desde que temos nosso número de telefone atual, fiz o seu bloqueio no site do procon pra evitar que empresas de telemarketing fiquem enchendo o saco.
assim mesmo, de vez em quando recebo algumas ligações não identificadas, que me impedem de fazer a devida denúncia. hoje, pontualmente às 9 horas, me ligou o número 51 21080600. eles me perguntavam se eu era anísio bernardin. se eu fosse, devia discar 1. se eu conhecesse, devia discar 2. se eu não fosse nem conhecesse, devia discar 3. em seguida, a ligação foi interrompida, sem nenhuma identificação.
fiz a denúncia mesmo sem saber de quem era. e resolvi postar aqui pra quem, como eu, resolver procurar o número do google quando receber o mesmo tipo de telefonema.
11.1.11
28.9.10
13.8.10
121.
era uma vez, cinco amigos: ártico, antártico, pacífico, atlântico e índico. de todos, atlântico era o mais garboso. apesar de todos o serem, índico era o mais proparoxítono. e ártico era o chato do grupo. sobre os outros dois ainda são desconhecidas as principais características.
certa vez, ártico mostrou o seu lattes para os outros e todos o acharam inconveniente e ridículo.
pacífico lavou a roupa dos cinco amigos e colocou tudo direitinho para secar. ele era gentil e cuidadoso, e sempre lavava a roupa de todos sem cobranças ou má vontade.
ártico frequentemente estava de má vontade e certa vez foi visitar os outros amigos de cara feia. todos o acharam inconveniente e ridículo. ele chegou a discutir com a mãe de antártico em um almoço de família.
pacífico se descuidou e estragou a corda de estender roupa. chorou aquela tarde como se tivesse perdido um grande amor. índico viu, mas fez que não reparou. achou estranho e não quis assumir nenhuma responsabilidade.
antártico ligou para sua mãe uma tarde, mas ela não atendeu. ele sabia que ela provavelmente estava em casa, mas não atendera de propósito, mesmo sem saber que era ele. isso não tinha nada a ver com as gafes de ártico, pois ninguém ligava para ele de verdade.
atlântico comprou uma bonita bota de inverno e todos gostaram, menos ártico, que também desejava secretamente uma bota de inverno. ao menos, a partir daquele momento, passou a desejar. cada vez que atlântico calçava sua bota, ártico sentia uma forte pressão no peito e uma queimação atrás dos olhos.
certa vez, ártico mostrou o seu lattes para os outros e todos o acharam inconveniente e ridículo.
pacífico lavou a roupa dos cinco amigos e colocou tudo direitinho para secar. ele era gentil e cuidadoso, e sempre lavava a roupa de todos sem cobranças ou má vontade.
ártico frequentemente estava de má vontade e certa vez foi visitar os outros amigos de cara feia. todos o acharam inconveniente e ridículo. ele chegou a discutir com a mãe de antártico em um almoço de família.
pacífico se descuidou e estragou a corda de estender roupa. chorou aquela tarde como se tivesse perdido um grande amor. índico viu, mas fez que não reparou. achou estranho e não quis assumir nenhuma responsabilidade.
antártico ligou para sua mãe uma tarde, mas ela não atendeu. ele sabia que ela provavelmente estava em casa, mas não atendera de propósito, mesmo sem saber que era ele. isso não tinha nada a ver com as gafes de ártico, pois ninguém ligava para ele de verdade.
atlântico comprou uma bonita bota de inverno e todos gostaram, menos ártico, que também desejava secretamente uma bota de inverno. ao menos, a partir daquele momento, passou a desejar. cada vez que atlântico calçava sua bota, ártico sentia uma forte pressão no peito e uma queimação atrás dos olhos.
12.8.10
120. 101 coisas para fazer em 1001 dias
pretendo realizar 101 coisas em 1001 dias, começando amanhã, sexta-feira 13 de agosto e finalizando também numa sexta-feira, 10 de maio de 2013. achei que a data ficou super cabalística. em vez de 2010, ficou dia 10. em vez de dia 13, ficou 2013. as duas datas são sextas-feiras. os meses não têm nada a ver.
obviamente isso vai mudar ao longo do tempo, então deixei 11 espaços em branco para poder acrescentar coisas com o tempo. talvez algumas delas caiam fora. o que for concluído vai serriscado.
é bem provável que em duas semanas eu esqueça que fiz esta lista.
o critério é que as tarefas sejam específicas, realistas e mensuráveis.
quem quiser ver quem adaptou a ideia para o brasil, clique aqui.
saúde e bem estar:
1. fazer academia por pelo menos 3 meses sem largar
2. comprar frutas uma vez por mês (e comê-las)
3. beber pelo menos 4 copos de água por dia por 1 mês
4. fazer uma arte marcial
mudanças de hábito:
5. comprar frutas e verduras na feira pelo menos 1 vez por mês por pelo menos 6 meses
6. ficar uma semana sem comer nada de chocolate
7. utilizar mais os princípios do wu-wei
8. ficar pelo menos um mês sem deixar livros e roupas jogadas no quarto
9. ficar pelo menos um mês sem deixar louças espalhadas pela casa
10. passar filtro solar todos os dias por pelo menos um mês
11. lembrar de preparar salada (e comer) todos os dias por, pelo menos, um mês
12. não me incomodar com a vizinha chata por pelo menos 1 mês
13. acordar às 8 e meia todos os dias úteis durante 1 mês
aprendizado:
14. aprender a costurar
15. desenhar pelo menos uma pessoa por semana por pelo menos 3 meses
16. aprender inglês
17. aprender aquarela (sozinha ou com um curso)
18. aprender a melhorar desenhos no computador, independente dos programas necessários pra isso
19. conhecer profundamente as obras de, pelo menos, 5 clássicos do jazz (0/5)
compras:
20. comprar um aparelho de DVD para olhar séries no quarto
21. comprar um scanner
22. comprar duas confortáveis poltronas para a sala de estar
23. comprar algum souvenir do zequinha
24. descobrir um perfume legal e comprar
25. comprar um hd externo
26. comprar - e manter com bateria, tentando levar comigo - um celular
27. comprar um mp3
28. comprar uma panela de pressão (e usar)
casa e organização:
29. colocar os quadros na parede do apartamento
30. fazer duas saídas de gás, uma para o fogão, outra para o chveiro (ou pagar alguém que faça)
31. colocar os lustres em todas as peças do apartamento
32. manter a escrivaninha organizada por 1 mês
33. obter os vídeos que tem eu e o desenho crianças e passar pra DVD
34. fazer um jardinzinho nas sacadas e tentar manter as plantas vivas por pelo menos 3 meses
35. fazer um móvel para organizar os livros bacanas e porta-retratos (mandar fazer)
36. organizar em um quadro ou porta-retratos as fotos lúdicas em que aparecem eu e o desenho crianças
