tag:blogger.com,1999:blog-235934302024-03-05T06:58:16.736-03:00eu e o desenhoc.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.comBlogger136125tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-56566619532421386042015-11-02T21:29:00.003-02:002015-11-03T00:27:07.950-02:00137. um enterro qualquercapítulo 1 - parte 2<br />
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<div class="p1">
<span class="s1">Chegando pontualmente na pequena peça que servia à sua sapataria, Natálio, como fazia todos os dias, ligou a minúscula TV preto e branco que ficava num canto empoeirado, espremida entre os apetrechos que possibilitavam os consertos dos calçados que lá chegavam. Ligou a minúscula TV para, minutos depois, repassando os poucos canais mal sintonizados, constatar que nada ali lhe interessava. Ficou, então, acompanhando o movimento na rua, imerso em seus pensamentos, eventualmente empurrando os joelhos contra o balcão a fim de sentir seus ossos. Eles demarcavam sua identidade mais pura. Pensou em dona Neuza e nos ossos de dona Neuza. Os ossos de dona Neuza sem dúvida durariam mais do que ela, mas será que a identidade dela dependeria disso? </span></div>
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<span class="s1">As bananas estavam mesmo verdes, ela pensou, quando colocou os cachos no expositor. Na noite anterior havia ainda comentado com sua irmã que precisava repensar o fornecedor. As duas viviam juntas num pequeno apartamento térreo, de frente, mas que tinha um fosso de iluminação, que atendia as peças que ficavam nos fundos, capaz de fazer com que os apartamentos de cima escutassem nitidamente tudo o que diziam. A irmã de dona Neuza fazia bolos para fora e lembrou, escutando os comentários sobre o fornecimento de bananas, que para bolos era necessário que as bananas estivessem bem maduras. Mas lembrou também que bastava colocá-las um tempo no forno e poderiam ser utilizadas nas mesmas receitas, mesmo ainda um pouco verdes. Imediatamente sentiu um odor de canela, apesar de não ter canela por perto, mas as bananas a lembravam de uma receita de bolo com bananas e canela e logo associou uma coisa à outra. Fazia tempo que ninguém encomendava o bolo de banana com canela da irmã da dona Neuza.</span></div>
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<span class="s1">Dona Neuza e a irmã, à noite, gostavam de ver TV, mas às vezes precisavam aumentar muito o volume devido às falas dos vizinhos nos apartamentos de cima, que invariavelmente podiam ser ouvidas da sala da casa delas. Também era possível ouvir os passos dos vizinhos de cima, mesmo quando eles não utilizassem calçados com salto. Alguns vizinhos caminhavam pressionando muito os calcanhares no chão, elas percebiam, e observavam uma para a outra como as pessoas eram rudes e despreparadas para ter empatia para com o próximo. Às vezes uma vizinha usava salto e parecia mesmo correr usando os sapatos de salto, batendo-os no assoalho como se batesse pequenos tocos de madeira. A irmã de dona Neuza eventualmente divertia-se imaginando os significados dos barulhos dos vizinhos e pensava na vizinha de cima como uma holandesa andando em tamancos tradicionais. Quando tentava comentar o que pensava, divertida, com dona Neuza, muitas vezes ouvia um “shhh!” quase indignado, mas na verdade indiferente demais para se indignar. É que dona Neuza queria escutar uma notícia ou um comentário qualquer feito por desconhecidos na televisão, e já tinha que fazer sua audição driblar os ruídos vindos dos vizinhos, não queria também ter que lidar com os barulhos da irmã em sua própria casa.</span></div>
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<span class="s1">Dona Neuza cultivava no jardim lateral do apartamento uma hortinha de temperos, para onde ia quando queria pensar na vida ou escutar o vozerio da vizinhança. Uma das coisas nas quais pensava quando remexia nas plantinhas e na terra era na sonhada reforma da cozinha, que planejava como homenagem secreta à sua irmã. Como a irmã fazia bolos e disso tirava seu sustento, dona Neuza justificava a substituição dos antigos ladrilhos hidráulicos originais do edifício por porcelanato novo, na verdade um sonho seu, como se fora uma contribuição sua ao ofício da irmã. O ladrilho da cozinha tinha desenhos geométricos em azul e amarelo, de um azul e um amarelo muito foscos, tanto porque já deviam ser um pouco assim, quanto, pensava dona Neuza, pelo encardido do tempo. Numa reconhecida revista de decoração de tiragem nacional saíra há poucos meses uma moderna cozinha na qual os donos haviam empreendido rotundo investimento na busca por ladrilhos hidráulicos originais dos anos 50, no mesmo padrão daqueles que revestiam o piso da cozinha da dona Neuza, e os editores e redatores da revista festejavam a volta da moda de tão preciosa arte. A bem da verdade, a jornalista Ana Mattos Borba, responsável pela matéria, procurou por mais tempo do que tinha disponível exemplos de ladrilhos raros e lindos em museus do azulejo da cidade. No penúltimo parágrafo, ela julgou importante comentar o quanto aquelas preciosidades agonizavam anônimas em tantos prédios antigos. Enquanto escrevia, Ana Mattos Borba chegou a imaginar os pobres ladrilhos desprotegidos nas mãos de pessoas sem gosto para apreciá-los. Ela sofreu por alguns instantes por aqueles padrões geométricos que jamais conheceria. Isso, naturalmente, foi esquecido durante o jantar, já que precisou esperar as amigas por cerca de meia hora sozinha no restaurante, tendo como única companhia seu telefone celular.</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Enquanto observava o padrão geométrico do ladrilho da cozinha, ela pensava apenas que aquilo era mais velho do que ela e nunca parecia verdadeiramente limpo. Largou os temperos no balcão branco da pia e separou aqueles que pretendia lavar. Antes, contudo, de ligar a torneira, procurou no chão os pontos em que os ladrilhos estavam mal colocados, afetando o padrão, que se desfazia. Dona Neuza sentiu carinho por aquela parte do velho piso, como se fossem um segredo da sua própria vida. Hesitou quanto à reforma, mais uma vez, como ocorria já há tantos anos, porque hesitava abrir mão daquele pedaço de piso em que os losangos amarelo foscos não se encaixavam. Sentiu com aquela parte sem vida do chão uma inesperada cumplicidade. Mas era preciso seguir em frente. Na mercearia, ela lembrou dos planos para a cozinha. Seria perder uma parte de si mesma? Sim, as bananas estavam novamente verdes, era preciso repensar o fornecedor. Ao mesmo tempo, não seria bonito surpreender a irmã com uma cozinha nova? Perdeu-se em pensamentos desconexos ao ter sua atenção chamada pela TV - aparentemente uma nova enchente acometia o sul do estado.</span></div>
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<span class="s1">Natálio não se interessou pela enchente desta vez. Sentia fome. Procurou concentrar-se no serviço para a dona Regina, cliente fiel, que desta vez deixara uma bolsa de couro. A fivela indicava a origem italiana. No interior da bolsa, notou que havia um pelo. Era muito espesso para ser de gato, pensou, e chegou à conclusão de que dona Regina devia ter um cachorro preto, que tinha acesso à bolsa. Talvez o cachorro fosse o responsável pelo dano na alça, que Natálio agora tentava reparar. Lembrou-se que, em sua displicência, esquecera de deixar um potinho cheio de água para o gato. Teria de ir até em casa no horário de almoço, o que talvez atrasasse ou inviabilizasse sua ida ao hospital. Sentia fome. </span></div>
