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6.4.10

90. dicas domésticas do google

1) como limpar uma panela queimada:
eu e o desenho esquecemos que estávamos fazendo comida e queimamos toalmente o fundo de uma panela novinha. recorremos ao google pra ver se conseguíamos minimamente restaurá-la - embora a primeira reação tenha sido "joga isso fora e começa tudo do zero". deixar de molho no bicarbonato de sódio é a principal dica que corre pela internet. entretanto, conosco não funcionou, como no caso das malfadadas dicas para combater formigas. fizemos o possível, usamos bom-bril, bicarbonato, deixamos de molho. a panela continuou com o fundo preto devido ao queimado.
essa semana, novamente esquecemos que estávamos cozinhando - utilizando a mesma panela ainda não recuperada da vez anterior. queimou outra vez, mas agora ela está plenamente recuperada e eu vou revelar como: após queimar a primeira vez a sua panela, deixe novamente que ela queime, desta vez com arroz dentro dela. após dois dias que o resto de arroz queimado permaneceu lá dentro, grudado na panela (ao menos foi o tempo que ele permaneceu aqui conosco), pegue uma colher de sopa de inox e retire a grossa camada de arroz. passe uma esponja com detergente e - voilá! - sua panela está nova outra vez!!
sei que a dica é bastante obscurantista e não existe nenhuma prova científica de que irá funcionar com você. mas quem sabe com novas experiências empíricas nas residências brasileiras não teremos mais dados com que trabalhar sobre esta fascinante hipótese, hã?

2) como abrir uma lata de conservas:
eu e o desenho compramos uma lata de molho de tomate natural e ecológico na feira de agricultores ecologistas. ontem, tal molho comporia minha janta, sendo, inclusive, um de seus elementos primordiais. a lata simplesmente não abria. recorremos novamente ao google. entre as mais variadas combinações de esforços a fim de vencer a lata, encontramos um vídeo demonstrativo que faz tal tarefa parecer brincadeira de criança. ei-lo:



se você não tem o tamanho do moço aí em cima, a dica provavelmente não funcionará - ao menos comigo não funcionou. sei que dizer isso vai contra as leis da física, mas o fato é que não funcionou - nem sempre funciona nem mesmo nos laboratórios das melhores universidades, por que funcionaria na minha cozinha?!
fica a dica mais correta: tente abrir a lata antes do super fechar. retorne ao super e compre o molho de caixinha. utilize uma tesoura de cozinha e - voilá! - seu molho está perfeitamente acessível!

5.4.10

89. vladimir kokol

esta foi tirada do blog do felipeta, que tem feito ótimos posts sobre todos os filmes do herzog. o último foi sobre um documentário chamado, em português, "terra do silêncio e da escuridão", sobre pessoas cegas e surdas.
ele chama atenção para o caso, segundo ele o mais foda de todo o documentário, de um guri chamado vladimir kokol, com 22 anos de idade, nascido cego, surdo e com síndrome de down. tudo isso desde o nascimento. me lembrou de cara o kaspar hauser. a mesma temática: a cultura X a natureza (que, aliás, aparece em todos os filmes do herzog que eu já vi). o que faz de um humano um humano? e o que um ser humano é capaz de fazer em relação a coisas que lhe ultrapassam? este vídeo precisa ser assistido, sério.
o cara bate na própria cara, atira com força uma bola vermelha na própria cara, faz barulhos aparentemente sem sentido com a boca. ele já tem uma dificuldade cognitiva derivada da síndrome de down. e, ainda por cima, é cego e surdo.



esse caso do vladimir kokol é ótimo pra pensar isso. o cara é cego, surdo e tem síndrome de down. o mundo dele, desde o nascimento, é apenas o interior de sua própria cabeça e alguns toques casuais em pessoas ou objetos. ele nunca viu luz, nunca ouviu a voz de uma pessoa. ele não adquiriu linguagem.
pra pessoas como nós, que enxergam, ouvem, se movimentam e aprenderam coisas, é quase impossível pensar a comunicação entre as pessoas sem alguma forma de linguagem. mas como adquirir a tal linguagem em tais condições?
pior: como o vladimir interpreta seus próprios sentimentos? é necessário interpretá-los? em que medida razão e cultura caminham juntas? não tem como não lembrar do kaspar hauser:



um vídeo como esses aí acima a minha vizinha podia assistir de vez em quando. quem sabe um pensamento se esboçaria na sua mente, antes que ela pudesse colocar uma música muito ruim, muito alto.
vladimir kokol, meu...