37. organizar os panfletos e cartões de visita deixados na caixinha de correio
38. colocar os acabamentos nos banheiros do apartamento
39. colocar azulejos retrô no lavabo
40. iniciar uma horta de temperos (e mantê-los vivos por pelo menos 3 meses)
41. colocar moldura no quadro do maradona e nos outros de buenos aires
42. mandar reformar o quadro do meu pai e colocá-lo na sala de jantar
43. dar um destino a tudo o que ainda está na casa da minha mãe
44. comprar uma nova jarra para a cafeteira
45. consertar o atari
46. colocar um espelho no banheiro
47. tirar o pó das estantes e dos livros pelo menos uma vez a cada 6 meses
48. passar jimo em todos os móveis de madeira da casa uma vez por ano, no inverno
49. terminar de catalogar todos os livros
50. organizar os arquivos de TODOS os computadores (o meu, o do desenho, o notebook e os dois velhos que não mais funcionam), deletando o que não for mais necessário e dando destino ao que ainda presta
51. montar uma estação de trabalho para fazer os meus desenhos
52. passar o aspirador em todo o apartamento toda semana por pelo menos 3 meses
hobbies e lazer
53. terminar de ver a novela tieta
54. assistir pulp fiction
55. levar a marina em uma festa
56. escrever pelo menos uma história em quadrinhos
57. fazer um álbum de fotografias da viagem ao rio de janeiro
58. reformar pelo menos 3 móveis (0/3)
59. fazer um caderno de receitas customizado
60. ler 3 livros recomendados pelo mário (0/3)
61. terminar de ler "o homem sem qualidades"
62. fazer um abajur
63. criar uma fotonovela
64. escrever um artigo sobre seriados negros norte-americanos, com classificações
65. jantar em pelo menos 3 restaurantes onde nunca estive (todos em porto alegre) (2/3)
66. assistir a todas as temporadas de the big bang theory que saírem até o fim do projeto
67. assistir a todas as temporadas de two and a half men que saírem até o final do projeto
68. assistir a todas as temporadas de everybody hates chris que saírem até o final do projeto
69. fazer uma escultura
viagens:
70. conhecer nova iorque
71. conhecer três cidades brasileiras que ainda não conheço (0/3)
72. voltar a buenos aires
73. fazer turismo de estádios em pelo menos 3 cidades (0/3)
74. conhecer montevideo
75. passar um reveillon em são paulo
76. voltar ao rio de janeiro e vivenciar tudo como se fosse uma novela
metas e desafios:
77. ter um "amigo internacional"ou receber um estudante de intercâmbio
78. assistir a todos os filmes de woody allen
79. colocar pelo menos 50 reais na poupança todo mês (2010/2011/2012/2013)
80. aprender um prato novo todos os meses por pelo menos seis meses (0/6)
81. me hospedar em um hotel em porto alegre (e ir de táxi)
82. dizer "oi" pro júlio e pra regina
83. ler 3 livros em inglês em um ano (0/3)
84. aprender 5 receitas que possam ser servidas em ocasiões especiais, independente do nível de dificuldade (0/5)
profissional:
85. escrever pelo menos 3 capítulos da tese de doutorado
86. publicar minha dissertação de mestrado (ou, pelo menos, revisá-la para isso)
87. escrever um artigo sobre literatura
88. ter mais disciplina de trabalho - ir ao arquivo todos os dias úteis por pelo menos 1 mês
por fim:
89. tarefa secreta
90. decidir se quero fazer isso de novo.
obviamente isso vai mudar ao longo do tempo, então deixei 11 espaços em branco para poder acrescentar coisas com o tempo. talvez algumas delas caiam fora. o que for concluído vai ser
é bem provável que em duas semanas eu esqueça que fiz esta lista.
o critério é que as tarefas sejam específicas, realistas e mensuráveis.
quem quiser ver quem adaptou a ideia para o brasil, clique aqui.
saúde e bem estar:
3. beber pelo menos 4 copos de água por dia por 1 mês
4. fazer uma arte marcial
mudanças de hábito:
7. utilizar mais os princípios do wu-wei
8. ficar pelo menos um mês sem deixar livros e roupas jogadas no quarto
11. lembrar de preparar salada (e comer) todos os dias por, pelo menos, um mês
aprendizado:
14. aprender a costurar
15. desenhar pelo menos uma pessoa por semana por pelo menos 3 meses
16. aprender inglês
17. aprender aquarela (sozinha ou com um curso)
18. aprender a melhorar desenhos no computador, independente dos programas necessários pra isso
19. conhecer profundamente as obras de, pelo menos, 5 clássicos do jazz (0/5)
compras:
23. comprar algum souvenir do zequinha
casa e organização:
29. colocar os quadros na parede do apartamento
30. fazer duas saídas de gás, uma para o fogão, outra para o chveiro (ou pagar alguém que faça)
32. manter a escrivaninha organizada por 1 mês
33. obter os vídeos que tem eu e o desenho crianças e passar pra DVD
36. organizar em um quadro ou porta-retratos as fotos lúdicas em que aparecem eu e o desenho crianças
39. colocar azulejos retrô no lavabo
43. dar um destino a tudo o que ainda está na casa da minha mãe
45. consertar o atari
49. terminar de catalogar todos os livros
50. organizar os arquivos de TODOS os computadores (o meu, o do desenho, o notebook e os dois velhos que não mais funcionam), deletando o que não for mais necessário e dando destino ao que ainda presta
51. montar uma estação de trabalho para fazer os meus desenhos
hobbies e lazer
55. levar a marina em uma festa
56. escrever pelo menos uma história em quadrinhos
57. fazer um álbum de fotografias da viagem ao rio de janeiro
58. reformar pelo menos 3 móveis (0/3)
59. fazer um caderno de receitas customizado
60. ler 3 livros recomendados pelo mário (0/3)
61. terminar de ler "o homem sem qualidades"
62. fazer um abajur
63. criar uma fotonovela
64. escrever um artigo sobre seriados negros norte-americanos, com classificações
66. assistir a todas as temporadas de the big bang theory que saírem até o fim do projeto
67. assistir a todas as temporadas de two and a half men que saírem até o final do projeto
68. assistir a todas as temporadas de everybody hates chris que saírem até o final do projeto
69. fazer uma escultura
viagens:
70. conhecer nova iorque
72. voltar a buenos aires
74. conhecer montevideo
75. passar um reveillon em são paulo
metas e desafios:
78. assistir a todos os filmes de woody allen
79. colocar pelo menos 50 reais na poupança todo mês (
83. ler 3 livros em inglês em um ano (0/3)
profissional:
86. publicar minha dissertação de mestrado (ou, pelo menos, revisá-la para isso)
87. escrever um artigo sobre literatura
88. ter mais disciplina de trabalho - ir ao arquivo todos os dias úteis por pelo menos 1 mês
por fim:
89. tarefa secreta
90. decidir se quero fazer isso de novo.
9.8.10
119. graphic novels
estou terminando de ler persépolis.
não tinha muita vontade de ler particularmente esta graphic novel, não sei bem o porquê. acho que porque tudo o que eu tinha ouvido falar, ao menos sobre o filme, era sobre a revolução iraniana.
bom, eu até, como historiadora, me interesso pela revolução iraniana, mas estava com um certo ranço porque queria que os quadrinhos tivessem um outro sentido pra mim, distinto da minha profissão. tenho conhecido muita gente chata na minha profissão e só de pensar em história me sinto um pouco constrangida e incomodada.
mas o que me surpreendeu é que ela é mais uma graphic novel com caráter autobiográfico e cotidiano. bem, na verdade disso eu já sabia - já sabia que era a história de vida da própria moça que escreveu. mas fiquei bastante surpresa, positivamente, com o modo como ela descreveu a própria vida, ainda mais porque, ainda que cotidiana, a gente tem de concordar que o cotidiano em um país em guerra é bastante "diferente". as outras graphic novels que eu tinha lido, que têm esse mesmo tom autobiográfico, falam da vida de pessoas, embora em desacordo com o restante do mundo, muito comuns. tá, isso não é uma coisa ruim, mas é bastante simples ocorrer alguma identificação com essas pessoas. o estranho é se identificar com uma iraniana, sendo que tu não passa de uma brasileira.
a marjane satrapi, autora do livro, é muitíssimo feliz em descrever o encontro de culturas distintas. ela foi criada no irã, mas num irã até certo ponto ocidentalizado. ela estudava numa escola laica francesa, por exemplo. quando a revolução acontece, muitas pessoas são presas e perseguidas, inclusive parentes e amigos dela. muitos são executados. então, começa a guerra contra o iraque e teerã é bombardeada muitas vezes. a vizinha dela morre num desses bombardeios. aos 14 anos, os pais acham melhor mandá-la pra estudar na europa, antes que se meta em alguma confusão. então, ela se torna uma iraniana, com hábitos tradicionalistas (sobre relacionamentos, por exemplo), em viena. e uma estrangeira na europa. obviamente, ninguém está nem um pouco interessado nela. por outro lado, enquanto ela procura se integrar aos hábitos ocidentais, indo a festinhas, lendo sobre autores anarquistas e existencialistas e fumando maconha, se sente culpada e fútil ao ver as notícias de seu país em guerra. sente que abandonou seus pais pra viver uma vida despreocupada e falsamente politizada na europa.
quando retorna ao irã, porém, também não consegue se integrar novamente. suas amigas pensam que ela é uma puta por já ter tido algumas experiências sexuais e não consegue viver sob as normas fundamentalistas que o estado lhe impõe. ela é uma mulher independente, que, mais uma vez, não encontra seu lugar.
achei muito legal porque talvez ela tenha - não necessariamente de propósito - explicitado um pouco dessas experiências na fronteira entre culturas. quer dizer, nem sempre o problema dela na europa estava relacionado a algum tipo de preconceito dos europeus contra os iranianos terceiro-mundistas. muitas vezes era só o modo como os europeus enquadravam as questões políticas, que evidentemente não poderia ser o mesmo modo que ela enquadrava, já que o país dela estava em guerra etc etc etc.
tenho discutido com o desenho como as graphic novels são lugares privilegiados pra gente entender coisas. diferente de um romance mesmo, só em texto, ou de um filme, um romance em quadrinhos proporciona um outro tipo de envolvimento com os personagens. bom, talvez proporcione apenas a mim, mas o fato é que a forma de narrar se torna outra, necessariamente. o que vai no texto e o que vai no desenho são coisas diferentes e complementares... eu acho que a pessoa tem de ser muito, mas muito boa pra conseguir fazer uma coisa dessas, e ainda manter a singeleza e a complexidade dos acontecimentos.
o fun home, da alison bechdel, por exemplo, cita diversos autores como tentativa de compreender a própria história e a do pai, que era homossexual e enrustido e depois se matou. mas esses autores não aparecem de modo maçante, como a academia e os chatos da academia gostam de fazê-los aparecer. eles estão totalmente integrados a um texto que narra uma história de vida e a desenhos que também têm o mesmo papel.
fiquei cobiçando escrever alguma história (pequena) deste tipo.
não tinha muita vontade de ler particularmente esta graphic novel, não sei bem o porquê. acho que porque tudo o que eu tinha ouvido falar, ao menos sobre o filme, era sobre a revolução iraniana.
bom, eu até, como historiadora, me interesso pela revolução iraniana, mas estava com um certo ranço porque queria que os quadrinhos tivessem um outro sentido pra mim, distinto da minha profissão. tenho conhecido muita gente chata na minha profissão e só de pensar em história me sinto um pouco constrangida e incomodada.
mas o que me surpreendeu é que ela é mais uma graphic novel com caráter autobiográfico e cotidiano. bem, na verdade disso eu já sabia - já sabia que era a história de vida da própria moça que escreveu. mas fiquei bastante surpresa, positivamente, com o modo como ela descreveu a própria vida, ainda mais porque, ainda que cotidiana, a gente tem de concordar que o cotidiano em um país em guerra é bastante "diferente". as outras graphic novels que eu tinha lido, que têm esse mesmo tom autobiográfico, falam da vida de pessoas, embora em desacordo com o restante do mundo, muito comuns. tá, isso não é uma coisa ruim, mas é bastante simples ocorrer alguma identificação com essas pessoas. o estranho é se identificar com uma iraniana, sendo que tu não passa de uma brasileira.
a marjane satrapi, autora do livro, é muitíssimo feliz em descrever o encontro de culturas distintas. ela foi criada no irã, mas num irã até certo ponto ocidentalizado. ela estudava numa escola laica francesa, por exemplo. quando a revolução acontece, muitas pessoas são presas e perseguidas, inclusive parentes e amigos dela. muitos são executados. então, começa a guerra contra o iraque e teerã é bombardeada muitas vezes. a vizinha dela morre num desses bombardeios. aos 14 anos, os pais acham melhor mandá-la pra estudar na europa, antes que se meta em alguma confusão. então, ela se torna uma iraniana, com hábitos tradicionalistas (sobre relacionamentos, por exemplo), em viena. e uma estrangeira na europa. obviamente, ninguém está nem um pouco interessado nela. por outro lado, enquanto ela procura se integrar aos hábitos ocidentais, indo a festinhas, lendo sobre autores anarquistas e existencialistas e fumando maconha, se sente culpada e fútil ao ver as notícias de seu país em guerra. sente que abandonou seus pais pra viver uma vida despreocupada e falsamente politizada na europa.
quando retorna ao irã, porém, também não consegue se integrar novamente. suas amigas pensam que ela é uma puta por já ter tido algumas experiências sexuais e não consegue viver sob as normas fundamentalistas que o estado lhe impõe. ela é uma mulher independente, que, mais uma vez, não encontra seu lugar.
achei muito legal porque talvez ela tenha - não necessariamente de propósito - explicitado um pouco dessas experiências na fronteira entre culturas. quer dizer, nem sempre o problema dela na europa estava relacionado a algum tipo de preconceito dos europeus contra os iranianos terceiro-mundistas. muitas vezes era só o modo como os europeus enquadravam as questões políticas, que evidentemente não poderia ser o mesmo modo que ela enquadrava, já que o país dela estava em guerra etc etc etc.
tenho discutido com o desenho como as graphic novels são lugares privilegiados pra gente entender coisas. diferente de um romance mesmo, só em texto, ou de um filme, um romance em quadrinhos proporciona um outro tipo de envolvimento com os personagens. bom, talvez proporcione apenas a mim, mas o fato é que a forma de narrar se torna outra, necessariamente. o que vai no texto e o que vai no desenho são coisas diferentes e complementares... eu acho que a pessoa tem de ser muito, mas muito boa pra conseguir fazer uma coisa dessas, e ainda manter a singeleza e a complexidade dos acontecimentos.
o fun home, da alison bechdel, por exemplo, cita diversos autores como tentativa de compreender a própria história e a do pai, que era homossexual e enrustido e depois se matou. mas esses autores não aparecem de modo maçante, como a academia e os chatos da academia gostam de fazê-los aparecer. eles estão totalmente integrados a um texto que narra uma história de vida e a desenhos que também têm o mesmo papel.
fiquei cobiçando escrever alguma história (pequena) deste tipo.
2.8.10
118. everybody hates chris
estou meio que viciada neste seriado. e estou apaixonada pelo chris rock.
já tinha visto algum filme muito trouxa dele e não tinha gostado, apesar dele ser super gatinho. mas agora que amo o everybody hates chris e vi que é dele, comecei a gostar dele de um outro jeito.
faz algum tempo que acompanho seriados negros americanos, embora sem nenhuma sistemática. acho que esse é imensamente feliz no trato do preconceito: é um tema complicadíssimo e que, se tratado de maneira conveniente, dificilmente pode ser engraçado, na minha opinião. quer dizer, é um assunto duro de manter sério, ao mesmo tempo em que tenha uma proposta de humor.
mas o chris rock, pelo menos tudo o que vi até agora, é imensamente sensível e doce, com um bom humor de alto nível. ele é engraçadíssimo, mas as situações engraçadas do seriado não te fazem achar que não houve alguma dor ou sofrimento.
correndo o risco de que ela leia isso, acho que a minha mãe é muito parecida com a mãe do chris (sim, margarida, tu grita demais). eu me identifico imensamente com os assuntos tratados nos episódios, inclusive algumas coisas pras quais às vezes meus colegas historiadores se mostraram muito pouco sensíveis.
uma delas é sobre ser pobre. eu lembro que quando entrei na faculdade tinha sérias dificuldades pra fazer certas coisas porque, well, eu morava em ALVORADA e trabalhava no turno da tarde. não gosto de fazer chororô de memórias, basta enfatizar que em diversos momentos me envolvi em situações em que as dificuldades inerentes ao local onde eu vivia ou à situação econômica da minha família não eram compreendidas satisfatoriamente. e eu acho que o chris ganha justamente nisso: sem fazer chororô de sua própria condição, ele aponta todos os momentos em que as coisas não eram tão simples. mas por não serem simples, não significa que fossem terríveis: eram boas, caralho.
outra coisa: sim, ele era negro e pobre e tinha uma família unida e bacana, com inúmeras imperfeições, dificuldades financeiras e tal, mas uma família de que ele gostava. e ele era negro e pobre, mas sabia escrever com perícia, isso não era uma contradição. talvez muita gente não acredite, mas é verdade.
mais um ponto positivo: o cara pode ser pobre e ser soberbo e a sua família não querer se misturar com outros pobres. isso pode acontecer. e pode acontecer de o teu pai até poder fazer uma certa coisa pra ti, que seria legal pra ti se ele fizesse, mas tu não querer que ele faça por alguma estranha sensibilidade que te leva a considerar tudo o que ele JÁ FAZ e todas as dificuldades pelas quais ele passa e o quanto, por conta dele, tu pode ser alguém tão privilegiado em relação aos teus vizinhos. quer dizer, não é que ele próprio tenha se negado, mas tu mesmo reconhece que, diante de tudo o que ele faz e de tudo o que tu sabe sobre a tua própria família, tu sabe que não pode pedir mais isso a ele. nem que esse isso seja algo aparentemente ínfimo.
o chris mostra com muita sensibilidade todos esses momentos em que ele simplesmente decidiu compreender o pai dele, ou a mãe. em que toda uma história familiar vem à tona. e também que nada disso é ruim, meu. isso é ótimo, por isso é tão possível ser feliz, mesmo que a tua casa realmente feda a fábrica de sabão. fede, mas tu não faz chororô, não tem nada demais, tu teve uma ótima infância, ótimos pais - apesar dos gritos e maluquices, tu sabe que eles são boas pessoas e bem intencionadas e que fizeram de tudo pela tua educação, para garantir teu futuro.
o everybody hates chirs é o que há, no momento. não quis me comparar a um negro americano que vivia no bronx nos anos 80 e acho que isso ficou claro. a minha identidade é com as inúmeras situações familiares e escolares mais genéricas. ah, na real, não importa dizer qual é a minha identidade, apenas que há. não gosto de falar assim sobre a minha vida, justamente porque é o modo chato de falar da vida. o modo legal é o modo do chris: com senso de humor, rindo de si mesmo, com senso crítico também e com um fantástico entendimento sobre as posições das pessoas que te rodeavam. esse seriado é o que há.
e sobre preconceito: ele é o melhor de todos. chris rock, eu te amo. são pessoas reais que sofreram preconceito. basta dizer isso. pessoas que viviam coisas muito ruins, mas que reconheciam que seus pais viveram coisas piores, e se mostravam sensíveis a isso. quer dizer, ele dá conta de uma certa história familiar dessas vivências, mostrando a formação de um senso de união, de identidade.
chris rock é o que há.
já tinha visto algum filme muito trouxa dele e não tinha gostado, apesar dele ser super gatinho. mas agora que amo o everybody hates chris e vi que é dele, comecei a gostar dele de um outro jeito.
faz algum tempo que acompanho seriados negros americanos, embora sem nenhuma sistemática. acho que esse é imensamente feliz no trato do preconceito: é um tema complicadíssimo e que, se tratado de maneira conveniente, dificilmente pode ser engraçado, na minha opinião. quer dizer, é um assunto duro de manter sério, ao mesmo tempo em que tenha uma proposta de humor.