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<span class="s1">A sapataria de Natálio não era mais do que um corredorzinho onde se espremia um balcão atrás do qual Natálio trabalhava e atendia. Da rua, se via uma porta e uma peça estreita e escura, onde ao fundo uma estante exibia botas femininas, com canos altos dobrados, pendendo sobre outros calçados, e também botas masculinas, gaudérias. Alguns sapatos de cano curto, uns poucos sapatos de salto. Num balcão ainda menor, à esquerda da estante, ficavam os instrumentos de trabalho de Natálio e vez ou outra ele precisava procurar alguma coisa perdida dentro de uma gaveta. Em cima de um banquinho, ao lado da passagem através da qual se chegava atrás do balcão, ficava a TV preto e branco, raramente ligada, utilizada mais para que Natálio pudesse ter o atrativo de escutar outras vozes humanas do que pelo conteúdo do que essas vozes diziam. A passagem para trás do balcão era tão estreita, tão estreita, que apenas alguém tão esguio quanto Natálio podia se contentar com ela. E atrás daquele balcão de madeira crua, mal cortado e mal montado, onde algumas anotações à caneta podiam ser vistas na superfície, como se alguém tivesse usado a superfície de madeira para fazer algum cálculo urgente, Natálio passava seus dias sentado em uma cadeira cujo estofamento estava rasgado. Não havia mais a chance de cálculos urgentes serem novamente necessários, tornando imperioso que se riscasse com a caneta a superfície de madeira, uma vez que Natálio agora tinha sempre consigo um bloco de anotações e uma calculadora. Assim mesmo, outras urgências da vida o faziam rabiscar com estrelas e quadrados, que depois se tornavam cubos, o velho balcão.</span></div>
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<span class="s1">Ao meio-dia foi em casa, deu água ao gato e aproveitou para comer os restos do guisado guardado na geladeira. O gato secretamente suspeitava que acabaria tendo direito sobre o guisado, já que Natálio frequentemente esquecia os potinhos com restos de comida na geladeira e acabava jogando-os no pote de comida do gato. O gato lembrava pelo menos umas duas ou três vezes em que essa sorte de coisa ocorrera. Ele naturalmente preferia a ração, que já se fazia de tantas formas e sabores diferentes, mas não dispensava imaginar se a comida da geladeira poderia chegar ao seu pote de comida. Quando isso ocorria, geralmente tocava a comida fria com o nariz algumas vezes, cara de profundo desgosto, para em seguida recolher-se em outro cômodo da casa, demonstrando que o jantar não estava no seu agrado. Uma vez o gato realmente incomodou-se com tamanho desaforo e miou alto, um mio alto e longo, muito longo, um pouco persistente demais. Estava indignado. Ao recolher-se na sala, notou que Natálio abaixava-se para alcançar o potinho, depois raspava no lixo a comida dentro dele, depois lavava o potinho e por fim colocava a ração favorita do gato no lugar dos restos. Mas o gato apenas olhou emburrado, de longe, sem dirigir-se afobado à comida, como o cachorro da dona Regina poderia fazer, sem dignidade. Ao contrário, demonstrou que já estava envolvido com outras coisas, ao espreguiçar-se longamente sobre o tapete, arranhando um pouco, de propósito, a tecelagem. Depois virou de costas e dormiu, ou fez que dormiu, infelizmente nunca saberemos ao certo. Natálio também já havia se envolvido com outras coisas, mas, desta vez, de fato isso havia ocorrido, e esqueceu-se de chamar o gato para a refeição. Alguns minutos depois, deu-se conta de que o gato não havia aparecido na cozinha por conta própria e o chamou:</span></div>
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<span class="s1">- psipsipsipsipsipsi…</span></div>
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<span class="s1">O gato, num sobressalto, já esquecido do desentendimento, ficou de orelhas atentas, olhou por alguns instantes para a cozinha, de onde vinha o som, e, majestoso, caminhou rápido, mas sem correr. Comeu a ração.</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Natálio comeu o guisado pensando tão somente em ter tempo de chegar ao hospital. Era um ritual mais para si mesmo do que uma demonstração de devoção com seu irmão, embora sentisse certo tipo de dívida pelo fato de ser o único ainda saudável da família. Ia todos os dias ao hospital visitar o irmão. Sentava-se ao lado da cama e lá ficava, muitas vezes sem dizer nada, pois parecia a ambos que não havia nada a ser dito. Tudo estava dado. Era como se sobre os lances irreversíveis da vida não houvesse palavras, afinal nenhuma era tão densa, tão poderosa, tão cheia de sentido. Natálio era um homem simples e não se reconhecia com a possibilidade de combinar certo número de palavras que fossem capazes de dizer qualquer coisa de relevante sobre sua situação. </span></div>
c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-60367710512819820912015-11-01T17:42:00.005-02:002015-11-01T17:53:38.874-02:00136. um enterro qualquer<b>capítulo 1</b><br />
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<span class="s1">A chaleira chiava na cozinha. No quarto, Natálio calçava os sapatos vagarosamente. Enquanto escutava o barulho da chaleira, pensava e observava cada pequeno pedaço de seus pés. Masseageava suavemente cada dedo, todos os dias, sentindo os ossos. Pensava nesses ossos que sustentavam seu corpo e que eram tudo o que restaria dele no futuro, como era tudo o que restava hoje de Emília. Massageava seus ossos dos pés, analisava o meio dos dedos, à procura de feridas ou alergias. Massageava seus ossos dos pés - eram <i>seus</i> ossos - e enquanto sentia essa camada interna e dura de si mesmo questionava se ela não era a sua mais sólida identidade. Seus ossos seriam tudo o que restaria de si mesmo, um dia. A sua própria existência seria resumida a estes mesmos ossos hoje protegidos, e a algumas lembranças que deixaria na memória de meia dúzia de pessoas. Apalpou o dedão esquerdo, notou uma pequena rouxidão. Seria um tumor? Mas não tinha ele batido contra a quina da mesinha da sala? Quando foi isso, ontem? Não, anteontem. Foi quando Natálio retornava da feira, como fazia toda quarta-feira. Então, bateu na mesinha na quarta-feira e somente agora ficou roxo. Será possível levar tantos dias para uma unha ficar roxa? Talvez o roxo não viesse da batida na mesinha. Deveria observar? Sim, provavelmente o mais prudente seria manter o dedão sob observação a fim de acompanhar o desenvolvimento da rouxidão e assim, quem sabe, verificar se sua procedência poderia mesmo estar relacionada à batida. Ainda com as mãos tocando suavemente a superfície do dedo, averiguando se sentia dor, Natálio prestou atenção no barulho da chaleira na cozinha. Há quanto tempo já estava fervendo a água para fazer seu café? </span></div>
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<span class="s1">Natálio colocou as meias e a seguir os sapatos mocassins já antigos, mas cujas solas ele já havia remendado algumas vezes em sua própria oficina. Levantou-se da beira da cama, onde estava sentado, resignado com o próprio fracasso em cuidar coisas simples como o tempo de fervura da água para o café. Contemplou a chaleira assoviando sobre a chapa do fogão, lembrou-se do roxo da unha no pé esquerdo que não teria capacidade de cuidar. Tentou sentir a unha sob o couro do sapato, mas não sentiu nada. Enquanto despejava a água quente sobre o filtro de café, pensou ter sentido uma leve dormência, talvez um formigamento, o que o fez colocar a chaleira de lado enquanto a água escorria pelo filtro reaparecendo escura do outro lado. Sentou-se no banquinho moxo que ficava próximo à pia e retirou com cautela primeiro o sapato e a seguir a meia do pé esquerdo. Olhou para a unha, que continuava exatamente do mesmo jeito que minutos antes. Ponderou por um momento se o sapato não iria “sufocar” o machucado, se não deveria deixá-lo arejado utilizando chinelos ao invés do surrado mocassim. Ainda descalço continuou a despejar a água para fazer o café, ciente dos inúmeros descuidos cometidos em apenas uma manhã e que poderiam lhe custar graves atrasos na sapataria. Sentia o frio do piso da cozinha nos dedos dos pés e nos calcanhares. Era sua pele que sentia, não seus ossos. Eram seus nervos que sentiam frio ou dor. Pisou com mais força até sentir o osso do dedo, ele ainda estava ali, o osso do seu dedo, de onde vinha quem ele era, que lhe dava sua identidade mais perene, pois seriam seus ossos que perdurariam a seus nervos. </span></div>