88.

os invejosos servem pra nos convencer, cada vez mais, do quanto a gente é bom, né?

4.4.10

87. cinema e homossexualidades


A mostra de cinema promovida em parceria entre o Coletivo LGBT da UFRGS e a Sala Redenção será uma atividade de extensão e, como tal, gerará créditos aos(às) participantes. As sessões têm entrada franca e a atividade também dará direito a certificados pelos quais será cobrada a taxa regular da UFRGS.

Para conseguir os créditos e o certificado, será necessário participar das sessões comentadas que acontecerão durante a mostra. Confira abaixo a programação das sessões comentadas e agende-se!

Santiago (Brasil, 2007, 79min) de João Moreira Salles
09 de abril – 19h 
Debatedor: Paulo Faria, professor do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS

Filadélfia (Philadelphia, Estados Unidos, 1993, 128 min) de Jonathan Demme
16 de abril – 19h
Debatedor: Henrique Caetano Nardi, professor do Departamento de Psicologia Social e Institucional do Instituto de Psicologia da UFRGS.

Um amor quase perfeito (Le fati ignoranti,2001, 105min) de Ferzan Ozpetek
22 de abril – 19h
Debatedores: Tânia Cardoso, Coordenadora e curadora Sala Redenção e Alexandre Bello, doutorando em Educação pela UFRGS.


Wilde (Wilde, Reino Unido, 1997,118 min) de Brian Gilbert
23 de abril – 19h
Debatedor: Roger Raupp Rios, Juiz Federal e Corregedor da Justiça Federal da Quarta Região.


Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, Espanha, 1999) de Pedro Almodóvar
30 de abril – 19h
Debatedora: Kathrin Holzermayr Rosenfield, professora do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS.

86. "anão é anão e ponto"

falando em aguinaldo silva, achei legal postar uma entrevista que ele deu pro Ig falando sobre, of course, novelas. o interesse por essa entrevista está no fato de que ele critica o óbvio: a helena negra do manoel carlos se comporta como uma personagem branca, não é racializada; os homossexuais das novelas da globo se comportam como casais hetero; e anão é anão.
embora a entrevista tenha sido para o Ig, retirei do seguinte site: http://www.geledes.org.br/


Aguinaldo Silva abriu ao iG as portas de sua casa, num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio, dias antes de embarcar para Lisboa, onde mantém residência. O autor concedeu a polêmica entrevista a seguir, rodeado de obras de arte garimpadas em leilões e feiras de antiguidades.

Sem rédeas, Aguinaldo assume um dos principais traços de sua personalidade: o gosto pela polêmica. "Eu não rejeito confusão, claro, adoro polêmica, sou barraqueiro mesmo", diz ele, às gargalhadas, sentado no amplo sofá de sua sala.

Essas polêmicas se traduzem em repercussão aos seus trabalhos. O próximo deles, a minissérie "Cinquentinha", da Globo, com previsão de estreia para 8 de dezembro, é um claro exemplo disso. Marília Pêra, que seria uma das protagonistas, abandonou as gravações por achar que sua personagem não teria o devido destaque. Aguinaldo dispara: "Marília é meio um Tim Maia da TV. O problema é que ela, quando não larga o trabalho, o faz muito bem, então você tem que perdoar", diz.