mas o chris rock, pelo menos tudo o que vi até agora, é imensamente sensível e doce, com um bom humor de alto nível. ele é engraçadíssimo, mas as situações engraçadas do seriado não te fazem achar que não houve alguma dor ou sofrimento.
correndo o risco de que ela leia isso, acho que a minha mãe é muito parecida com a mãe do chris (sim, margarida, tu grita demais). eu me identifico imensamente com os assuntos tratados nos episódios, inclusive algumas coisas pras quais às vezes meus colegas historiadores se mostraram muito pouco sensíveis.
uma delas é sobre ser pobre. eu lembro que quando entrei na faculdade tinha sérias dificuldades pra fazer certas coisas porque, well, eu morava em ALVORADA e trabalhava no turno da tarde. não gosto de fazer chororô de memórias, basta enfatizar que em diversos momentos me envolvi em situações em que as dificuldades inerentes ao local onde eu vivia ou à situação econômica da minha família não eram compreendidas satisfatoriamente. e eu acho que o chris ganha justamente nisso: sem fazer chororô de sua própria condição, ele aponta todos os momentos em que as coisas não eram tão simples. mas por não serem simples, não significa que fossem terríveis: eram boas, caralho.
outra coisa: sim, ele era negro e pobre e tinha uma família unida e bacana, com inúmeras imperfeições, dificuldades financeiras e tal, mas uma família de que ele gostava. e ele era negro e pobre, mas sabia escrever com perícia, isso não era uma contradição. talvez muita gente não acredite, mas é verdade.
mais um ponto positivo: o cara pode ser pobre e ser soberbo e a sua família não querer se misturar com outros pobres. isso pode acontecer. e pode acontecer de o teu pai até poder fazer uma certa coisa pra ti, que seria legal pra ti se ele fizesse, mas tu não querer que ele faça por alguma estranha sensibilidade que te leva a considerar tudo o que ele JÁ FAZ e todas as dificuldades pelas quais ele passa e o quanto, por conta dele, tu pode ser alguém tão privilegiado em relação aos teus vizinhos. quer dizer, não é que ele próprio tenha se negado, mas tu mesmo reconhece que, diante de tudo o que ele faz e de tudo o que tu sabe sobre a tua própria família, tu sabe que não pode pedir mais isso a ele. nem que esse isso seja algo aparentemente ínfimo.
o chris mostra com muita sensibilidade todos esses momentos em que ele simplesmente decidiu compreender o pai dele, ou a mãe. em que toda uma história familiar vem à tona. e também que nada disso é ruim, meu. isso é ótimo, por isso é tão possível ser feliz, mesmo que a tua casa realmente feda a fábrica de sabão. fede, mas tu não faz chororô, não tem nada demais, tu teve uma ótima infância, ótimos pais - apesar dos gritos e maluquices, tu sabe que eles são boas pessoas e bem intencionadas e que fizeram de tudo pela tua educação, para garantir teu futuro.
o everybody hates chirs é o que há, no momento. não quis me comparar a um negro americano que vivia no bronx nos anos 80 e acho que isso ficou claro. a minha identidade é com as inúmeras situações familiares e escolares mais genéricas. ah, na real, não importa dizer qual é a minha identidade, apenas que há. não gosto de falar assim sobre a minha vida, justamente porque é o modo chato de falar da vida. o modo legal é o modo do chris: com senso de humor, rindo de si mesmo, com senso crítico também e com um fantástico entendimento sobre as posições das pessoas que te rodeavam. esse seriado é o que há.
e sobre preconceito: ele é o melhor de todos. chris rock, eu te amo. são pessoas reais que sofreram preconceito. basta dizer isso. pessoas que viviam coisas muito ruins, mas que reconheciam que seus pais viveram coisas piores, e se mostravam sensíveis a isso. quer dizer, ele dá conta de uma certa história familiar dessas vivências, mostrando a formação de um senso de união, de identidade.
chris rock é o que há.
14.7.10
117. surabaya johnny, do happy end
Surabaya Johnny
Ich war jung, Gott, erst sechzehn Jahre
Du kamest von Birma herauf
Und sagtest, ich solle mit dir gehen
Du kämest für alles auf
Ich fragte nach deiner Stellung
Du sagtest, so wahr ich hier steh
Du hättest zu tun mit der Eisenbahn
Und nichts zu tun mit der See
Du sagtest viel, Johnny
Kein Wort war wahr, Johnny
Du hast mich betrogen, Johnny, in der ersten Stund
Ich hasse dich so, Johnny
Wie du dastehst und grinst, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
Zuerst war es immer Sonntag
So lang, bis ich mitging mit dir
Aber schon nach zwei Wochen
War dir nicht nichts mehr recht an mir
Hinauf und hinab durch den Pandschab
Den Fluss entlang bis zur See:
Ich sehe schon aus im Spiegel
Wie eine Vierzigjährige
Du wolltest nicht Liebe, Johnny
Du wolltest Geld, Johnny
Ich aber sah, Johnny, nur auf deinen Mund
Du verlangtest alles, Johnny
Ich gab dir mehr, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund.
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
Ich hatte es nicht beachtet
Warum du den Namen hast
Aber an der ganzen langen Kste
Warst du ein bekannter Gast
Eines morgens in einem Sixpencebett
Werd ich donnern hren die See
Und du gehst, ohne etwas zu sagen
Und dein Schiff liegt unten am Kai
Du hast kein Herz, Johnny
Du bist ein Schuft, Johnny
Du gehst jetzt weg, Johnny, sag mir den Grund
Ich liebe dich doch, Johnny
Wie am ersten Tag, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
Ich war jung, Gott, erst sechzehn Jahre
Du kamest von Birma herauf
Und sagtest, ich solle mit dir gehen
Du kämest für alles auf
Ich fragte nach deiner Stellung
Du sagtest, so wahr ich hier steh
Du hättest zu tun mit der Eisenbahn
Und nichts zu tun mit der See
Du sagtest viel, Johnny
Kein Wort war wahr, Johnny
Du hast mich betrogen, Johnny, in der ersten Stund
Ich hasse dich so, Johnny
Wie du dastehst und grinst, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
Zuerst war es immer Sonntag
So lang, bis ich mitging mit dir
Aber schon nach zwei Wochen
War dir nicht nichts mehr recht an mir
Hinauf und hinab durch den Pandschab
Den Fluss entlang bis zur See:
Ich sehe schon aus im Spiegel
Wie eine Vierzigjährige
Du wolltest nicht Liebe, Johnny
Du wolltest Geld, Johnny
Ich aber sah, Johnny, nur auf deinen Mund
Du verlangtest alles, Johnny
Ich gab dir mehr, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund.