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<span class="s1">O café estava pronto e o cheiro quente se espalhava por toda casa. Natálio gostava de adoçar seu café e o tomava sempre com o acompanhamento de uma fatia de pão com requeijão, toda manhã. Sentou-se diante da pequena mesa ao lado da geladeira e, enquanto comia, o gato malhado em preto e branco se aproximava sorrateiro do dedo roxo. Depois, cheirou a meia e o interior do sapato, largados perto da pia e concluiu que nada daquilo lhe interressava. Mexeu as orelhas como se condenasse Natálio por lhe proporcionar uma vida tão insossa. Miou contrariado umas duas vezes e depois deitou num canto da cozinha, fazendo Natálio pensar em como aquelas condenações eram forçadas, pois o gato não tinha ele próprio força de vontade para mudar sua vida e para lhe acrescentar aventuras. Natálio puxou um pedaço miúdo do miolo do pão e enrolou em uma bolinha, bem pequena, bem pequena mesmo, que ficou tão enroladinha que nem parecia mais um pedaço de pão, mas um pedaço de qualquer outra estrutura sólida que não podia ser fruto de farinha, leite e ovo. Após breve contemplação daquela bolinha, constatou que sua perfeição era apenas aparente e saltavam aos olhos as rugosidades do pão, que só ficavam bem apertadas por pouco tempo após o contato com os dedos. Mastigando uma mordida daquele mesmo pão que era o pai da bolinha, atirou-a, a bolinha imperfeita, no gato. A bolinha bateu de forma diferente do que se imaginaria no pelo das costas do gato, sem causar a ele qualquer perturbação. Natálio pensou, “aí está, nem assim tu reage, gato”. Como poderia Natálio ser responsável pelo tédio de um gato incapaz de se revoltar com a bolinha, de senti-la, de agredir Natálio por tê-la atirado?</span></div>
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<span class="s1">A bolinha só era visível pois havia estagnado numa das partes pretas do lombo do gato, que ainda dormia na ignorância das infâmias que se lhe cometiam pelas costas, ficando visível que ela não passava mesmo de um farelo de pão, uma sujeira que o gato derrubaria no chão da cozinha tão logo se mexesse ou se levantasse. Natálio imaginou aquela bolinha outrora perfeita caindo pesada sobre o chão branco da cozinha, permanecendo lá por vários dias até se juntarem a ela cabelos e pelos de gato, poeiras de todos os cantos, e aquela bolinha de pão se tornar definitivamente uma bolinha de sujeira. Levantou-se imediatamente e retirou a bolinha das costas do gato, que imaginou estar recebendo um carinho e virou a barriga para cima. Natálio roçou suavemente o dedo com a unha roxa na barriga do gato enquanto jogava a bolinha de pão no lixinho da pia. O gato gostou do carinho, mas mesmo assim tentou segurar o pé machucado de Natálio com as unhas e torná-lo algum tipo de inimigo, fazendo com que Natálio retirasse com despeito e rancor o pé de perto do gato e, sentado no banquinho moxo, recolocasse a meia e o mocassim. O gato se esfregava nas pernas de Natálio. </span></div>
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<span class="s1">Era mais um dia que começava, exatamente como todos os outros, exceto pelos deslizes que mudavam todos os dias e que recobriam a rotina de Natálio de fracassos. Não fora capaz de cuidar da saúde da parte de baixo de sua unha, o que lhe custava um dedo roxo embaixo da unha, sabe-se lá com que infecções podendo ali se formarem. Também, entretido com a verificação meticulosa do problema na unha, esqueceu a chaleira fervendo no fogão, atrasando o tempo de fazer o café e consequentemente atrasando sua chegada à sapataria. Talvez hoje ele tivesse que se privar de ver as frutas na mercearia da rua de trás antes do trabalho. Apenas passaria em frente da porta da dona Neuza com um cordial cumprimento, mas sem a tradicional apreciação das bananas que ultimamente sempre vinham verdes. O que ocasionaria essa antecipação da colheita das bananas? Tudo na natureza não devia ter seu tempo? Os produtores apenas repassavam o problema do amadurecimento das bananas aos consumidores, ao invés de eles próprios esperarem o momento certo de vender as bananas. Quem deixaria de comprar bananas, mesmo que estivessem verdes? A dona Neuza também não conhecia os produtores das bananas e dizia não poder fazer nada quanto a isso, uma vez que não era responsabilidade dela o estado que as bananas chegavam. Elas eram trazidas numa caminhonete. O dono da caminhonete também não era responsável pelas bananas. </span></div>
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<span class="s1">Frustrado ao relembrar o incômodo que o problema das bananas lhe causava diariamente, Natálio partiu resoluto direto para a sapataria, sem se culpar por não entrar na mercearia da dona Neuza. Acenou de longe:</span></div>
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<span class="s1">- Bom dia, dona Neuza! As bananas estão verdes, não é? Não, não vou olhar hoje, estou realmente atrasado, respondeu, logo se perguntando intimamente o que comeria no seu lanche das 10h, já que havia preterido as bananas verdes. Sentiu uma fisgada no dedo esquerdo. Era a unha roxa roçando na costura do mocassim. Não havia sentido nada antes porque ainda não tinha caminhado de sapatos. Passou inconscientemente a mancar, na tentativa de proteger o pequeno machucado de novas contusões provocadas pela textura do calçado. Se deu conta que faltava alguma coisa, que havia esquecido de algo muito importante. O que poderia ser?</span></div>
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<span class="s1">Ajeitou um pouco o sapato esquerdo com o bico do sapato direito, imaginando que reposicionando a costura a fisgada cessaria. Do que não se lembarava, o que havia esquecido? Enquanto tocava com um pé a parte de trás do outro pé, ajeitando o sapato, olhava para o céu azul e pensava como já estava quente àquela hora da manhã. Sentiu um desconforto também embaixo da camisa, não queria que a camisa limpa ficasse suada tão cedo, mas estava parado no sol e isso agora parecia inevitável. Seguiu seu caminho mancando um pouco, secando com um lenço as pequeníssimas gotas de suor que haviam se formado na testa e no pescoço, tentando evitar tocar as mãos suadas na camisa limpa. O que havia esquecido, afinal? Não devia estar segurando alguma coisa?</span></div>
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<span class="s1">As bananas! Devia estar segurando as bananas que comprava diariamente na mercearia, após breves infortúnios ao discutir com dona Neuza sobre a condição em que as bananas ultimamente se encontravam. As bananas que comia sempre às 10h da manhã na mercearia, duas pela manhã, separando outras duas para a tarde.</span></div>
c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-41565727600463109582014-12-12T21:40:00.001-02:002014-12-12T21:43:55.546-02:00134. a cidade pequena é cosmopolitapoucos meses na cidade pequena me habilitam a esta sorte de constatação. um evento cotidiano pode ser ilustrativo aos descrentes:<br />
rodoviária da cidade pequena, domingo à meia-noite. na fila de embarque, os seguintes cidadãos entregam o bilhete ao motorista: mulher muçulmana com véu enrolado nos cabelos; casal gay que se beija apaixonadamente em função da despedida; grupinho de jovens do tipo tropicalista-cabelo-ao-vento-gente-jovem-reunida, que aparentemente se comunicava por meio de frases acompanhadas pelo violão; eu e o desenho.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-63535233636854341212014-09-21T12:27:00.001-03:002014-09-23T15:50:28.192-03:00133.embora fosse imensamente caricatural, o grande e desengonçado historiador, com aqueles seus sebosos cabelos caindo-lhe nos ombros, era sincero e crente.<br />
naquele dia ele caminhava atento na mais larga rua para pedestres da cidade, atento a algo de que apenas ele tinha conhecimento. talvez atento a algo que lhe haviam dito e que ainda remoía, ressentido. os olhos fixos no chão que se movia sob seus pés, é bem provável que ele sequer percebesse tudo o que corria a sua frente - os papeis oferecendo aparelhos dentários, os pequeníssimos fragmentos de folhas de árvores, as guimbas de cigarro levemente marcadas de batom.<br />
na quadra seguinte esbarrou com um conhecido e rapidamente deixou-o a par de seu último artigo publicado. sua existência deveria ser entendida por todos como dedicada ao seu trabalho, seu adorado trabalho, a que se entregava por horas sofridas de seus longos e estúpidos dias. acreditava piamente em sua rígida disciplina de trabalho, todos os dias escrevia 5 páginas, mesmo que não precisasse. sua escrita era pomposa e riquíssima em detalhes desnecessários, o que provavelmente causaria nos outros uma impressão de seriedade e distinção acadêmica. o historiador lia com deleite todos os autores que utilizassem um linguajar afrancesado. quem sabe isso seria herança da instituição que o formou...<br />
<br />c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-82726338835364019702014-09-21T12:25:00.001-03:002014-09-23T00:11:51.701-03:00132.pacífico lavou, estendeu e passou os próprios lençois por três vezes em uma mesma semana. nunca estavam perfeitamente limpos. índico notou e achou o amigo demasiado exigente, mas nada disse para não se comprometer com nenhuma opinião. ademais, era sempre pacífico que recolhia as louças que ele deixava pela casa.<br />
ártico obteve uma grande conquista, mas ninguém quis demonstrar contentamento com isso, pois o amigo costumava tornar-se arrogante. ártico sentiu-se ignorado e resolveu que tornaria ainda mais evidentes todos os seus ganhos.<br />
atlântico ficou em casa lendo um livro. ninguém se importou, a não ser antártico, que reparou no título do livro e ficou curioso. antártico surpreendeu atlântico com um beijo na boca. ninguém mais viu. antártico não teve nenhuma culpa, mas sentiu-se culpado e trancou-se no quarto por 7 dias e 7 noites. na última delas, atlântico foi encontrá-lo em seus aposentos.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-34833477582513903522014-09-21T12:21:00.000-03:002014-09-21T12:21:43.739-03:00131. cidade pequena, cidade grande - texto 2a sexta-feira à noite da cidade pequena é deveras diferente da sexta-feira à noite na cidade grande, mas não se engane aquele que imagina que não há nada para fazer. na cidade pequena as distâncias são menores e você vai a todo lugar com os próprios pés. e foi assim que me dirigi, na sexta-feira à noite, a um bistrô / bar de culinária hispânica, onde bebi vinho e comi pizza (mas com sabores do mediterrâneo).<br />
no caminho havia poucas pessoas na rua. uma das características da cidade pequena é ter mais cães sem dono soltos nas ruas do que transeuntes em busca de diversão. nas poucas quadras que caminhei até meu destino, três estabelecimentos me chamaram a atenção. o primeiro era um snooker repleto de homens bebendo sua cachacinha e jogando sinuca. o bar tinha jeito de ser daqueles que virava a noite com seus habitués. o segundo estabelecimento era o rotary club. dava pra perceber alguma movimentação lá dentro, algumas luzes acesas, mas sem dúvida não se comparava ao agito em que se encontrava um dos museus chiques da cidade (o terceiro "estabelecimento"), onde uma reunião social ocorria animadamente. de fora, eu podia ver os charmosos lustres de cristal em pleno uso, os flashes atingindo rostos supermaquiados de senhoras que seguravam taças de champagne. pessoas bem vestidas e perfumadas se aglomeravam lá dentro, com rostos felizes e conversações polidas. acredito que o convescote era somente para convidados, segui até o meu próprio destino.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-3663931529038188042014-09-20T15:02:00.002-03:002014-09-20T15:10:09.114-03:00130. a rodoviária de baudelairequando estou na cidade pequena, sempre me pergunto qual seria a opinião de baudelaire sobre a vida que se leva em seus limites. ainda não conheço plenamente os limites da cidade pequena, mas desconfio seriamente que eles existem.<br /><br />tanto na cidade pequena quando na grande, talvez existam poucos ambientes mais interessantes e rebuscados do que uma rodoviária. a possível exceção são os ônibus que chegam e partem dela diariamente. na rodoviária nós podemos ver as pessoas. nós podemos ver as pessoas não como as vemos numa praça, ou andando na rua. nós vemos as pessoas que, por uma razão ou outra, precisam deixar uma cidade. em um período limitado de tempo nós temos contato direto com fragmentos inusitados da vida alheia. a rodoviária, um dos ambientes mais baudelaireanamente modernos que se encontra ao redor do mundo, seja numa cidade pequena, seja numa cidade grande, nos remete ao fugidio, ao transitório, ao anônimo, ao desconhecido. e, contraditoriamente, nos arremessa para o interior da intimidade de pessoas estranhas, as quais, assim esperamos, nunca mais voltaremos a encontrar.<br /><br />o cenário desses encontros cheira a fumaça e fritura e a mim parece o pano de fundo ideal para anonimamente escutar partes de conversas, captar trechos da vida dos outros.<br /><br />rodoviária de uma pequena cidade que eu pensava ser maior do que de fato o era, meio-dia. ouço dois homens conversando na mesa de trás. um deles havia ido para uma cidade grande no fim-de-semana e um de seus objetivos era cometer adultério. achei curioso que o adultério devesse ser cometido na outra cidade. o homem contou uma história, na qual dificilmente se poderia acreditar, em que a mulher o levou para tomar um café num local cuja conta acabou em 72 reais. em função do alto valor, com o qual ele arcou sozinho, não pôde levá-la a um motel, muito embora ela o quisesse mais do que tudo. diante das investidas da mulher, o homem teria respondido, simplesmente, que não tinha mais dinheiro.<br /><br />o companheiro para quem a história era relatada parece ter ficado sinceramente ofendido com o comportamento do amigo, tendo sido inadmissível, para ele, que um homem dissesse a uma mulher que não poderia levá-la a um motel por não ter mais dinheiro. o companheiro melindrado pedia que o outro, o adúltero, não se dissesse mais seu amigo porque, aparentemente, isso poderia jogar definitivamente seu nome na lama. o aspirante a adúltero, diante das reprimendas do amigo, mudava várias vezes a narrativa, a fim de se adequar ao padrão de comportamento esperado pelo outro. já não era mais por falta de dinheiro que ele não levara a mulher ao motel, mas sim porque ela "tinha bafo", por exemplo.<br /><br />o amigo do aspirante a adúltero exercia uma grande influência sobre ele e provavelmente foi quem o convenceu a ir para a cidade grande em busca de aventuras sexuais. o aspirante, inseguro e provinciano (assim como seu amigo), fazia todo o possível para provar sua masculinidade. os critérios para ser visto como um homem me soaram ligeiramente arbitrários, estabelecidos pelo amigo influente, e não inteiramente compreendidos pelo outro. códigos de ética masculina contraditórios conviviam na relação entre os dois, mas a necessidade de contar histórias notavelmente falsas que deveriam ser aceitas como verdadeiras parece ser um aspecto comum no convívio entre os dois.<br /><br />outro ponto digno de nota no relato sobre a tentativa malfadada de adultério é o modo como a cidade grande é narrada. em momento algum pareceu irritantemente falso o fato de uma conta de café ter custado 72 reais. é como se fosse possível contar histórias exageradas acerca da cidade grande.<br /><br />também não diminuía a masculinidade dos amigos o fato de que esperavam cometer adultério fazendo uso de pílulas azuis.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-83038294250463340412014-09-19T20:18:00.001-03:002014-09-19T20:33:43.243-03:00129. cidade pequena, cidade grande - texto 1<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
os habitantes da cidade pequena geralmente vangloriam-se de características do local onde vivem supostamente adoradas por todos. eles imaginam que todos gostam, por exemplo, do fato de todo mundo se conhecer e de todos cumprimentarem a todos diariamente. é como se o anonimato da cidade grande fosse indesejável. a cidade pequena se pensa acolhedora em função de todos se conhecerem, como se não fosse acolhedora a possibilidade de estar só. há uma tranquilidade socialmente reconhecida na cidade pequena, mas a tranquilidade do anonimato, da possibilidade da solidão, da livre escolha dos vínculos que a cidade grande confere em geral não é reconhecida como tal.<br />os habitantes da cidade pequena têm seus assuntos favoritos. um deles, é claro, é o tempo. muitas conversas começam com um comentário: “esfriou”. a cidade pequena é acolhedora porque as pessoas sempre estão dispostas a conversar umas com as outras. boa parte das conversas, contudo, estão restritas a esta sorte de constatação meteorológica que, ademais, nem sempre é compartilhada por todos os interlocutores. em boa parte das vezes em que os habitantes da cidade pequena me interpelam com algum comentário a respeito da suposta queda abrupta da temperatura eu não penso que esteja realmente frio ou que a temperatura efetivamente caiu. de todo modo, creio não ser polido discordar a respeito de tão trivial questão.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-30759235567505409132012-01-17T21:32:00.001-02:002012-04-18T13:34:02.887-03:00128. à meia-noite levarei sua almaacho que ainda vou precisar de muito tempo para compreender a complexa genialidade de zé do caixão. assisti hoje a seu primeiro filme, de 1964.<br />
em que se baseia o sistema de valores de zé do caixão? como a ausência da fé em uma divindade leva à recusa a aderir a um sistema ético laico? o que simboliza a busca pela mulher perfeita para gerar uma prole diante da ausência de deus?<br />
são questões que permanecerão sem respostas, pois a crítica ainda não é capaz de formular uma interpretação razoável a tão sofisticado enredo.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-87487764849656747432011-03-03T21:15:00.000-03:002011-03-03T21:15:46.554-03:00127. experiência antropológicaesta semana estou dando aulas em cachoeirinha.<br />
embora tenha me apegado a algumas crianças da quinta série, mas especialmente às da sexta, não estou gostando.<br />
uma amiga me ensinou na véspera do meu primeiro dia: utilize os ensinamentos da supernanny e do encantador de cães. eu acho que a supernanny está correta nas suas aplicações behavioristas totalmente out na faced. mas acho isso cansativo demais. a criança não quer ficar sentada, você pega a criança pelo braço e a coloca de novo no banquinho. ela levanta. você pega ela pelo braço e a coloca de novo no banquinho. ela levanta. você pega ela pelo braço e a coloca de novo no banquinho. e assim por diante, indefinidamente.<br />
sempre que eu assistia a supernanny eu pensava que em alguns casos o melhor seria os pais desistirem de seus fihos pentelhos e começarem tudo de novo, do zero. recuperar seria muito trabalhoso.<br />
bom, dar aulas pra quinta série é ter 30 destes durante duas horas. e ter de levar todos eles até suas classes e sentá-los, tantas quantas forem as vezes que eles levantarem. e eles fazem isso juntos. é como um daqueles jogos de atari, tu recolhe um, já tem outros 30 saindo do lugar de novo.<br />
eu pretendia tomar isso como uma experiência antropológica, mas, na verdade, eu estou odiando. espero nunca mais ter de aulas pra crianças de novo.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-47901964090181560432011-02-22T14:36:00.000-03:002011-02-22T14:36:45.252-03:00126. coisas de que eu preciso para o carnaval- internet<br />
- tv a cabo<br />
- que arrumem o quarto pra mim<br />
- que me sirvam o café com bastante variedade<br />
- frigobarc.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-19976711018182355252011-02-15T16:45:00.001-02:002011-02-15T21:56:26.851-02:00125. outro filme do ben stiller2009 - Uma noite no museu 2 (Night at the museum: Battle of the Smithsonian)<br />
2008 - Madagascar 2 (Madagascar: Escape 2 Africa) (voz)<br />
2008 - Trovão tropical (Tropic thunder)<br />
2008 - Marc Pease experience, The <br />
2007 - Elmo's Christmas countdown (TV) <br />
<strike>2007 - Antes só do que mal casado (Heartbreak kid, The)</strike><br />
2006 - Danny Roane: First time director <br />
2006 - Tenacious D in: The pick of destiny<br />
<strike>2006 - Escola de idiotas (School for scoundrels)</strike><br />
<strike>2006 - Uma noite no museu (Night at the museum)</strike><br />
2005 - Madagascar (Madagascar) (voz)<br />
2004 - Sledge: The untold story <br />
<strike>2004 - O âncora - A lenda de Ron Burgundy (Anchorman: The legend of Ron Burgundy)</strike><br />
<strike>2004 - Com a bola toda (Dodgeball: A true underdog story)</strike><br />
<strike>2004 - A inveja mata (Envy)</strike><br />
<strike>2004 - Starsky & Hutch - Justiça em dobro (Starsky & Hutch)</strike><br />
<strike>2004 - Entrando numa fria maior ainda (Meet the Fockers)</strike><br />
<strike>2004 - Quero ficar com Polly (Along came Polly)</strike><br />
2003 - Nobody knows anything<br />
<strike>2003 - Duplex (Duplex)</strike><br />
2002 - Correndo atrás do diploma (Orange County)<br />
2002 - Run Ronnie Run!<br />
2002 - You'll never wiez in this town again<br />
<strike>2001 - Os excêntricos Tenenbaums (Royal Tenenbaums, The)</strike><br />
<strike>2001 - Zoolander (Zoolander)</strike> <br />
2000 - Mission Improbable (TV)<br />
2000 - Produção Independente (Independent, The)<br />
<strike>2000 - Entrando numa fria (Meet the parents)</strike><br />
2000 - Preto e branco (Black and white)<br />
<strike>2000 - Tenha fé (Keeping the Faith)</strike><br />
1999 - The Suburbans - O recomeço (Suburbans, The)<br />
1999 - Heróis muito loucos (Mystery Men)<br />
1998 - Uma vida alucinante (Permanent midnight)<br />
1998 - Seus amigos, seus vizinhos (Your friends & neighbors)<br />
<strike>1998 - Quem vai ficar com Mary? (There's something about Mary)</strike><br />
1998 - Efeito zero (Zero effect)<br />
<strike>1996 - O pentelho (Cable guy, The)</strike><br />
<strike>1996 - Procurando encrenca (Flirting with disaster)</strike><br />
<strike>1996 - Lado a lado com o amor (If Lucy fell)</strike><br />
1996 - Um maluco no golfe (Happy Gilmore)<br />
1995 - Turma da pesada (Heavyweights)<br />
1994 - Caindo na real (Reality bites)<br />
1992 - Highway to Hell<br />
1990 - A sorte no lixo (Working Tra$h) (TV)<br />
1990 - Stella - Uma prova de amor (Stella)<br />
1989 - Elvis stories<br />
1989 - Marcados pelo ódio (Next of Kin)<br />
1988 - Obsessão (Fresh horses)<br />
1987 - Império do sol (Empire of the sun)<br />
1987 - Hot pursuit<br />
1987 - House of blue leaves, The (TV)c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-31513234408311026842011-01-11T09:44:00.000-02:002011-01-11T09:44:40.958-02:00124. telefonema estranhodesde que temos nosso número de telefone atual, fiz o seu bloqueio no site do procon pra evitar que empresas de telemarketing fiquem enchendo o saco.<br />
assim mesmo, de vez em quando recebo algumas ligações não identificadas, que me impedem de fazer a devida denúncia. hoje, pontualmente às 9 horas, me ligou o número 51 21080600. eles me perguntavam se eu era anísio bernardin. se eu fosse, devia discar 1. se eu conhecesse, devia discar 2. se eu não fosse nem conhecesse, devia discar 3. em seguida, a ligação foi interrompida, sem nenhuma identificação.<br />
fiz a denúncia mesmo sem saber de quem era. e resolvi postar aqui pra quem, como eu, resolver procurar o número do google quando receber o mesmo tipo de telefonema.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-39938562395370969132010-09-28T13:08:00.000-03:002010-09-28T13:08:35.121-03:00123. luxo.<a href="http://malaguetacomunicacao.com.br/2010/09/paris-ganha-bebedouro-publico-de-agua-gaseificada/">paris ganha bebedouro público de água gaseificada.</a><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxi_n3mWHpzMLouF0SCqiqMj25Gt5T5pXeiBPOghxizZRmHueU3yyBt-1qj8E7cp-_m8dJWm6mJwELw-jv3cR1igyRJa89wDO2sUhF-4f-EISIw8zuEHtP7dceVL5gKlkR_Cl9bA/s1600/luxo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxi_n3mWHpzMLouF0SCqiqMj25Gt5T5pXeiBPOghxizZRmHueU3yyBt-1qj8E7cp-_m8dJWm6mJwELw-jv3cR1igyRJa89wDO2sUhF-4f-EISIw8zuEHtP7dceVL5gKlkR_Cl9bA/s320/luxo.png" width="269" /></a></div>c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-17286842626804777752010-08-13T13:32:00.000-03:002010-08-13T13:32:43.266-03:00122. grande lotte lenya<object style="background-image: url("http://i2.ytimg.com/vi/iJKkqC8JVXk/hqdefault.jpg");" height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/iJKkqC8JVXk?fs=1&hl=pt_BR"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/iJKkqC8JVXk?fs=1&hl=pt_BR" allowscriptaccess="never" allowfullscreen="true" wmode="transparent" type="application/x-shockwave-flash" height="344" width="425"></embed></object>c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-87209863825569927812010-08-13T12:59:00.002-03:002010-08-15T00:13:48.790-03:00121.era uma vez, cinco amigos: ártico, antártico, pacífico, atlântico e índico. de todos, atlântico era o mais garboso. apesar de todos o serem, índico era o mais proparoxítono. e ártico era o chato do grupo. sobre os outros dois ainda são desconhecidas as principais características.<br />
certa vez, ártico mostrou o seu lattes para os outros e todos o acharam inconveniente e ridículo.<br />
pacífico lavou a roupa dos cinco amigos e colocou tudo direitinho para secar. ele era gentil e cuidadoso, e sempre lavava a roupa de todos sem cobranças ou má vontade.<br />
ártico frequentemente estava de má vontade e certa vez foi visitar os outros amigos de cara feia. todos o acharam inconveniente e ridículo. ele chegou a discutir com a mãe de antártico em um almoço de família.<br />
pacífico se descuidou e estragou a corda de estender roupa. chorou aquela tarde como se tivesse perdido um grande amor. índico viu, mas fez que não reparou. achou estranho e não quis assumir nenhuma responsabilidade.<br />
antártico ligou para sua mãe uma tarde, mas ela não atendeu. ele sabia que ela provavelmente estava em casa, mas não atendera de propósito, mesmo sem saber que era ele. isso não tinha nada a ver com as gafes de ártico, pois ninguém ligava para ele de verdade.<br />
atlântico comprou uma bonita bota de inverno e todos gostaram, menos ártico, que também desejava secretamente uma bota de inverno. ao menos, a partir daquele momento, passou a desejar. cada vez que atlântico calçava sua bota, ártico sentia uma forte pressão no peito e uma queimação atrás dos olhos.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-66979457080339248302010-08-12T15:13:00.005-03:002014-09-20T11:02:08.044-03:00120. 101 coisas para fazer em 1001 diaspretendo realizar 101 coisas em 1001 dias, começando amanhã, sexta-feira 13 de agosto e finalizando também numa sexta-feira, 10 de maio de 2013. achei que a data ficou super cabalística. em vez de 2010, ficou dia 10. em vez de dia 13, ficou 2013. as duas datas são sextas-feiras. os meses não têm nada a ver.<br />
obviamente isso vai mudar ao longo do tempo, então deixei 11 espaços em branco para poder acrescentar coisas com o tempo. talvez algumas delas caiam fora. o que for concluído vai ser <strike>riscado</strike>.<br />
é bem provável que em duas semanas eu esqueça que fiz esta lista.<br />
o critério é que as tarefas sejam específicas, realistas e mensuráveis. <br />
quem quiser ver quem adaptou a ideia para o brasil, clique <a href="http://www.patriciamuller.com/101/">aqui</a>.<br />
<br />
<b>saúde e bem estar:</b><br />
<br />
<strike>1. fazer academia por pelo menos 3 meses sem largar</strike><br />
<strike>2. comprar frutas uma vez por mês (e comê-las)</strike><br />
3. beber pelo menos 4 copos de água por dia por 1 mês<br />
4. fazer uma arte marcial<br />
<br />
<b>mudanças de hábito:</b><br />
<br />
<strike>5. comprar frutas e verduras na feira pelo menos 1 vez por mês por pelo menos 6 meses</strike><br />
<strike>6. ficar uma semana sem comer nada de chocolate</strike><br />
7. utilizar mais os princípios do wu-wei<br />
8. ficar pelo menos um mês sem deixar livros e roupas jogadas no quarto<br />
<strike>9. ficar pelo menos um mês sem deixar louças espalhadas pela casa</strike><br />
<strike>10. passar filtro solar todos os dias por pelo menos um mês</strike><br />
11. lembrar de preparar salada (e comer) todos os dias por, pelo menos, um mês<br />
<strike>12. não me incomodar com a vizinha chata por pelo menos 1 mês</strike><br />
<strike>13. acordar às 8 e meia todos os dias úteis durante 1 mês</strike><br />
<br />
<b>aprendizado:</b><br />
<br />
14. aprender a costurar<br />
15. desenhar pelo menos uma pessoa por semana por pelo menos 3 meses<br />
16. aprender inglês<br />
17. aprender aquarela (sozinha ou com um curso)<br />
18. aprender a melhorar desenhos no computador, independente dos programas necessários pra isso<br />
19. conhecer profundamente as obras de, pelo menos, 5 clássicos do jazz (0/5)<br />
<br />
<b>compras:</b><br />
<br />
<strike>20. comprar um aparelho de DVD para olhar séries no quarto</strike><br />
<strike>21. comprar um scanner</strike><br />
<strike>22. comprar duas confortáveis poltronas para a sala de estar</strike><br />
23. comprar algum souvenir do zequinha<br />
<strike>24. descobrir um perfume legal e comprar</strike><br />
<strike>25. comprar um hd externo</strike><br />
<strike>26. comprar - e manter com bateria, tentando levar comigo - um celular</strike><br />
<strike>27. comprar um mp3</strike><br />
<strike>28. comprar uma panela de pressão (e usar)</strike><br />
<br />
<b>casa e organização:</b><br />
<br />
29. colocar os quadros na parede do apartamento<br />
30. fazer duas saídas de gás, uma para o fogão, outra para o chveiro (ou pagar alguém que faça)<br />
<strike>31. colocar os lustres em todas as peças do apartamento</strike><br />
32. manter a escrivaninha organizada por 1 mês<br />
33. obter os vídeos que tem eu e o desenho crianças e passar pra DVD<br />
<strike>34. fazer um jardinzinho nas sacadas e tentar manter as plantas vivas por pelo menos 3 meses</strike><br />
<strike>35. fazer um móvel para organizar os livros bacanas e porta-retratos (mandar fazer)</strike><br />
36. organizar em um quadro ou porta-retratos as fotos lúdicas em que aparecem eu e o desenho crianças<br />
<strike>37. organizar os panfletos e cartões de visita deixados na caixinha de correio</strike><br />
<strike>38. colocar os acabamentos nos banheiros do apartamento</strike><br />
39. colocar azulejos retrô no lavabo<br />
<strike>40. iniciar uma horta de temperos (e mantê-los vivos por pelo menos 3 meses)</strike><br />
<strike>41. colocar moldura no quadro do maradona e nos outros de buenos aires</strike><br />
<strike>42. mandar reformar o quadro do meu pai e colocá-lo na sala de jantar</strike><br />
43. dar um destino a tudo o que ainda está na casa da minha mãe<br />
<strike>44. comprar uma nova jarra para a cafeteira</strike><br />
45. consertar o atari<br />
<strike>46. colocar um espelho no banheiro</strike><br />
<strike>47. tirar o pó das estantes e dos livros pelo menos uma vez a cada 6 meses</strike><br />
<strike>48. passar jimo em todos os móveis de madeira da casa uma vez por ano, no inverno</strike><br />
49. terminar de catalogar todos os livros<br />
50. organizar os arquivos de TODOS os computadores (o meu, o do desenho, o notebook e os dois velhos que não mais funcionam), deletando o que não for mais necessário e dando destino ao que ainda presta<br />
51. montar uma estação de trabalho para fazer os meus desenhos<br />
<strike>52. passar o aspirador em todo o apartamento toda semana por pelo menos 3 meses</strike><br />
<br />
<b>hobbies e lazer</b><br />
<br />
<strike>53. terminar de ver a novela tieta</strike><br />
<strike>54. assistir pulp fiction</strike><br />
55. levar a marina em uma festa<br />
56. escrever pelo menos uma história em quadrinhos<br />
57. fazer um álbum de fotografias da viagem ao rio de janeiro<br />
58. reformar pelo menos 3 móveis (0/3)<br />
59. fazer um caderno de receitas customizado<br />
60. ler 3 livros recomendados pelo mário (0/3)<br />
61. terminar de ler "o homem sem qualidades"<br />
62. fazer um abajur<br />
63. criar uma fotonovela<br />
64. escrever um artigo sobre seriados negros norte-americanos, com classificações<br />
<strike>65. jantar em pelo menos 3 restaurantes onde nunca estive (todos em porto alegre) (2/3)</strike><br />
66. assistir a todas as temporadas de the big bang theory que saírem até o fim do projeto<br />
67. assistir a todas as temporadas de two and a half men que saírem até o final do projeto<br />
68. assistir a todas as temporadas de everybody hates chris que saírem até o final do projeto<br />
69. fazer uma escultura<br />
<br />
<b>viagens:</b><br />
<br />
70. conhecer nova iorque<br />
<strike>71. conhecer três cidades brasileiras que ainda não conheço (0/3)</strike><br />
72. voltar a buenos aires<br />
<strike>73. fazer turismo de estádios em pelo menos 3 cidades (0/3)</strike><br />
74. conhecer montevideo<br />
75. passar um reveillon em são paulo<br />
<strike>76. voltar ao rio de janeiro e vivenciar tudo como se fosse uma novela</strike><br />
<br />
<b>metas e desafios:</b><br />
<br />
