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13.8.10

122. grande lotte lenya

121.

era uma vez, cinco amigos: ártico, antártico, pacífico, atlântico e índico. de todos, atlântico era o mais garboso. apesar de todos o serem, índico era o mais proparoxítono. e ártico era o chato do grupo. sobre os outros dois ainda são desconhecidas as principais características.
certa vez, ártico mostrou o seu lattes para os outros e todos o acharam inconveniente e ridículo.
pacífico lavou a roupa dos cinco amigos e colocou tudo direitinho para secar. ele era gentil e cuidadoso, e sempre lavava a roupa de todos sem cobranças ou má vontade.
ártico frequentemente estava de má vontade e certa vez foi visitar os outros amigos de cara feia. todos o acharam inconveniente e ridículo. ele chegou a discutir com a mãe de antártico em um almoço de família.
pacífico se descuidou e estragou a corda de estender roupa. chorou aquela tarde como se tivesse perdido um grande amor. índico viu, mas fez que não reparou. achou estranho e não quis assumir nenhuma responsabilidade.
antártico ligou para sua mãe uma tarde, mas ela não atendeu. ele sabia que ela provavelmente estava em casa, mas não atendera de propósito, mesmo sem saber que era ele. isso não tinha nada a ver com as gafes de ártico, pois ninguém ligava para ele de verdade.
atlântico comprou uma bonita bota de inverno e todos gostaram, menos ártico, que também desejava secretamente uma bota de inverno. ao menos, a partir daquele momento, passou a desejar. cada vez que atlântico calçava sua bota, ártico sentia uma forte pressão no peito e uma queimação atrás dos olhos.

12.8.10

120. 101 coisas para fazer em 1001 dias

pretendo realizar 101 coisas em 1001 dias, começando amanhã, sexta-feira 13 de agosto e finalizando também numa sexta-feira, 10 de maio de 2013. achei que a data ficou super cabalística. em vez de 2010, ficou dia 10. em vez de dia 13, ficou 2013. as duas datas são sextas-feiras. os meses não têm nada a ver.
obviamente isso vai mudar ao longo do tempo, então deixei 11 espaços em branco para poder acrescentar coisas com o tempo. talvez algumas delas caiam fora. o que for concluído vai ser riscado.
é bem provável que em duas semanas eu esqueça que fiz esta lista.
o critério é que as tarefas sejam específicas, realistas e mensuráveis.
quem quiser ver quem adaptou a ideia para o brasil, clique aqui.

saúde e bem estar:

1. fazer academia por pelo menos 3 meses sem largar
2. comprar frutas uma vez por mês (e comê-las)
3. beber pelo menos 4 copos de água por dia por 1 mês
4. fazer uma arte marcial

mudanças de hábito:

5. comprar frutas e verduras na feira pelo menos 1 vez por mês por pelo menos 6 meses
6. ficar uma semana sem comer nada de chocolate
7. utilizar mais os princípios do wu-wei
8. ficar pelo menos um mês sem deixar livros e roupas jogadas no quarto
9. ficar pelo menos um mês sem deixar louças espalhadas pela casa
10. passar filtro solar todos os dias por pelo menos um mês
11. lembrar de preparar salada (e comer) todos os dias por, pelo menos, um mês
12. não me incomodar com a vizinha chata por pelo menos 1 mês
13. acordar às 8 e meia todos os dias úteis durante 1 mês

aprendizado:

14. aprender a costurar
15. desenhar pelo menos uma pessoa por semana por pelo menos 3 meses
16. aprender inglês
17. aprender aquarela (sozinha ou com um curso)
18. aprender a melhorar desenhos no computador, independente dos programas necessários pra isso
19. conhecer profundamente as obras de, pelo menos, 5 clássicos do jazz (0/5)

compras:

20. comprar um aparelho de DVD para olhar séries no quarto
21. comprar um scanner
22. comprar duas confortáveis poltronas para a sala de estar
23. comprar algum souvenir do zequinha
24. descobrir um perfume legal e comprar
25. comprar um hd externo
26. comprar - e manter com bateria, tentando levar comigo - um celular
27. comprar um mp3
28. comprar uma panela de pressão (e usar)

casa e organização:

