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21.6.10

98.

o jantar seguiu tenso, apesar das inapropriadas intervenções pretensamente lúdicas de vuvuzella. apenas ele não sabia da expectativa que cercava a chegada de reveillon.
o carré de cordeiro estava fabuloso. para a sobremesa, foram encomendados tenros morangos da aquitânia, que vuvuzella comeu com indecência. madame d'abajour bem o notou.
já menos tensos após a segunda rodada de licores de noz e framboesa, todos recolheram-se sonolentos e com a leveza desproporcional de um "que se dane". não importavam mais, não naquele microinstante, as grandes revelações de reveillon. apenas importava sentir o linho outonal dos lençois nas costas, como quem sentisse um cheiro, ou como quem continuasse sentindo os prazeres da mesa recém abandonada. só queriam ter mais um pouco dos fugazes prazeres que a pele podia sentir antes da ruína anunciada.
ninguém tinha certeza do que reveillon vinha trazer à tona, mas, como todos tinham seus pecados e ninguém confiava em ninguém, cada um sabia que podia ser agora. podia ser desta vez que tudo viria abaixo.
apenas vuvuzella relaxou na inocência dos trouxas. sequer percebera o quanto era indesejado naquela casa. deitou-se e logo dormiu um sono profundo, sem sonhos, apenas sensações. ninguém mais desfrutou de tal ventura naquela noite.

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