<strike>77. ter um "amigo internacional"ou receber um estudante de intercâmbio</strike><br />
78. assistir a todos os filmes de woody allen<br />
79. colocar pelo menos 50 reais na poupança todo mês (<strike>2010</strike>/2011/2012/2013)<br />
<strike>80. aprender um prato novo todos os meses por pelo menos seis meses (0/6)</strike><br />
<strike>81. me hospedar em um hotel em porto alegre (e ir de táxi)</strike><br />
<strike>82. dizer "oi" pro júlio e pra regina</strike><br />
83. ler 3 livros em inglês em um ano (0/3)<br />
<strike>84. aprender 5 receitas que possam ser servidas em ocasiões especiais, independente do nível de dificuldade (0/5)</strike><br />
<br />
<b>profissional:</b><br />
<br />
<strike>85. escrever pelo menos 3 capítulos da tese de doutorado</strike><br />
86. publicar minha dissertação de mestrado (ou, pelo menos, revisá-la para isso)<br />
87. escrever um artigo sobre literatura<br />
88. ter mais disciplina de trabalho - ir ao arquivo todos os dias úteis por pelo menos 1 mês<br />
<br />
<b>por fim:</b><br />
<br />
89. tarefa secreta<br />
90. decidir se quero fazer isso de novo.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-52898944598168322612010-08-09T19:23:00.000-03:002010-08-09T19:23:42.823-03:00119. graphic novelsestou terminando de ler persépolis.<br />
não tinha muita vontade de ler particularmente esta graphic novel, não sei bem o porquê. acho que porque tudo o que eu tinha ouvido falar, ao menos sobre o filme, era sobre a revolução iraniana.<br />
bom, eu até, como historiadora, me interesso pela revolução iraniana, mas estava com um certo ranço porque queria que os quadrinhos tivessem um outro sentido pra mim, distinto da minha profissão. tenho conhecido muita gente chata na minha profissão e só de pensar em história me sinto um pouco constrangida e incomodada.<br />
mas o que me surpreendeu é que ela é mais uma graphic novel com caráter autobiográfico e cotidiano. bem, na verdade disso eu já sabia - já sabia que era a história de vida da própria moça que escreveu. mas fiquei bastante surpresa, positivamente, com o modo como ela descreveu a própria vida, ainda mais porque, ainda que cotidiana, a gente tem de concordar que o cotidiano em um país em guerra é bastante "diferente". as outras graphic novels que eu tinha lido, que têm esse mesmo tom autobiográfico, falam da vida de pessoas, embora em desacordo com o restante do mundo, muito comuns. tá, isso não é uma coisa ruim, mas é bastante simples ocorrer alguma identificação com essas pessoas. o estranho é se identificar com uma iraniana, sendo que tu não passa de uma brasileira.<br />
a marjane satrapi, autora do livro, é muitíssimo feliz em descrever o encontro de culturas distintas. ela foi criada no irã, mas num irã até certo ponto ocidentalizado. ela estudava numa escola laica francesa, por exemplo. quando a revolução acontece, muitas pessoas são presas e perseguidas, inclusive parentes e amigos dela. muitos são executados. então, começa a guerra contra o iraque e teerã é bombardeada muitas vezes. a vizinha dela morre num desses bombardeios. aos 14 anos, os pais acham melhor mandá-la pra estudar na europa, antes que se meta em alguma confusão. então, ela se torna uma iraniana, com hábitos tradicionalistas (sobre relacionamentos, por exemplo), em viena. e uma estrangeira na europa. obviamente, ninguém está nem um pouco interessado nela. por outro lado, enquanto ela procura se integrar aos hábitos ocidentais, indo a festinhas, lendo sobre autores anarquistas e existencialistas e fumando maconha, se sente culpada e fútil ao ver as notícias de seu país em guerra. sente que abandonou seus pais pra viver uma vida despreocupada e falsamente politizada na europa.<br />
quando retorna ao irã, porém, também não consegue se integrar novamente. suas amigas pensam que ela é uma puta por já ter tido algumas experiências sexuais e não consegue viver sob as normas fundamentalistas que o estado lhe impõe. ela é uma mulher independente, que, mais uma vez, não encontra seu lugar.<br />
achei muito legal porque talvez ela tenha - não necessariamente de propósito - explicitado um pouco dessas experiências na fronteira entre culturas. quer dizer, nem sempre o problema dela na europa estava relacionado a algum tipo de preconceito dos europeus contra os iranianos terceiro-mundistas. muitas vezes era só o modo como os europeus enquadravam as questões políticas, que evidentemente não poderia ser o mesmo modo que ela enquadrava, já que o país dela estava em guerra etc etc etc.<br />
tenho discutido com o desenho como as graphic novels são lugares privilegiados pra gente entender coisas. diferente de um romance mesmo, só em texto, ou de um filme, um romance em quadrinhos proporciona um outro tipo de envolvimento com os personagens. bom, talvez proporcione apenas a mim, mas o fato é que a forma de narrar se torna outra, necessariamente. o que vai no texto e o que vai no desenho são coisas diferentes e complementares... eu acho que a pessoa tem de ser muito, mas muito boa pra conseguir fazer uma coisa dessas, e ainda manter a singeleza e a complexidade dos acontecimentos.<br />
o fun home, da alison bechdel, por exemplo, cita diversos autores como tentativa de compreender a própria história e a do pai, que era homossexual e enrustido e depois se matou. mas esses autores não aparecem de modo maçante, como a academia e os chatos da academia gostam de fazê-los aparecer. eles estão totalmente integrados a um texto que narra uma história de vida e a desenhos que também têm o mesmo papel.<br />
fiquei cobiçando escrever alguma história (pequena) deste tipo.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-70244276147627528572010-08-02T23:19:00.001-03:002010-08-02T23:37:15.402-03:00118. everybody hates chrisestou meio que viciada neste seriado. e estou apaixonada pelo chris rock.<br />
já tinha visto algum filme muito trouxa dele e não tinha gostado, apesar dele ser super gatinho. mas agora que amo o everybody hates chris e vi que é dele, comecei a gostar dele de um outro jeito.<br />
faz algum tempo que acompanho seriados negros americanos, embora sem nenhuma sistemática. acho que esse é imensamente feliz no trato do preconceito: é um tema complicadíssimo e que, se tratado de maneira conveniente, dificilmente pode ser engraçado, na minha opinião. quer dizer, é um assunto duro de manter sério, ao mesmo tempo em que tenha uma proposta de humor.<br />
mas o chris rock, pelo menos tudo o que vi até agora, é imensamente sensível e doce, com um bom humor de alto nível. ele é engraçadíssimo, mas as situações engraçadas do seriado não te fazem achar que não houve alguma dor ou sofrimento.<br />
correndo o risco de que ela leia isso, acho que a minha mãe é muito parecida com a mãe do chris (sim, margarida, tu grita demais). eu me identifico imensamente com os assuntos tratados nos episódios, inclusive algumas coisas pras quais às vezes meus colegas historiadores se mostraram muito pouco sensíveis.<br />
uma delas é sobre ser pobre. eu lembro que quando entrei na faculdade tinha sérias dificuldades pra fazer certas coisas porque, well, eu morava em ALVORADA e trabalhava no turno da tarde. não gosto de fazer chororô de memórias, basta enfatizar que em diversos momentos me envolvi em situações em que as dificuldades inerentes ao local onde eu vivia ou à situação econômica da minha família não eram compreendidas satisfatoriamente. e eu acho que o chris ganha justamente nisso: sem fazer chororô de sua própria condição, ele aponta todos os momentos em que as coisas não eram tão simples. mas por não serem simples, não significa que fossem terríveis: eram boas, caralho.<br />
outra coisa: sim, ele era negro e pobre e tinha uma família unida e bacana, com inúmeras imperfeições, dificuldades financeiras e tal, mas uma família de que ele gostava. e ele era negro e pobre, mas sabia escrever com perícia, isso não era uma contradição. talvez muita gente não acredite, mas é verdade.<br />
