Páginas

1.4.10

82. de um novo gênero narrativo de muito interesse

na semana passada precisei deixar uma reclamação no site reclame aqui devido a alguns problemas que tive com uma compra pela internet.
após relatar o meu problema, obviamente fui ler os relatos alheios. e, com certeza, aí está mais um gênero interessantíssimo: as reclamações contra empresas feitas pela internet.
o objetivo dos relatos é bem claro: difundir o mau atendimento recebido por parte de alguma empresa qualquer, descrever minuciosamente a situação que o levou a reclamar, apontar as injustiças que você pensa ter vivido e exigir uma reparação pública dos erros cometidos.
diante do objetivo prático de narrar uma injustiça a fim de obter uma reparação, a pessoa que se sente lesada precisa explicitar com clareza cada argumento que ela julga que pode lhe dar razão na disputa. evidentemente, a narrativa se refere a um fato ocorrido mais ou menos de acordo com a descrição dele oferecida. não é apenas uma narrativa ficcional, portanto, mas uma narrativa com um referente no real. isso não significa, claro, que este real tenha acontecido tal qual a pessoa narrou.
bom, em geral a pessoa relata seu problema, expõe uma série de mazelas que sofreu nas mãos da empresa e a dita cuja procura dar uma solução, ainda que parcial, ao caso. ou seja, as empresas normalmente não conhecem cada caso individual de seus clientes e, diante de uma reclamação pública, procuram contornar a situação do dilema de forma razoável.
um caso, dentro deste contexto, me chamou particular atenção. refere-se a uma moça que afirma ter adquirido alguns livros na livraria cultura e, possuindo as etiquetas de troca, tentou trocá-los por outros títulos. chegando à livraria, sua solicitação foi recusada, contrariando a prática habitual da empresa. a moça, sentindo-se lesada, reivindicou seu suposto direito de trocar os livros adquiridos.
como se não bastasse a narrativa dela, muito bem feita e recheada de bons argumentos, adjetivos e um enredo ótimo, a resposta da loja supera todas as expectativas. a livraria contra-argumenta trazendo uma nova versão dos fatos narrados pela cliente, demonstrando conhecimento sobre a situação particular dela, e apontando explicações razoáveis para a recusa da troca.
não dá pra saber quem tem razão nessa peculiar história, muito embora eu tenha já um favorito a este título. não, não vou dizer. apenas digo que, muitas vezes, ler essas narrativas reais pode ser bem mais interessante do que as ficcionais - bom, falou aqui a historiadora, que adora historinhas que realmente aconteceram. contanto que tenham um bom enredo, contudo.
é bom pra pensar sobre o lugar da narrativa nas nossas vidas cotidianas, e como nossas vidas são repletas de bons enredos. por isso adoro o woody. às vezes, lendo essas coisas que se acha na internet a gente até é bem capaz de esquecer que são pessoas reais que estão lá do outro lado da tela escrevendo e, mais do que isso, escrevendo sobre coisas que elas efetivamente viveram.
é bem numa hora dessas, bem no meio do "reclame aqui", que tu encontra o marcus vinícius reclamando da operadora do celular dele (aliás, ótimo texto, hein, marquito?). de volta à realidade.
àqueles que se interessarem pela excelente historieta da livraria e a da moça das trocas, eis o linque para seu divertido episódio.
àqueles que se interessarem pela malfada tentativa do marquito de trocar de operadora, eis, também, o linque.

Nenhum comentário: