecimentos que vendem antiguidades. mas em 1864 foi aí mesmo nesta simpática ruazinha que um açougueiro esquartejava pessoas e usava suas carnes para fazer linguiça, que depois, of course, vendia no açougue. reza a lenda - viu, andrea, aqui também temos nossas lendas, sem títulos de barão, mas com muito sangue! - reza a lenda que a mulher do açougueiro, que era do leste europeu, era lindíssima e atraía as vítimas para as garras do marido. e também reza a lenda que as carnes daquele açougue eram apreciadíssimas pela população. bom, da fernando machado, o C3 passa pela frente da usina do gasômetro e chega na duque de caxias, até a praça da matriz, passando pelo teatro são pedro. adoro essa primeira casa logo aqui abaixo. está sempre fechada, velha e caindo aos pedaços, e com um gol 1.0 na frente. quem será que a habita?
aí passa pela biblioteca pública, pelo arquivo público, pelo hipólito - todos lugares onde costumo ir pesquisar. e chega na praça da alfândega, onde normalmente eu desço.

realmente, vale a pena demorar meia hora, em vez de 5 minutos, pra pelo menos apreciar o caminho. nada a ver isso de transporte meramente instrumental.
peço desculpas aos fotógrafos que não mereceram seus créditos neste post. não consegui acompanhar meu próprio ágil pensamento, a ponto de recolher os linques de onde as fotos foram tiradas.

23.6.10

103. desenho mais ou menos finalizado

falta colocar uma moldura e fazer uns acabamentos.

102. um peru, ao acaso

este peru estava desenhado num mapa do século xvi. bonito, né?
o que mais fascina em gravuras de mapas antigos é que, muitas vezes, coisas corriqueiras parecem absolutamente monstruosas. também gosto das desproporções. um monte de arvorezinhas bem pequenas e um peru imenso, horroroso, pisando firme sobre a terra.
e o que passou na cabeça do cara que julgou que o melhor que ele tinha a fazer era pôr um peru no mapa? qual a importância simbólica deste maldito peru, totalmente fora de contexto, em cima dum mapa? o que esse peru representava?

101.

o síndico não aguentava mais tanta pressão.
não era só o problema dos interfones dos apartamentos de baixo, nem só a sua doença. que era incurável ele já sabia há três meses, mas tinha decidido não se importar e aproveitar os últimos momentos de sua trágica vida. mas de tão trágica, ela ainda havia lhe preparado uma nova e inesperada surpresa, chegada pela boca suja e malcheirosa daquele engenheiro que viera na semana passada.
a imobiliária que administrava o condomínio estava em cima dele. os outros moradores queriam a solução de seus pequenos e mesquinhos problemas. que se fodam os interfones deles. que se foda o vasamento. que se foda, porra. idiotas. achavam que era só fazer mais um ou outro remendinho com massa corrida, que era só chamar qualquer vira-lata da rua pra fazer o conserto. não sabiam merda nenhuma sobre essa porra de prédio. e da vida dele.
o engenheiro tinha sido súbito e irreversível como o médico. toda a estrutura já estava comprometida, não havia esperanças. "o prédio ainda está pior do que eu. não dura seis meses." o que dizer aos vizinhos? eles acreditavam nas suas vidas tão pequenas, eles acreditavam na importância imensa de alguns pequenos reparos. eles não conheciam aquilo que não pode mais ser de outro jeito, só conheciam o dia que passa e tudo se resolve.
seus vizinhos que acenavam tão inocentemente uns para os outros não sabiam verdadeiramente nada sequer sobre suas próprias vidas. não tinham consciência da morte. o que dizer a eles, meu deus?! como resolver um problema tão inescapável na mediocridade mundana de uma reunião de condomínio?!?
após comprar o pão, antes de chegar em casa, passou na imobiliária. na próxima semana, às 17hs, seria a reunião fatídica. e pontualmente ele compareceu, como se precisasse de todos os minutos. solene e pragmático, deu o aviso final a todos.

22.6.10

100. cobiça oficial

fiquei cobiçando MUITO este livro.



mas há mais, minha gente. muito mais. há pérolas nesta internet que eu gostaria muito de ter comigo em casa.
ei-las:

99.

m. vivia há seis meses no hotel othon, em copacabana. em apartamento de frente, muito fino. sentia um certo constrangimento por isso, tanta gente pobre, cagando na rua, ele com vista pro mar, com tudo pago. mas, caralho, ele não ia cagar na rua também se não tinha porquê. cagava bem, em trono caro, limpo todo dia pelos empregados do hotel. só cagava em banheiro cheiroso, de preferência com bidê. só pro caso de ser preciso, não que fosse sempre preciso, mas, porra...
porra era essa fernanda, do buteco na gustavo sampaio. não queria colaborar, não devia se meter. desde o princípio ele havia dito, isso era negócio dele, era coisa dele, ela que cuidasse de servir cachaça. mas essa fernanda intrometida, enxerida, querendo saber demais, querendo saber do hotel, do dinheiro, dos empregados, do bidê, de tudo. ele também era burro, burro demais. não devia aparecer mais no boteco, então, se ela tava incomodando. mas tava gostosa, servia aquela cachaça sempre rebolando, aquela bunda, ah, aquela bunda.
chega de pensar em fernanda. hoje tinha que dar um pulo no catete, ver o que os caras iam arrumar pra ele. o telefonema de ontem foi meio fora de hora, mesmo pro padrão deles. não tinha padrão. mas foi estranho, todo o tom da conversa, mais mistério do que de costume. tinha caroço nesse angu. m. não era mais tão novo, já tinha vivido de tudo, já tinha cagado na rua. o que estavam arrumando pra ele agora?