29. colocar os quadros na parede do apartamento
30. fazer duas saídas de gás, uma para o fogão, outra para o chveiro (ou pagar alguém que faça)
31. colocar os lustres em todas as peças do apartamento
32. manter a escrivaninha organizada por 1 mês
33. obter os vídeos que tem eu e o desenho crianças e passar pra DVD
34. fazer um jardinzinho nas sacadas e tentar manter as plantas vivas por pelo menos 3 meses
35. fazer um móvel para organizar os livros bacanas e porta-retratos (mandar fazer)
36. organizar em um quadro ou porta-retratos as fotos lúdicas em que aparecem eu e o desenho crianças
37. organizar os panfletos e cartões de visita deixados na caixinha de correio
38. colocar os acabamentos nos banheiros do apartamento
39. colocar azulejos retrô no lavabo
40. iniciar uma horta de temperos (e mantê-los vivos por pelo menos 3 meses)
41. colocar moldura no quadro do maradona e nos outros de buenos aires
42. mandar reformar o quadro do meu pai e colocá-lo na sala de jantar
43. dar um destino a tudo o que ainda está na casa da minha mãe
44. comprar uma nova jarra para a cafeteira
45. consertar o atari
46. colocar um espelho no banheiro
47. tirar o pó das estantes e dos livros pelo menos uma vez a cada 6 meses
48. passar jimo em todos os móveis de madeira da casa uma vez por ano, no inverno
49. terminar de catalogar todos os livros
50. organizar os arquivos de TODOS os computadores (o meu, o do desenho, o notebook e os dois velhos que não mais funcionam), deletando o que não for mais necessário e dando destino ao que ainda presta
51. montar uma estação de trabalho para fazer os meus desenhos
52. passar o aspirador em todo o apartamento toda semana por pelo menos 3 meses

hobbies e lazer

53. terminar de ver a novela tieta
54. assistir pulp fiction
55. levar a marina em uma festa
56. escrever pelo menos uma história em quadrinhos
57. fazer um álbum de fotografias da viagem ao rio de janeiro
58. reformar pelo menos 3 móveis (0/3)
59. fazer um caderno de receitas customizado
60. ler 3 livros recomendados pelo mário (0/3)
61. terminar de ler "o homem sem qualidades"
62. fazer um abajur
63. criar uma fotonovela
64. escrever um artigo sobre seriados negros norte-americanos, com classificações
65. jantar em pelo menos 3 restaurantes onde nunca estive (todos em porto alegre) (2/3)
66. assistir a todas as temporadas de the big bang theory que saírem até o fim do projeto
67. assistir a todas as temporadas de two and a half men que saírem até o final do projeto
68. assistir a todas as temporadas de everybody hates chris que saírem até o final do projeto
69. fazer uma escultura

viagens:

70. conhecer nova iorque
71. conhecer três cidades brasileiras que ainda não conheço (0/3)
72. voltar a buenos aires
73. fazer turismo de estádios em pelo menos 3 cidades (0/3)
74. conhecer montevideo
75. passar um reveillon em são paulo
76. voltar ao rio de janeiro e vivenciar tudo como se fosse uma novela

metas e desafios:

77. ter um "amigo internacional"ou receber um estudante de intercâmbio
78. assistir a todos os filmes de woody allen
79. colocar pelo menos 50 reais na poupança todo mês (2010/2011/2012/2013)
80. aprender um prato novo todos os meses por pelo menos seis meses (0/6)
81. me hospedar em um hotel em porto alegre (e ir de táxi)
82. dizer "oi" pro júlio e pra regina
83. ler 3 livros em inglês em um ano (0/3)
84. aprender 5 receitas que possam ser servidas em ocasiões especiais, independente do nível de dificuldade (0/5)

profissional:

85. escrever pelo menos 3 capítulos da tese de doutorado
86. publicar minha dissertação de mestrado (ou, pelo menos, revisá-la para isso)
87. escrever um artigo sobre literatura
88. ter mais disciplina de trabalho - ir ao arquivo todos os dias úteis por pelo menos 1 mês

por fim:

89. tarefa secreta
90. decidir se quero fazer isso de novo.