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
Ich hatte es nicht beachtet
Warum du den Namen hast
Aber an der ganzen langen Kste
Warst du ein bekannter Gast
Eines morgens in einem Sixpencebett
Werd ich donnern hren die See
Und du gehst, ohne etwas zu sagen
Und dein Schiff liegt unten am Kai
Du hast kein Herz, Johnny
Du bist ein Schuft, Johnny
Du gehst jetzt weg, Johnny, sag mir den Grund
Ich liebe dich doch, Johnny
Wie am ersten Tag, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund
Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so
13.7.10
116. suspiria, 1977, dario argento
próxima quinta-feira, dia 15 de julho, às 21hs, aqui no telão do azulão: exibiremos "suspiria", de dario argento.
12.7.10
115.
eu não faço mais parte desta casa de gente louca e esquizofrênica.
não quero mais que venham até mim trazendo suas loucuras. quero me curar.
não quero mais que venham até mim trazendo suas loucuras. quero me curar.
6.7.10
113. a caça à raposa
a caça à raposa era o momento ideal para estreitar os vínculos com os ambiciosos filhos do barão. isso demonstrava interesse, por parte de reveillon, pelas seculares tradições britânicas. além disso, unia o trabalho à prática desportiva, criando um momento de agradável descontração no qual ele podia dar o bote.
conversa vai, conversa vem, uma raposa foi abocanhada por um perdigueiro. literalmente também. mas em sentido metafórico, reveillon, ágil e experiente perdigueiro, conseguiu se aproximar do filho do meio do barão de oxfordshire, ardiloso empresário em londres, uma raposa.
marcaram um jantar em um luxuoso restaurante francês da região - o filho do meio também reconhecia as tradições gastronômicas francesas.
já chegava o fim do jantar, a noite estava avançada, ambos bebericavam licores, quando...
- hahahaha - o filho do meio ria, um pouco confuso - eu ainda prefiro colocar leite no meu chá, sim, reveillon!
- então é verdade que há um quarto filho do barão que desapareceu há muitos anos?
- sim, é verdade... o que?! como você soube? seu... seu...
o filho do meio sentiu-se vilipendiado.
conversa vai, conversa vem, uma raposa foi abocanhada por um perdigueiro. literalmente também. mas em sentido metafórico, reveillon, ágil e experiente perdigueiro, conseguiu se aproximar do filho do meio do barão de oxfordshire, ardiloso empresário em londres, uma raposa.
marcaram um jantar em um luxuoso restaurante francês da região - o filho do meio também reconhecia as tradições gastronômicas francesas.
já chegava o fim do jantar, a noite estava avançada, ambos bebericavam licores, quando...
- hahahaha - o filho do meio ria, um pouco confuso - eu ainda prefiro colocar leite no meu chá, sim, reveillon!
- então é verdade que há um quarto filho do barão que desapareceu há muitos anos?
- sim, é verdade... o que?! como você soube? seu... seu...
o filho do meio sentiu-se vilipendiado.
5.7.10
1.7.10
110. a retomada lenta da tese
retomarei o ari martins esta semana. mais cedo ou mais tarde vou ter de sentar e refletir sobre essa fonte, que eu considero ao mesmo tempo fascinante, cheia de possibilidades, e tão complicada de trabalhar.
nada melhor para pensar sobre ela do que utilizá-la, penso eu. recortei meu período. por ora, vou trabalhar com a década de 1900, apenas. e já é muito! além do mais, foi a década em que homero prates, álvaro moreyra e felipe d'oliveira ainda viviam em porto alegre, e trabalhar com o livro do ari martins vai ser importante pra conhecer o campo literário porto alegrense (gaúcho, quiçá) durante este período.
a grande questão é que todo mundo usa o livro dele - ótimo, diga-se de passagem - com a única finalidade de buscar uma outra referência sobre um ou outro escritor. era exatamente o uso que até agora eu vinha fazendo dele.
entretanto, penso que essa é uma fonte muito mais rica. é um banco de dados, e como todo banco de dados pode ser utilizado de variadas formas. não consta nele unicamente informações sobre escritores, mas também sobre editoras, números de publicações, cidades onde mais se publicava etc. o problema é que este banco de dados, embora contenha estas informações, não foi pensado para fornecê-las. não há, ainda, nenhuma nota sobre como o autor produziu seu banco de dados - buscou referências onde? jornais, revistas? quais? outras obras? de quais autores? bibliotecas particulares? de quem? há outros documentos de referência? se sim, quais?
tudo isso seria crucial para saber que tipo de fonte ele JÁ consultou e que outras ficaram pra trás - até por não servirem ao objetivo central da obra.
além disso, como banco de dados, se presta pra algumas coisas, mas não pra outras, e é muito importante saber direitinho pra que ele serve e pra que ele não serve. sim, ele possui todas aquelas informações. mas ele não conta, por exemplo, com publicações de escritores não gaúchos, mas que publicaram por editoras daqui. hoje em dia, nem sei mais que tipo de fonte eu poderia utilizar para descobrir esses dados, mas de todo modo seria crucial para retirar o caráter restritivo que a obra acabou tomando - obviamente isso não chega a ser uma crítica, já que construir um bando de dados desta monta sem computador é um grande, grandessíssimo feito.
entretanto, pensando nas perguntas que podem ser feitas hoje, no atual estado de ânimos da história dos livros, da leitura, intelectual, das ideias, cultural, social da cultura ou seja lá que tipo de história se pense em fazer que vise recuperar informações sobre o campo intelectual e editorial no rio grande do sul do passado, uma pergunta bastante relevante seria a de que porcentagem de autores nascidos fora do rio grande do sul, ou moradores de fora do rio grande do sul, chegaram a publicar por editoras daqui. isso não é possível descobrir com o livro do ari martins.
outro aspecto controverso com o qual é preciso lidar é o fato de que nem todas as informações constam em todos os registros (por exemplo, editora, cidade etc) e não há nenhuma explicação para tal ausência. seria falta de fontes? ou o livro não foi mesmo publicado por nenhuma editora ou tipografia (nenhuma tipografia "assinou" a edição do livro), como podia acontecer no século XIX?
se, por um lado, não há informações - não completas e sistemáticas, ao menos - de autores não gaúchos que publicaram no rio grande do sul, por outro lado há referência a publicações de autores gaúchos em outros estados. o que não foi informado é o local onde o ari martins localizou tais informações, ou que critérios utilizou para incluir estes escritores e não outros - já que, evidentemente, ele não buscou todos.
bueno, por enquanto é só o que sou capaz de pensar... quando estiver com todos os dados quem sabe faço algum comentário sobre isso aqui ;)
nada melhor para pensar sobre ela do que utilizá-la, penso eu. recortei meu período. por ora, vou trabalhar com a década de 1900, apenas. e já é muito! além do mais, foi a década em que homero prates, álvaro moreyra e felipe d'oliveira ainda viviam em porto alegre, e trabalhar com o livro do ari martins vai ser importante pra conhecer o campo literário porto alegrense (gaúcho, quiçá) durante este período.
a grande questão é que todo mundo usa o livro dele - ótimo, diga-se de passagem - com a única finalidade de buscar uma outra referência sobre um ou outro escritor. era exatamente o uso que até agora eu vinha fazendo dele.
entretanto, penso que essa é uma fonte muito mais rica. é um banco de dados, e como todo banco de dados pode ser utilizado de variadas formas. não consta nele unicamente informações sobre escritores, mas também sobre editoras, números de publicações, cidades onde mais se publicava etc. o problema é que este banco de dados, embora contenha estas informações, não foi pensado para fornecê-las. não há, ainda, nenhuma nota sobre como o autor produziu seu banco de dados - buscou referências onde? jornais, revistas? quais? outras obras? de quais autores? bibliotecas particulares? de quem? há outros documentos de referência? se sim, quais?
tudo isso seria crucial para saber que tipo de fonte ele JÁ consultou e que outras ficaram pra trás - até por não servirem ao objetivo central da obra.
além disso, como banco de dados, se presta pra algumas coisas, mas não pra outras, e é muito importante saber direitinho pra que ele serve e pra que ele não serve. sim, ele possui todas aquelas informações. mas ele não conta, por exemplo, com publicações de escritores não gaúchos, mas que publicaram por editoras daqui. hoje em dia, nem sei mais que tipo de fonte eu poderia utilizar para descobrir esses dados, mas de todo modo seria crucial para retirar o caráter restritivo que a obra acabou tomando - obviamente isso não chega a ser uma crítica, já que construir um bando de dados desta monta sem computador é um grande, grandessíssimo feito.
entretanto, pensando nas perguntas que podem ser feitas hoje, no atual estado de ânimos da história dos livros, da leitura, intelectual, das ideias, cultural, social da cultura ou seja lá que tipo de história se pense em fazer que vise recuperar informações sobre o campo intelectual e editorial no rio grande do sul do passado, uma pergunta bastante relevante seria a de que porcentagem de autores nascidos fora do rio grande do sul, ou moradores de fora do rio grande do sul, chegaram a publicar por editoras daqui. isso não é possível descobrir com o livro do ari martins.
outro aspecto controverso com o qual é preciso lidar é o fato de que nem todas as informações constam em todos os registros (por exemplo, editora, cidade etc) e não há nenhuma explicação para tal ausência. seria falta de fontes? ou o livro não foi mesmo publicado por nenhuma editora ou tipografia (nenhuma tipografia "assinou" a edição do livro), como podia acontecer no século XIX?
se, por um lado, não há informações - não completas e sistemáticas, ao menos - de autores não gaúchos que publicaram no rio grande do sul, por outro lado há referência a publicações de autores gaúchos em outros estados. o que não foi informado é o local onde o ari martins localizou tais informações, ou que critérios utilizou para incluir estes escritores e não outros - já que, evidentemente, ele não buscou todos.
bueno, por enquanto é só o que sou capaz de pensar... quando estiver com todos os dados quem sabe faço algum comentário sobre isso aqui ;)
30.6.10
109. ironia
hoje estava lendo um blog sobre animais resgatados na rua e acolhidos em casas de passagem até que alguém os adote.
eram vários casos, gatos, cachorros, com doenças, castrados etc. lá pelas tantas surgiu a irônica história de um cão chamado beethoven. beethoven foi internado numa clínica e, lá, brigou com outros cães, tendo seu ouvido mutilado. a veterinária responsável, ao que parece, não tomou as providências necessárias e ele acabou mesmo surdo de um ouvido.
achei super irônico isso. parece que o nome o amaldiçoou.
eram vários casos, gatos, cachorros, com doenças, castrados etc. lá pelas tantas surgiu a irônica história de um cão chamado beethoven. beethoven foi internado numa clínica e, lá, brigou com outros cães, tendo seu ouvido mutilado. a veterinária responsável, ao que parece, não tomou as providências necessárias e ele acabou mesmo surdo de um ouvido.
achei super irônico isso. parece que o nome o amaldiçoou.
29.6.10
28.6.10
106.
cornichon e a família costumavam passar o fim do outono e o começo do inverno na casa de campo de reveillon, na baixa normandia. o outono era ameno e suave, ideal para reunirem-se, tratando de negócios e também do ócio do fim da estação.
desta vez, porém, reveillon esperava ainda uma ilustre presença, que talvez surpreenderia seus antigos convidados. seus negócios em sussex estavam prosperando. já havia chegado a hora.
na manhã seguinte ao suntuoso e perplexo jantar, porém, reveillon recebera cedo um telefonema de rye. a viscondessa de chichester exigia sua presença com urgência, pois tinha um assunto muito sério a ser tratado com ele. segundo ela lhe adiantara, tratava-se da doença do barão de oxfordshire. seus três filhos disputavam o controle majoritário das empresas, coisas do dia-a-dia. o ideal é que reveillon se tornasse íntimo de cada um deles.
sem esperar mais, reveillon tomou o primeiro trem. reencontrar a viscondesa de chichester era sempre magnífico. e, ardilosa como era, ela devia já estar ajeitando as devidas situações para o estabelecimento dos vínculos estreitos com a prole do barão de oxfordshire. ah, o reencontro com a viscondessa de chichester...
desta vez, porém, reveillon esperava ainda uma ilustre presença, que talvez surpreenderia seus antigos convidados. seus negócios em sussex estavam prosperando. já havia chegado a hora.
na manhã seguinte ao suntuoso e perplexo jantar, porém, reveillon recebera cedo um telefonema de rye. a viscondessa de chichester exigia sua presença com urgência, pois tinha um assunto muito sério a ser tratado com ele. segundo ela lhe adiantara, tratava-se da doença do barão de oxfordshire. seus três filhos disputavam o controle majoritário das empresas, coisas do dia-a-dia. o ideal é que reveillon se tornasse íntimo de cada um deles.
sem esperar mais, reveillon tomou o primeiro trem. reencontrar a viscondesa de chichester era sempre magnífico. e, ardilosa como era, ela devia já estar ajeitando as devidas situações para o estabelecimento dos vínculos estreitos com a prole do barão de oxfordshire. ah, o reencontro com a viscondessa de chichester...
25.6.10
105. um dia no centro de porto alegre 2
fiquei tão empolgada em narrar o trajeto do C3 que esqueci o objetivo central deste post. fui até um café do centro esperar pela minha prima. para não usufruir do espaço sem nada consumir, optei por pedir um expresso. logo após pedir, solicitei um banheiro onde eu pudesse lavar as minhas mãos.