Aos 66 anos ele declara guerra ao "politicamente correto" que, segundo ele, tem dominado a pauta da teledramaturgia. "Isso está matando as novelas", dispara. E não poupa palavras para criticar a nova Helena de Manoel Carlos, interpretada por Taís Araújo em "Viver a Vida", da Globo. "O que falta à personagem é o componente racial. Você não pode ter uma atriz negra na novela como se fosse uma branca", diz ele, com a autoridade de quem já assinou seis minisséries e 13 novelas, cinco das quais entre as doze de maior audiência na TV brasileira, "Roque Santeiro", "Tieta", "Pedra sobre Pedra", "Fera Ferida" e "Vale Tudo", esta última escrita em parceria com Gilberto Braga.

Lançando seu 15º livro, "Deu no Blogão", uma reunião de alguns dos textos mais comentados no blog que mantém há dois anos, Aguinaldo fala sobre essas e outras polêmicas que o rondam.

iG: "Cinquentinha" só estreia em dezembro e já está cercada de polêmicas. Gosta disso?
Aguinaldo Silva: Não rejeito confusão, claro, adoro polêmica, sou barraqueiro (risos). Bate-boca é comigo mesmo. Me orgulho de vender meu peixe. Mas não apareço porque gosto de aparecer. O que aparece é o meu trabalho.

iG: O que você acha de a Marília Pêra ter desistido porque achou que seu papel era secundário?
AS:
Me preocupei em contar as falas das três principais personagens, e todas tinham o mesmo peso. Ela, Susana Vieira e Marília Gabriela. Ela não se sentiu bem, percebi isso desde a primeira reunião com elenco, não estava empolgada. E daí usou esse argumento, falando que a personagem era menor... Fiquei chateado porque ela assinou um contrato para fazer isso. Tem que pensar bem quando se assina um contrato, para não dar vexame depois.


iG: Voltaria a escrever um papel para ela, numa outra novela?
AS:
Olha, não sei. Na verdade, se você der uma olhada na sua história pregressa, ela já largou projetos, peças, filmes... Marília é meio um Tim Maia da TV. O problema é que, quando não larga o trabalho, ela o faz muito bem, então você tem que perdoar, fazer o quê? Nas três vezes que tentei ver um show do Tim, não consegui, porque ele não apareceu. Marília falta aos compromissos, como fazia Tim.


iG: O que é mais difícil, lidar com ego de atores ou definir um final coerente para seus personagens?
AS:
Ah, definir final coerente, pelo menos no meu caso. Não gosto de intimidade com atores. Qualquer dúvida deles com relação ao trabalho, tem que ser pelo intermédio de Wolf Maya, que é meu diretor. Se tiver que dar atenção a todos, não tenho tempo para escrever.


iG: Quem é o melhor autor de novelas hoje?
AS:
Não me faça essa pergunta! Que difícil. Nesse momento, se eu citar um nome estaria sendo apenas gentil. Todos os autores das oito se equivalem, cada um com seu estilo. Mas veja, sou o único autor de novela que só escreve para o horário das oito, em trinta e poucos anos de TV.


iG: Segundo o Ibope, das 12 novelas de maior audiência na TV, cinco são suas. Tem o segredo para ganhar o público?
AS:
Tenho sim. Minhas novelas são extremamente populares, não escrevo apenas para a elite. Existem autores brilhantes, como Manoel Carlos, que eu adoro, que nunca escreveram um sucesso de audiência porque são novelas mais voltadas à elite. O Leblon não é o Brasil. Há muito mais Baixadas Fluminenses do que Leblons pelo país.


iG: Você já frequentou a Baixada Fluminense?
AS:
Claro que já, principalmente quando fui repórter policial. Eu ia muito à Baixada. Como também vou ao Leblon!

iG: Há alguns anos, você criticou o fato de as novelas terem casais gays em suas tramas. Acha que há um exagero?
AS: Não é que haja um exagero. Eu não aguentava mais ver casais gays bem comportados, como reprodução de casais heterossexuais. É como essa novela atual do Maneco ("Viver a Vida"). O que falta a essa Helena (papel de Taís Araújo) é o componente racial. Você não pode ter uma atriz negra na novela como se fosse uma branca.