mais um ponto positivo: o cara pode ser pobre e ser soberbo e a sua família não querer se misturar com outros pobres. isso pode acontecer. e pode acontecer de o teu pai até poder fazer uma certa coisa pra ti, que seria legal pra ti se ele fizesse, mas tu não querer que ele faça por alguma estranha sensibilidade que te leva a considerar tudo o que ele JÁ FAZ e todas as dificuldades pelas quais ele passa e o quanto, por conta dele, tu pode ser alguém tão privilegiado em relação aos teus vizinhos. quer dizer, não é que ele próprio tenha se negado, mas tu mesmo reconhece que, diante de tudo o que ele faz e de tudo o que tu sabe sobre a tua própria família, tu sabe que não pode pedir mais isso a ele. nem que esse isso seja algo aparentemente ínfimo.<br />
o chris mostra com muita sensibilidade todos esses momentos em que ele simplesmente decidiu compreender o pai dele, ou a mãe. em que toda uma história familiar vem à tona. e também que nada disso é ruim, meu. isso é ótimo, por isso é tão possível ser feliz, mesmo que a tua casa realmente feda a fábrica de sabão. fede, mas tu não faz chororô, não tem nada demais, tu teve uma ótima infância, ótimos pais - apesar dos gritos e maluquices, tu sabe que eles são boas pessoas e bem intencionadas e que fizeram de tudo pela tua educação, para garantir teu futuro.<br />
o everybody hates chirs é o que há, no momento. não quis me comparar a um negro americano que vivia no bronx nos anos 80 e acho que isso ficou claro. a minha identidade é com as inúmeras situações familiares e escolares mais genéricas. ah, na real, não importa dizer qual é a minha identidade, apenas que há. não gosto de falar assim sobre a minha vida, justamente porque é o modo chato de falar da vida. o modo legal é o modo do chris: com senso de humor, rindo de si mesmo, com senso crítico também e com um fantástico entendimento sobre as posições das pessoas que te rodeavam. esse seriado é o que há.<br />
e sobre preconceito: ele é o melhor de todos. chris rock, eu te amo. são pessoas reais que sofreram preconceito. basta dizer isso. pessoas que viviam coisas muito ruins, mas que reconheciam que seus pais viveram coisas piores, e se mostravam sensíveis a isso. quer dizer, ele dá conta de uma certa história familiar dessas vivências, mostrando a formação de um senso de união, de identidade.<br />
chris rock é o que há.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9HNEpyDzgmLTqTr1DFNZeyhOvvTkHYTqqngS6TEMjcp4acN8Ebp-PJxe1my_0szcvPKj_in5YJBep_fp3UO9lcsJttGsGf4DHPR-kgcjG7Ae3Kb6ypMlR_6fLAXmYJFb3GOTeBA/s1600/chris_rock.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9HNEpyDzgmLTqTr1DFNZeyhOvvTkHYTqqngS6TEMjcp4acN8Ebp-PJxe1my_0szcvPKj_in5YJBep_fp3UO9lcsJttGsGf4DHPR-kgcjG7Ae3Kb6ypMlR_6fLAXmYJFb3GOTeBA/s320/chris_rock.jpg" /></a></div>c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-24944787433970956352010-07-14T00:18:00.000-03:002010-07-14T00:18:48.278-03:00117. surabaya johnny, do happy end<span style="font-size: large;"><strong>Surabaya Johnny</strong></span> <br />
Ich war jung, Gott, erst sechzehn Jahre<br />
Du kamest von Birma herauf<br />
Und sagtest, ich solle mit dir gehen<br />
Du kämest für alles auf<br />
Ich fragte nach deiner Stellung<br />
Du sagtest, so wahr ich hier steh<br />
Du hättest zu tun mit der Eisenbahn<br />
Und nichts zu tun mit der See<br />
Du sagtest viel, Johnny<br />
Kein Wort war wahr, Johnny<br />
Du hast mich betrogen, Johnny, in der ersten Stund<br />
Ich hasse dich so, Johnny<br />
Wie du dastehst und grinst, Johnny<br />
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund <br />
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh?<br />
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so<br />
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?<br />
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so <br />
Zuerst war es immer Sonntag<br />
So lang, bis ich mitging mit dir<br />
Aber schon nach zwei Wochen<br />
War dir nicht nichts mehr recht an mir<br />
Hinauf und hinab durch den Pandschab<br />
Den Fluss entlang bis zur See:<br />
Ich sehe schon aus im Spiegel<br />
Wie eine Vierzigjährige<br />
Du wolltest nicht Liebe, Johnny<br />
Du wolltest Geld, Johnny<br />
Ich aber sah, Johnny, nur auf deinen Mund<br />
Du verlangtest alles, Johnny<br />
Ich gab dir mehr, Johnny<br />
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund. <br />
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?<br />
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so<br />
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?<br />
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so <br />
Ich hatte es nicht beachtet<br />
Warum du den Namen hast<br />
Aber an der ganzen langen Kste<br />
Warst du ein bekannter Gast<br />
Eines morgens in einem Sixpencebett<br />
Werd ich donnern hren die See<br />
Und du gehst, ohne etwas zu sagen<br />
Und dein Schiff liegt unten am Kai<br />
Du hast kein Herz, Johnny<br />
Du bist ein Schuft, Johnny<br />
Du gehst jetzt weg, Johnny, sag mir den Grund<br />
Ich liebe dich doch, Johnny<br />
Wie am ersten Tag, Johnny<br />
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund <br />
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?<br />
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so<br />
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?<br />
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich soc.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-58647913969736463662010-07-13T13:29:00.000-03:002010-07-13T13:29:12.647-03:00116. suspiria, 1977, dario argentopróxima quinta-feira, dia 15 de julho, às 21hs, aqui no telão do azulão: exibiremos "suspiria", de dario argento.<br />
<object height="385" width="480"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/m5KxM3pwohU&hl=pt_BR&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/m5KxM3pwohU&hl=pt_BR&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-40151666977064766012010-07-12T18:16:00.002-03:002010-07-16T19:42:42.285-03:00115.eu não faço mais parte desta casa de gente louca e esquizofrênica.<br />
não quero mais que venham até mim trazendo suas loucuras. quero me curar.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-79893500384759670622010-07-06T17:31:00.001-03:002010-07-06T17:32:10.142-03:00114.<object height="385" width="480"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/4CPNrP0L4aM&hl=pt_BR&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/4CPNrP0L4aM&hl=pt_BR&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-75539372455770248052010-07-06T14:45:00.004-03:002010-07-06T22:48:44.965-03:00113. a caça à raposaa caça à raposa era o momento ideal para estreitar os vínculos com os ambiciosos filhos do barão. isso demonstrava interesse, por parte de reveillon, pelas seculares tradições britânicas. além disso, unia o trabalho à prática desportiva, criando um momento de agradável descontração no qual ele podia dar o bote.<br />
conversa vai, conversa vem, uma raposa foi abocanhada por um perdigueiro. literalmente também. mas em sentido metafórico, reveillon, ágil e experiente perdigueiro, conseguiu se aproximar do filho do meio do barão de oxfordshire, ardiloso empresário em londres, uma raposa.<br />
marcaram um jantar em um luxuoso restaurante francês da região - o filho do meio também reconhecia as tradições gastronômicas francesas.<br />
já chegava o fim do jantar, a noite estava avançada, ambos bebericavam licores, quando...<br />
- hahahaha - o filho do meio ria, um pouco confuso - eu ainda prefiro colocar leite no meu chá, sim, reveillon!<br />
- então é verdade que há um quarto filho do barão que desapareceu há muitos anos?<br />
- sim, é verdade... o que?! como você soube? seu... seu...<br />
<br />
o filho do meio sentiu-se vilipendiado.c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23593430.post-85349856412608430952010-07-05T12:43:00.000-03:002010-07-05T12:43:20.918-03:00112. já começou o fantaspoa deste ano<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEm3t5n6fl6VWdMFccZwNT80tB_wH_U_NGJdvoT8olfi7Y1j-gwvoHnrPAzPUVxM9dX2ZfAkB-9Ftu2-5gJDp7jxdieerJldk69ECAZmNrqBDHHxgLGGVFT1-glVYnJq5lN5n6TQ/s1600/cartaz_web.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEm3t5n6fl6VWdMFccZwNT80tB_wH_U_NGJdvoT8olfi7Y1j-gwvoHnrPAzPUVxM9dX2ZfAkB-9Ftu2-5gJDp7jxdieerJldk69ECAZmNrqBDHHxgLGGVFT1-glVYnJq5lN5n6TQ/s640/cartaz_web.jpg" width="510" /></a></div>c.http://www.blogger.com/profile/03062030788562785278noreply@blogger.com0