21.6.10

98.

o jantar seguiu tenso, apesar das inapropriadas intervenções pretensamente lúdicas de vuvuzella. apenas ele não sabia da expectativa que cercava a chegada de reveillon.
o carré de cordeiro estava fabuloso. para a sobremesa, foram encomendados tenros morangos da aquitânia, que vuvuzella comeu com indecência. madame d'abajour bem o notou.
já menos tensos após a segunda rodada de licores de noz e framboesa, todos recolheram-se sonolentos e com a leveza desproporcional de um "que se dane". não importavam mais, não naquele microinstante, as grandes revelações de reveillon. apenas importava sentir o linho outonal dos lençois nas costas, como quem sentisse um cheiro, ou como quem continuasse sentindo os prazeres da mesa recém abandonada. só queriam ter mais um pouco dos fugazes prazeres que a pele podia sentir antes da ruína anunciada.
ninguém tinha certeza do que reveillon vinha trazer à tona, mas, como todos tinham seus pecados e ninguém confiava em ninguém, cada um sabia que podia ser agora. podia ser desta vez que tudo viria abaixo.
apenas vuvuzella relaxou na inocência dos trouxas. sequer percebera o quanto era indesejado naquela casa. deitou-se e logo dormiu um sono profundo, sem sonhos, apenas sensações. ninguém mais desfrutou de tal ventura naquela noite.

97. dunga: o contrapoder da televisão brasileira

o dunga está definitivamente ahasando nesta copa do mundo. além de manter um comportamento ambíguo (treinador de futebol gaúcho e - tido como - grosso e usando terno herchcovitch, por exemplo...), ele tem xingado os jornalistas esportivos, o que muito me compraz.
podem alegar que foi falta de educação, indelicadeza (!) e outras coisas do gênero, mas o fato é que jornalistas (não apenas esportivos) têm o incrível poder de destruir reputações com poucas palavras, por mais educadas e delicadas que elas possam parecer. e, como não há a possibilidade de criação de um órgão que regule esta atividade, já que os próprios jornalistas se aproveitam do grande espaço de que dispõem na vida das pessoas para alegar que tal órgão seria um instrumento de censura, eis que esta profissão aparece com grande penetração social e podendo agir mais ou menos como bem entender sem maiores consequências. um bom exemplo disso é o recente caso do antropólogo eduardo viveiros de castro e a revista veja, que teve grande repercussão nos meios acadêmicos, mas que muito provavelmente só chegou ao público mais amplo na forma da péssima reportagem da revista sobre a antropologia e as terras indígenas. ou seja, por mais que viveiros de castro venha a processar a veja pelo que foi (mal) dito a respeito da produção intelectual que ele passou a vida construindo, nada vai mudar o fato de que a reportagem saiu e a denegriu. no caso de outras profissões, atitudes similares seriam obviamente punidas, com, por exemplo, a perda do registro profissional do indivíduo que fizesse mal exercício do seu diploma - é o que ocorre com médicos que, por displiscência, acabam tirando a vida de seus pacientes.
os jornalistas não admitem que um conselho que fiscalize como sua atividade profissional vem sendo exercida seja criado, ainda que este conselho seja composto por seus próprios companheiros de profissão, e não por funcionários do estado, alegando que isso seria um retrocesso à censura, tal qual ocorria na ditadura militar. a ditadura militar brasileira (que, diga-se de passagem, não inventou a longa história de censura no brasil) é utilizada estrategicamente (e apenas estrategicamente) para simbolizar um demônio que devemos combater. mas, ao chamar de censura o que seria a fiscalização de uma profissão, acabamos nas mãos de um outro tipo de ditadura, já que não é possível, não há instrumentos eficazes para combater o mal jornalismo que anda por aí. a liberdade de imprensa foi uma vitória, sim, conquistada por muita gente que nunca entrou na redação de um jornal e que hoje é classificada, inclusive pela imprensa, como "comunistas baderneiros". e a liberdade de imprensa não existe, até onde eu sei, para que os jornalistas tenham o direito de agir irresponsavelmente sobre as vidas de outras pessoas.
como disse o bourdieu, o jornalismo é um assunto muito sério. e parece muito sério também todo o apoio popular que eu tenho visto o dunga recebendo pelas suas atitudes "mal educadas" nas coletivas após os jogos do brasil. parece também bastante sério o "cala a boca, galvão" que ganhou o mundo. não parece que só o dunga tenha percebido o que um jornalista pode fazer sobre uma reputação - e o que muitos deles têm efetivamente feito. é uma pena que a globo utilize a concessão que ganhou do estado brasileiro para tentar sair de vítima nesta história. se o dunga tem apoio, é porque as pessoas realmente não aguentam mais o jornalismo brasileiro. seria mais produtivo se fizessem (não apenas a globo, mas todo o campo jornalístico brasileiro, que conta com muitos profissionais sérios e interessados) uma crítica de sua responsabilidade e dos usos de sua profissão. mas uma crítica séria, não uma falsa adesão, como no caso do "cala a boca, galvão".
como isso está bem longe de acontecer, deixo o recadinho do nosso querido dunga, que ganhou merecidamente a minha torcida nesta copa.