iG: Por que não?
AS:
Quantas vezes ouvi pessoas se referindo a Naomi Campbell como a modelo 'neguinha'! É preciso levantar essa questão das minorias. É como tratar casal gay como coisa comum. Por mais que os gays se comportem, serão sempre suspeitos. Essa é a verdade. Os jovens me olham com desconfiança, acham que vou atacá-los a qualquer momento (risos).

iG: Falando em Manoel Carlos, você gosta do 'elemento social' inserido nas novelas? Abordar, por exemplo, síndrome de Down, alcoolismo etc?
AS:
Odeio o politicamente correto. Isso está matando as novelas. O folhetim precisa ser politicamente incorreto, senão deixa de ser novela. Me recuso a entrar nessa onda. Anão é anão e ponto.

iG: Mudando de assunto, quando você percebeu que estava rico?
AS:
(risos) Não sei se sou rico, acho que não. Para os padrões brasileiros, tudo bem, sou sim. A conta do PT diz que quem ganha mais de um milhão e meio de reais é rico. Então, para os petistas, sou rico. A gente percebe que está bem quando perde a vontade de comprar. Fui a um outlet em Paris, recentemente, fiquei lá o dia inteiro e só comprei uma gravata. Não me interessei por nada.

iG: Está namorando?
AS:
As pessoas da minha idade não precisam de namorados, precisam de enfermeiros. Tenho quase 66 anos, mas me sinto 'cinquentinha' fisicamente.

iG: Por que resolveu reunir num livro alguns textos do seu blog?
AS:
Porque na internet as palavras ficam no ar e a palavra escrita tem peso maior do que qualquer outra coisa. Meus textos repercutem muito.

iG: Saberia dizer por quê?
AS:
Meu blog é provocativo, falo de costumes com uma linguagem de duplo sentido, abusando dessa provocação. Tenho acesso diário de 130 mil internautas.

iG: Aproveitando que você está sempre entre Rio e Lisboa, o que falta ao Brasil que Portugal tem de sobra? 
AS:
Falta ao Brasil uma noção de ética, que os portugueses cultivam. Ser ético no Brasil é sinônimo de ser otário. E quanto a Portugal, falta a eles bastante bunda! É o que o Brasil tem de sobra (risos).

85. as aventuras de tieta do agreste, pastora de cabras ou a volta da filha pródiga

tieta é de fato um livro envolvente. a temporada em são paulo me fez perceber a falha de nunca ter lido jorge amado, e agora talvez me anime a ir adiante no autor.
tenho apreciado fazer comparações entre o livro e a novela, e penso que aguinaldo fez um bom trabalho. alguns personagens ganham maior relevo, outros são sumariamente descartados da novela, mas acredito que tudo isso ocorreu para que o principal fosse mantido.


o legal de ler o livro ao mesmo tempo em que assisto aos capítulos da novela é perceber as sutilezas narrativas que os distanciam. narrar através de imagens é muito diferente de narrar através do texto literário. por exemplo: quando cardo, o seminarista, come a tia, seu sofrimento pelo medo do fogo no inferno é narrado, no livro, em duas ou três páginas, e parece suficiente ao leitor que assim seja. já na novela é necessário muito mais tempo para que o telespectador consiga ter a dimensão do peso que teve a saída do seminário, o abandono de deus e o apelo da tia.
o livro é um livro político, disfarçado na história de uma puta que volta rica pra cidadezinha onde morava. a novela não é uma novela política, ao menos não na mesma dimensão do livro. mas tem seus momentos.
no capítulo 48 há a explicitação de uma interessante metáfora que permite um pouco entender a adaptação desta obra do jorge amado para a televisão em 1989. a novela foi ao ar no período entre 14 de agosto de 1989 e 31 de março de 1990. o capítulo 48 foi exibido precisamente no dia 09 de outubro de 1989, uma segunda-feira. nesta fase da novela, zé esteves, o pai de tieta, que a escurraçou de santana do agreste cerca de 20 anos antes, está demonstrando que já tem poucos dias de vida. tem variado, pensa que tieta ainda é jovem e que ele ainda é um pastor de cabras a tocar o rebanho pela cidade. seu maior sonho é ter de volta as cabras que vendeu a jarde após a expulsão de tieta e, para realizar seu intento, pretende recorrer justamente à mesma tieta, já de volta à antiga cidade, ávida por vingança.
caduco, zé esteves vê coisas, ouve coisas, e algumas delas têm relação com o passado, quando, sem dó nem piedade, deixou tieta à própria sorte, pra ser mulher da vida pelas estradas do nordeste.
é justamente numa cena do capítulo 48 (por volta dos 40 min da cena) que a metáfora política da expulsão e do retorno de tieta é exposta.

zé esteves olha um calendário, o ano é 1989. de repente, em sua loucura senil, ele se vê novamente no dia em que mandou tieta embora a porretadas. o calendário que aparece a sua frente já não é mais de 1989, mas sim de 1968. o dia e o mês também são revelados: 13 de dezembro.
13 de dezembro de 1968, caralho! o dia da edição do AI-5!!!
suspensão das liberdades individuais, intervenção no judiciário, fechamento do congresso e cassação de mandatos. foi o recrudescimento da repressão durante a ditadura militar brasileira, iniciada com o golpe de primeiro de abril de 1964.
bom, aguinaldo silva faz referência direta a esta medida dos militares com a estratégia de utilizar o calendário de zé esteves para marcar a data. o velho, voltando à novela, retoma momentaneamente a razão e volta a enxergar o calendário original, o verdadeiro, o de 1989. o dia é 13 de novembro - ou seja, dois dias antes da primeira eleição direta para presidente no brasil após a redemocratização e após a nova constituição.
intrigante, não?
a expulsão de tieta é associada à edição do AI-5. na cena da expulsão, tieta está obviamente transando com lucas, apenas um de seus inúmeros casos no agreste, quando zé esteves aparece e a enche de porrada. em praça pública, pra todo mundo ver. perpétua, a irmã invejosa, foi quem dedurou, e nesta cena aparece muito satisfeita em ver tieta apanhar.
com exceção de uns poucos cachorros mortos, como tonha, dona milú e a jovem carmosina, ninguém sequer tenta evitar que tieta seja mandada embora pelo pai. dona milú até tenta pedir ajuda aos outros. o padre se abstém. o coronel artur da tapitanga parece até ter gostado do destino da "cabrita" que ele nunca teve. ninguém faz nada.
e tieta promete: vai, mas volta. mas não pra baixar a cabeça diante de toda a gente que não a quis. volta pra se vingar.



e, quando tieta retorna, em 1989, é ano eleitoral. como será que ela pretende empreender sua vingança?
mais intrigante ainda é o fato de aguinaldo silva ter se remontado, em sua metáfora, não ao dia exato do golpe militar (01/04/1964) - o que, aliás, fecharia com os tempos do romance de jorge amado, já que tieta retorna a santana do agreste 26 anos depois da expulsão pelo pai - , mas ao dia da edição do AI-5 - o que dá 21 anos depois. teria ele perdoado o golpe, em certo sentido?
bom, se relevou o golpe, mas não aceitou o AI-5 e todos os crimes cometidos após ele, eu não sei. entretanto, a campanha do lula (relembrando: os dois principais candidatos eram lula e collor), que ocorria televisivamente justamente na mesma época em que a novela ia ao ar, nos dá mais pano pra manga pra pensar. vejam só quem aparece:



aminthas, leonora, osnar, ascânio, a própria tieta, até o urubu azedo da perpétua e o capitalista modesto pires. todo mundo aparecendo na TV pra fazer campanha pro lulão. pra evitar totalmente os anacronismos e ELEVAR O NÍVEL da análise, restaria saber se esta propaganda era já para o primeiro turno, ou apenas para o segundo. mas isso eu não tenho saco de pesquisar agora.

