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22.6.10

99.

m. vivia há seis meses no hotel othon, em copacabana. em apartamento de frente, muito fino. sentia um certo constrangimento por isso, tanta gente pobre, cagando na rua, ele com vista pro mar, com tudo pago. mas, caralho, ele não ia cagar na rua também se não tinha porquê. cagava bem, em trono caro, limpo todo dia pelos empregados do hotel. só cagava em banheiro cheiroso, de preferência com bidê. só pro caso de ser preciso, não que fosse sempre preciso, mas, porra...
porra era essa fernanda, do buteco na gustavo sampaio. não queria colaborar, não devia se meter. desde o princípio ele havia dito, isso era negócio dele, era coisa dele, ela que cuidasse de servir cachaça. mas essa fernanda intrometida, enxerida, querendo saber demais, querendo saber do hotel, do dinheiro, dos empregados, do bidê, de tudo. ele também era burro, burro demais. não devia aparecer mais no boteco, então, se ela tava incomodando. mas tava gostosa, servia aquela cachaça sempre rebolando, aquela bunda, ah, aquela bunda.
chega de pensar em fernanda. hoje tinha que dar um pulo no catete, ver o que os caras iam arrumar pra ele. o telefonema de ontem foi meio fora de hora, mesmo pro padrão deles. não tinha padrão. mas foi estranho, todo o tom da conversa, mais mistério do que de costume. tinha caroço nesse angu. m. não era mais tão novo, já tinha vivido de tudo, já tinha cagado na rua. o que estavam arrumando pra ele agora?

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