- ali atrás tem um. pode usar.
a primeira coisa que vi foi uma barata sendo comida por formigas. horrível a cena, mas já era de se esperar que estabelecimentos servindo comida no centro da cidade fossem acometidos por esses males. porém eles bem que podiam ter varrido a barata dali, né?!
imediatamente lembrei do expresso que havia pedido. em outros tempos, quando eu era mais inocente do que sou agora, eu pensaria que a máquina de café garantiria a intergridade sanitária do mesmo. mas após lembrar do café, lembrei da priscila:
- tu sabia que é comum encontrarem pedaços de baratas em máquinas de café? uma vez uma guria vomitou por causa disso.
não, eu não sabia, e preferia nunca ter ficado sabendo disso. a história inteira conta que insetos de tipos e tamanhos variados costumam se aglomerar em máquinas de bebidas - não apenas as de café, mas também é comum nas de refrigerante.
resolvi sentar numa mesa de frente pra rua e esquecer dessas histórias todas. esperei estoicamente pelo tal café, que foi trazido em seguida por uma atendente de mãos muito, mas muito molhadas (o que não quer dizer limpas). ao inclinar-se ao meu lado para depositar a xícara sobre a mesa, ela olhou muito de perto e com os olhos muito fixos em mim e disparou:
- onde que tu mora?
fiz que não ouvi, agradeci. ela se aproximou de novo, inclinada, e, mais uma vez:
- onde que tu mora?
como assim onde eu moro? senti-me ameaçada.
- moro em porto alegre.
- ah tá... é que tu parece com uma guria lá de alvorada.
- é que eu já morei em alvorada.
- então é isso.
era só isso. a mulher me conhecia de alvorada.
----------------------------------------------------------------------------------------------
sendo vitimada pelo expresso, acompanhava o movimento na rua.
uma mulher que tinha por volta de quarenta anos e que provavelmente trabalhava em outra espelunca insalubre das proximidades, vinda provavelmente, em condições péssimas de transporte, de alguma cidade da periferia da região metropolitana, parou diante do tal café onde eu estava e, fumando um cigarro, buscou o contato com a atendente de mãos molhadas que havia me atendido.
- e aí... - de vez em quando ela assoprava fumaça pra cima, meio rindo, meio tremendo - o meu amigo nunca mais apareceu aqui.
- ah não?
- não... o que será que houve? - já mencionei que havia uma certa e quase imperceptível tensão nessa mulher, que se manifestava com um tremelico no canto da boca, enquanto ela fingia sorrir?
- ah... tem gente que não vem muito seguido pro centro...
- pois é...
ela ainda fumava. dava pra ver que ela estava totalmente interessada naquele assunto, mas a outra não. dava pra ver que era um assunto realmente importante pra ela. de repente:
- ele até me deixou o telefone... mas eu não quero ligar. acho chato gente que fica em cima, insistindo...
o sorriso nervoso persistia. o sorriso falava mais do que ela. era uma mulher com uns quarenta anos, teria ainda pouco tempo de se arrumar com alguém. e esse cara parecia estar dando bola pra ela, parecia mesmo, ela alimentou esperanças. ela acreditou que era isso e isso talvez tenha feito a vida dela ser melhor. mas o cara simplesmente nunca mais apareceu.
- se ele não aparecer mais, vou ligar.
ela sabia que ele não queria nada com ela. mas ela não podia se confrontar com essa verdade. ela sabia que não devia ligar, mas precisava fazer alguma coisa por aquilo. o centro de porto alegre pode ser muito profundo.
- ali atrás tem um. pode usar.
a primeira coisa que vi foi uma barata sendo comida por formigas. horrível a cena, mas já era de se esperar que estabelecimentos servindo comida no centro da cidade fossem acometidos por esses males. porém eles bem que podiam ter varrido a barata dali, né?!
imediatamente lembrei do expresso que havia pedido. em outros tempos, quando eu era mais inocente do que sou agora, eu pensaria que a máquina de café garantiria a intergridade sanitária do mesmo. mas após lembrar do café, lembrei da priscila:
- tu sabia que é comum encontrarem pedaços de baratas em máquinas de café? uma vez uma guria vomitou por causa disso.
não, eu não sabia, e preferia nunca ter ficado sabendo disso. a história inteira conta que insetos de tipos e tamanhos variados costumam se aglomerar em máquinas de bebidas - não apenas as de café, mas também é comum nas de refrigerante.
resolvi sentar numa mesa de frente pra rua e esquecer dessas histórias todas. esperei estoicamente pelo tal café, que foi trazido em seguida por uma atendente de mãos muito, mas muito molhadas (o que não quer dizer limpas). ao inclinar-se ao meu lado para depositar a xícara sobre a mesa, ela olhou muito de perto e com os olhos muito fixos em mim e disparou:
- onde que tu mora?
fiz que não ouvi, agradeci. ela se aproximou de novo, inclinada, e, mais uma vez:
- onde que tu mora?
como assim onde eu moro? senti-me ameaçada.
- moro em porto alegre.
- ah tá... é que tu parece com uma guria lá de alvorada.
- é que eu já morei em alvorada.
- então é isso.
era só isso. a mulher me conhecia de alvorada.
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sendo vitimada pelo expresso, acompanhava o movimento na rua.
uma mulher que tinha por volta de quarenta anos e que provavelmente trabalhava em outra espelunca insalubre das proximidades, vinda provavelmente, em condições péssimas de transporte, de alguma cidade da periferia da região metropolitana, parou diante do tal café onde eu estava e, fumando um cigarro, buscou o contato com a atendente de mãos molhadas que havia me atendido.
- e aí... - de vez em quando ela assoprava fumaça pra cima, meio rindo, meio tremendo - o meu amigo nunca mais apareceu aqui.
- ah não?
- não... o que será que houve? - já mencionei que havia uma certa e quase imperceptível tensão nessa mulher, que se manifestava com um tremelico no canto da boca, enquanto ela fingia sorrir?
- ah... tem gente que não vem muito seguido pro centro...
- pois é...
ela ainda fumava. dava pra ver que ela estava totalmente interessada naquele assunto, mas a outra não. dava pra ver que era um assunto realmente importante pra ela. de repente:
- ele até me deixou o telefone... mas eu não quero ligar. acho chato gente que fica em cima, insistindo...
o sorriso nervoso persistia. o sorriso falava mais do que ela. era uma mulher com uns quarenta anos, teria ainda pouco tempo de se arrumar com alguém. e esse cara parecia estar dando bola pra ela, parecia mesmo, ela alimentou esperanças. ela acreditou que era isso e isso talvez tenha feito a vida dela ser melhor. mas o cara simplesmente nunca mais apareceu.
- se ele não aparecer mais, vou ligar.
ela sabia que ele não queria nada com ela. mas ela não podia se confrontar com essa verdade. ela sabia que não devia ligar, mas precisava fazer alguma coisa por aquilo. o centro de porto alegre pode ser muito profundo.
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