UPDATE: foi campanha pro segundo turno. perpétua aparece com camiseta do partido verde, osnar exibe um lenço maragato brizolista no pescoço e etc.

1.4.10

84.

83. pechinchas

sempre tive uma adoração kitsch pelo kitsch.
lembro da vez em que eu, os velhinhos e o joão fomos a cambará - onde minha mãe viveu toda sua infância - e paramos num restaurante que parecia ser parte da própria casa das pessoas. tinha de tudo que tu puder imaginar pendurado pelas paredes: panos de pratos variados (em geral bordados e pintados por alguém dali mesmo), panelas, flores de plástico poeirentas, cabeças de bonecas e de bichos de plástico, coisas de plástico em geral, coloridas e penduradas. teias de aranha também, of course.
mais ou menos como nessa foto de joão urban, só que com MÓITO mais coisas:


todo o restaurante era assim.
a casa da minha vó era assim, e a do meu tio nelson, lá de cambará, idem. minha mãe curte também esse monte de penduricalhos. não sei se vou tãããão longe nas minhas concepções estéticas, mas igualmente gosto de certo tipo de objetos ou composição que passa por essa linha "interior do brasil". incluí, contudo, outros elementos. o quadro do maradona na cozinha é um pouco isso, mas é um "isso" já com os tais outros elementos, eu acho.
enfim, não vem ao caso agora, de todo modo. o foco deste post é que descobri, como já havia anunciado, alguns blogs bem interessantesinhos, cujo assunto principal é a reflexão sobre decoração construída por meio de pechinchas.
selecionei os dois melhores, na minha opinião.
o primeiro trata da busca por objetos de um e 99 ou assemelhados que possam garantir uma decoração divertida e afinada com os donos da casa. valoriza os excessos a la almodóvar e relíquias feitas de plástico, privilegiando as flores e os potinhos. também tem um quê de buscar objetos antiguinhos, ou que te capturem pela memória de bons momentos vividos, como estas xicarazinhas e travessas, iguaizinhas (estas últimas) às que minha mãe usava. na verdade, olhando bem, a da minha mãe não aparece nesta foto, não.

achei lindo e tem a vantagem de a moça escrever bastante bem.
o segundo trata de decoração de uma forma mais geral, mas priorizando aquilo que de fato pode ser tentado na sua casa. em muitos casos, quando o objetivo é esse, a pessoa apresenta banquetas feitas de garrafa pet ou outras tentativas de reutilização do lixo. não é o caso aqui. a moça também escreve muito bem e se interessa por mais uma série de assuntos bacanas, apresentando-os todos associados ao tema principal do blog. há uma tendência maior do que o primeiro a  propor reflexões sobre estilos de decoracão e suas respectivas matrizes, devidamente historicizadas. não vejo isso como um problema, ao contrário, acho que dá consistência ao blog. entretanto, as fotos são normalmente reapropriadas da internet, em vez de, como no caso do primeiro, serem em sua maioria fotos das bugigangas adquiridas pelas lojinhas. eventualmente aparecem fotinhos como esta:



me inspirei e adquiri bugiganguinhas lindas na feira de antiguidades do mercado público e no bazar londres (obviamente). outra hora mostro aqui. não sei bem como comecei no kitsch e vim parar aqui, passando pela casa da minha vó e pelo restaurante de cambará, mas ok. curto uma ilusão biográfica de vez em quando.