e também deixo uma leitura de cabeceira para orientar o pensamento sobre tudo isso. a tv precisa de um contrapoder.

Pierre Bourdieu Sobre a televisão (seguido de A influência do jornalismo e Os jogos olímpicos)

16.6.10

96.

comentários sobre a primeira rodada da primeira fase da copa.


uruguai x frança



grécia x coreia do sul

neste match evidenciou-se a histórica fragilidade da composição defensiva grega. problema crônico, fora já apontado, ao menos em uma oportunidade, por platão, em seu diálogo teeteto.

alemanha x austrália

massacre teuto-brasileiro sobre a seleção formada pelos jogadores mais feios do mundial. a alemanha, de fato, colhe os frutos de ter sido a única seleção que treinou antes do mundial.


nova zelândia x eslováquia

se, por um lado, a seleção eslovaca jogava futebol pela primeira vez, a nova zelândia confundiu-se e acabou enviando à áfrica do sul seu selecionado de rúgbi.

itália x paraguai

este jogo não foi engraçado.

brasil x coreia do norte


dunga 1 x 0 jornalista

espanha x suíça

a espanha é a zebra ao contrário. como sempre.

14.6.10

95. a regra é clara?

tenho assistido aos jogos da copa e reparado num grande problema com relação à arbitragem. o problema é a crença infundada de que "a regra é clara". não é clara, é óbvio que não é clara.
o árbitro analisa apenas o sentido locucionário dos atos dos jogadores, esquecendo-se por inteiro dos sentidos ilocucionário e perlocucionário. isso torna as equivalências de faltas bastante problemáticas, pois muitas vezes o jogador não teve a intenção maliciosa ao atingir o adversário e recebe a mesma punição, ou às vezes punição mais grave, do que o jogador que foi maldoso. eu sei que alguns árbitros têm um posicionamento em relação a essas questões, mas andei vendo coisas que poderiam levar a uma interessante análise dos cartões aplicados na primeira fase da copa.
pensei em fazer um apanhado de vídeos em que os jogadores tenham feito faltas que mereceram uma mesma punição (cartão amarelo ou vermelho), mas que, em um caso, o jogador foi maldoso e, no outro, não foi. mas é claro que isso daria mais trabalho do que estou disposta a ter.
em compensação, achei lindinho esse stop-motion do frango do green:


aliás, o site de onde ele saiu originalmente vale a pena ser visto por todos aqueles que apreciam o futebol enquanto cultura e não enquanto jogo. e também por todos aqueles que apreciam stop-motion, ou apreciam lego.

94.

jean-martino vuvuzella corria sua própria corrida.
em geral, estava entre os retardatários, mas não ligava. o importante, para ele, era competir.
para seus colegas de pista - ele era piloto de fórmula 1 - o importante era que vuvuzella não competisse. mesmo como retardatário vuvuzella era um desastre, pois provocava acidentes entre os primeiros colocados. nunca eram acidentes graves, é verdade. mas era um aerofólio aqui, um pneu ali... ninguém gostava... os torcedores dos outros países detestavam vuvuzella - e os próprios italianos achavam que ele podia desistir, pois vuvuzella já era uma vergonha para um país tão identificado com as corridas.
certa vez, por ocasião do GP da frança, vuvuzella foi recebido na residência de seu grande e velho amigo, monsieur reveillon. mais uma vez, vuvuzella chegara atrasado e, como se não bastasse, em péssima hora.
vuvuzella adentrou a sala de jantar no preciso momento em que monsieur cornichon limpava-se de vinho e todos esperavam ansiosos pelas notícias trazidas por reveillon.
surpreso com o hóspede inesperado, monsieur cornichon, ainda sujo de vinho escorrendo-lhe pelas pernas, foi até a porta recebê-lo, não sem lançar, porém, um olhar grave, gravíssimo, a reveillon.
georges bidé e madame d'abajour permaneceram paralisados, embora triunfantes pelo adiamento das grandes revelações trazidas por reveillon.
os criados prontamente levaram mais um prato à mesa. e mais outro, pois reveillon também sentou-se para o jantar e todos fingiram uma tensa harmonia durante a refeição. entre olhares, todos sabiam da inconveniência de vuvuzella.