9.8.10

119. graphic novels

estou terminando de ler persépolis.
não tinha muita vontade de ler particularmente esta graphic novel, não sei bem o porquê. acho que porque tudo o que eu tinha ouvido falar, ao menos sobre o filme, era sobre a revolução iraniana.
bom, eu até, como historiadora, me interesso pela revolução iraniana, mas estava com um certo ranço porque queria que os quadrinhos tivessem um outro sentido pra mim, distinto da minha profissão. tenho conhecido muita gente chata na minha profissão e só de pensar em história me sinto um pouco constrangida e incomodada.
mas o que me surpreendeu é que ela é mais uma graphic novel com caráter autobiográfico e cotidiano. bem, na verdade disso eu já sabia - já sabia que era a história de vida da própria moça que escreveu. mas fiquei bastante surpresa, positivamente, com o modo como ela descreveu a própria vida, ainda mais porque, ainda que cotidiana, a gente tem de concordar que o cotidiano em um país em guerra é bastante "diferente". as outras graphic novels que eu tinha lido, que têm esse mesmo tom autobiográfico, falam da vida de pessoas, embora em desacordo com o restante do mundo, muito comuns. tá, isso não é uma coisa ruim, mas é bastante simples ocorrer alguma identificação com essas pessoas. o estranho é se identificar com uma iraniana, sendo que tu não passa de uma brasileira.
a marjane satrapi, autora do livro, é muitíssimo feliz em descrever o encontro de culturas distintas. ela foi criada no irã, mas num irã até certo ponto ocidentalizado. ela estudava numa escola laica francesa, por exemplo. quando a revolução acontece, muitas pessoas são presas e perseguidas, inclusive parentes e amigos dela. muitos são executados. então, começa a guerra contra o iraque e teerã é bombardeada muitas vezes. a vizinha dela morre num desses bombardeios. aos 14 anos, os pais acham melhor mandá-la pra estudar na europa, antes que se meta em alguma confusão. então, ela se torna uma iraniana, com hábitos tradicionalistas (sobre relacionamentos, por exemplo), em viena. e uma estrangeira na europa. obviamente, ninguém está nem um pouco interessado nela. por outro lado, enquanto ela procura se integrar aos hábitos ocidentais, indo a festinhas, lendo sobre autores anarquistas e existencialistas e fumando maconha, se sente culpada e fútil ao ver as notícias de seu país em guerra. sente que abandonou seus pais pra viver uma vida despreocupada e falsamente politizada na europa.
quando retorna ao irã, porém, também não consegue se integrar novamente. suas amigas pensam que ela é uma puta por já ter tido algumas experiências sexuais e não consegue viver sob as normas fundamentalistas que o estado lhe impõe. ela é uma mulher independente, que, mais uma vez, não encontra seu lugar.
achei muito legal porque talvez ela tenha - não necessariamente de propósito - explicitado um pouco dessas experiências na fronteira entre culturas. quer dizer, nem sempre o problema dela na europa estava relacionado a algum tipo de preconceito dos europeus contra os iranianos terceiro-mundistas. muitas vezes era só o modo como os europeus enquadravam as questões políticas, que evidentemente não poderia ser o mesmo modo que ela enquadrava, já que o país dela estava em guerra etc etc etc.
tenho discutido com o desenho como as graphic novels são lugares privilegiados pra gente entender coisas. diferente de um romance mesmo, só em texto, ou de um filme, um romance em quadrinhos proporciona um outro tipo de envolvimento com os personagens. bom, talvez proporcione apenas a mim, mas o fato é que a forma de narrar se torna outra, necessariamente. o que vai no texto e o que vai no desenho são coisas diferentes e complementares... eu acho que a pessoa tem de ser muito, mas muito boa pra conseguir fazer uma coisa dessas, e ainda manter a singeleza e a complexidade dos acontecimentos.
o fun home, da alison bechdel, por exemplo, cita diversos autores como tentativa de compreender a própria história e a do pai, que era homossexual e enrustido e depois se matou. mas esses autores não aparecem de modo maçante, como a academia e os chatos da academia gostam de fazê-los aparecer. eles estão totalmente integrados a um texto que narra uma história de vida e a desenhos que também têm o mesmo papel.
fiquei cobiçando escrever alguma história (pequena) deste tipo.