82. de um novo gênero narrativo de muito interesse

na semana passada precisei deixar uma reclamação no site reclame aqui devido a alguns problemas que tive com uma compra pela internet.
após relatar o meu problema, obviamente fui ler os relatos alheios. e, com certeza, aí está mais um gênero interessantíssimo: as reclamações contra empresas feitas pela internet.
o objetivo dos relatos é bem claro: difundir o mau atendimento recebido por parte de alguma empresa qualquer, descrever minuciosamente a situação que o levou a reclamar, apontar as injustiças que você pensa ter vivido e exigir uma reparação pública dos erros cometidos.
diante do objetivo prático de narrar uma injustiça a fim de obter uma reparação, a pessoa que se sente lesada precisa explicitar com clareza cada argumento que ela julga que pode lhe dar razão na disputa. evidentemente, a narrativa se refere a um fato ocorrido mais ou menos de acordo com a descrição dele oferecida. não é apenas uma narrativa ficcional, portanto, mas uma narrativa com um referente no real. isso não significa, claro, que este real tenha acontecido tal qual a pessoa narrou.
bom, em geral a pessoa relata seu problema, expõe uma série de mazelas que sofreu nas mãos da empresa e a dita cuja procura dar uma solução, ainda que parcial, ao caso. ou seja, as empresas normalmente não conhecem cada caso individual de seus clientes e, diante de uma reclamação pública, procuram contornar a situação do dilema de forma razoável.
um caso, dentro deste contexto, me chamou particular atenção. refere-se a uma moça que afirma ter adquirido alguns livros na livraria cultura e, possuindo as etiquetas de troca, tentou trocá-los por outros títulos. chegando à livraria, sua solicitação foi recusada, contrariando a prática habitual da empresa. a moça, sentindo-se lesada, reivindicou seu suposto direito de trocar os livros adquiridos.
como se não bastasse a narrativa dela, muito bem feita e recheada de bons argumentos, adjetivos e um enredo ótimo, a resposta da loja supera todas as expectativas. a livraria contra-argumenta trazendo uma nova versão dos fatos narrados pela cliente, demonstrando conhecimento sobre a situação particular dela, e apontando explicações razoáveis para a recusa da troca.
não dá pra saber quem tem razão nessa peculiar história, muito embora eu tenha já um favorito a este título. não, não vou dizer. apenas digo que, muitas vezes, ler essas narrativas reais pode ser bem mais interessante do que as ficcionais - bom, falou aqui a historiadora, que adora historinhas que realmente aconteceram. contanto que tenham um bom enredo, contudo.
é bom pra pensar sobre o lugar da narrativa nas nossas vidas cotidianas, e como nossas vidas são repletas de bons enredos. por isso adoro o woody. às vezes, lendo essas coisas que se acha na internet a gente até é bem capaz de esquecer que são pessoas reais que estão lá do outro lado da tela escrevendo e, mais do que isso, escrevendo sobre coisas que elas efetivamente viveram.
é bem numa hora dessas, bem no meio do "reclame aqui", que tu encontra o marcus vinícius reclamando da operadora do celular dele (aliás, ótimo texto, hein, marquito?). de volta à realidade.
àqueles que se interessarem pela excelente historieta da livraria e a da moça das trocas, eis o linque para seu divertido episódio.
àqueles que se interessarem pela malfada tentativa do marquito de trocar de operadora, eis, também, o linque.

81. penteados de casamento

não, eu não estou olhando sites de casamento.
na verdade, tenho me interessado por blogs sobre decoração para pobre, com instruções sobre como encontrar ótimas peças para a sua casinha em lojas baratilhas, de um e 99 e afins. obviamente, tenho feito isso porque nossa casa AINDA está parecendo um depósito e ontem o alexandre deixou por aqui um orçamento de móveis beeeeeem salgadinho. além disso, conto com uma variedade incrível de lojas do gênero aqui mesmo, no bairro - dentre as quais o destaque vai, claro, para o bazar londres (desde 1980!).
enfim, indo de blog em blog acabei caindo em um com um post sobre um site americano cujo assunto principal são penteados de casamento. lembrei-me imediatamente da flávia, que tem estado demasiado atucanada com seu wedding ultimamente, quem sabe esse site não é capaz de acalmá-la?
vou deixar a dica: http://www.weddinghair.com/
para dar aquela vontadezinha de ir visitá-lo, deixo uma palhinha, daquelas beeem sarcásticas, com o que você é capaz de encontrar:

desculpa gente, mas essa última aí é o noivo?!
eu sei que é uma merda as pessoas verem suas fotos assim, na internet, mas essas "dicas" passaram dos limites, né?