2.8.10

118. everybody hates chris

estou meio que viciada neste seriado. e estou apaixonada pelo chris rock.
já tinha visto algum filme muito trouxa dele e não tinha gostado, apesar dele ser super gatinho. mas agora que amo o everybody hates chris e vi que é dele, comecei a gostar dele de um outro jeito.
faz algum tempo que acompanho seriados negros americanos, embora sem nenhuma sistemática. acho que esse é imensamente feliz no trato do preconceito: é um tema complicadíssimo e que, se tratado de maneira conveniente, dificilmente pode ser engraçado, na minha opinião. quer dizer, é um assunto duro de manter sério, ao mesmo tempo em que tenha uma proposta de humor.
mas o chris rock, pelo menos tudo o que vi até agora, é imensamente sensível e doce, com um bom humor de alto nível. ele é engraçadíssimo, mas as situações engraçadas do seriado não te fazem achar que não houve alguma dor ou sofrimento.
correndo o risco de que ela leia isso, acho que a minha mãe é muito parecida com a mãe do chris (sim, margarida, tu grita demais). eu me identifico imensamente com os assuntos tratados nos episódios, inclusive algumas coisas pras quais às vezes meus colegas historiadores se mostraram muito pouco sensíveis.
uma delas é sobre ser pobre. eu lembro que quando entrei na faculdade tinha sérias dificuldades pra fazer certas coisas porque, well, eu morava em ALVORADA e trabalhava no turno da tarde. não gosto de fazer chororô de memórias, basta enfatizar que em diversos momentos me envolvi em situações em que as dificuldades inerentes ao local onde eu vivia ou à situação econômica da minha família não eram compreendidas satisfatoriamente. e eu acho que o chris ganha justamente nisso: sem fazer chororô de sua própria condição, ele aponta todos os momentos em que as coisas não eram tão simples. mas por não serem simples, não significa que fossem terríveis: eram boas, caralho.
outra coisa: sim, ele era negro e pobre e tinha uma família unida e bacana, com inúmeras imperfeições,  dificuldades financeiras e tal, mas uma família de que ele gostava. e ele era negro e pobre, mas sabia escrever com perícia, isso não era uma contradição. talvez muita gente não acredite, mas é verdade.
mais um ponto positivo: o cara pode ser pobre e ser soberbo e a sua família não querer se misturar com outros pobres. isso pode acontecer. e pode acontecer de o teu pai até poder fazer uma certa coisa pra ti, que seria legal pra ti se ele fizesse, mas tu não querer que ele faça por alguma estranha sensibilidade que te leva a considerar tudo o que ele JÁ FAZ e todas as dificuldades pelas quais ele passa e o quanto, por conta dele, tu pode ser alguém tão privilegiado em relação aos teus vizinhos. quer dizer, não é que ele próprio tenha se negado, mas tu mesmo reconhece que, diante de tudo o que ele faz e de tudo o que tu sabe sobre a tua própria família, tu sabe que não pode pedir mais isso a ele. nem que esse isso seja algo aparentemente ínfimo.
o chris mostra com muita sensibilidade todos esses momentos em que ele simplesmente decidiu compreender o pai dele, ou a mãe. em que toda uma história familiar vem à tona. e também que nada disso é ruim, meu. isso é ótimo, por isso é tão possível ser feliz, mesmo que a tua casa realmente feda a fábrica de sabão. fede, mas tu não faz chororô, não tem nada demais, tu teve uma ótima infância, ótimos pais - apesar dos gritos e maluquices, tu sabe que eles são boas pessoas e bem intencionadas e que fizeram de tudo pela tua educação, para garantir teu futuro.
o everybody hates chirs é o que há, no momento. não quis me comparar a um negro americano que vivia no bronx nos anos 80 e acho que isso ficou claro. a minha identidade é com as inúmeras situações familiares e escolares mais genéricas. ah, na real, não importa dizer qual é a minha identidade, apenas que há. não gosto de falar assim sobre a minha vida, justamente porque é o modo chato de falar da vida. o modo legal é o modo do chris: com senso de humor, rindo de si mesmo, com senso crítico também e com um fantástico entendimento sobre as posições das pessoas que te rodeavam. esse seriado é o que há.
e sobre preconceito: ele é o melhor de todos. chris rock, eu te amo. são pessoas reais que sofreram preconceito. basta dizer isso. pessoas que viviam coisas muito ruins, mas que reconheciam que seus pais viveram coisas piores, e se mostravam sensíveis a isso. quer dizer, ele dá conta de uma certa história familiar dessas vivências, mostrando a formação de um senso de união, de identidade.
chris rock é o que há.