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24.8.09

49. franco moretti: gráficos

terminei o capítulo sobre o uso de gráficos em história da literatura do livro do franco moretti, "a literatura vista de longe".
o franco moretti é um italiano que leciona literatura comparada na universidade de stanford e tem se ocupado de pensar a história da literatura diferentemente da crítica tradicional. ele considera que a história da literatura preocupou-se tão somente com as obras clássicas e de refrência dos gêneros, dando muita ênfase aos cânones e esquecendo-se por completo da literatura "baixa", "pequena" ou como se quiser denominar aqueles escritores que permanecem até hoje no mais completo anonimato, e suas obras.
pro moretti, se olharmos a literatura "de longe", através de gráficos e de mapas, por exemplo, veremos uma nova literatura aflorar, já que levaria-se em conta todo o conjunto de escritores "menores" e que não se tornaram consagrados - mas que, no entanto, publicaram e foram lidos.
pois, toda a parte sobre os gráficos é bastante sugestiva e traz boas reflexões, mas não tenho certeza se chega a resultados muito inovadores - que seria a expectativa da utilização de novos métodos.
na verdade, a grande sacada que ele esperou trazer foi a percepção de ciclos numa história literária que abarque várias décadas (quem sabe séculos) de produção. então uma das coisas que ele defende é que os gêneros do romance convivem durante cerca de 20-30 anos e, simultaneamente, são todos juntos substituídos por novos gêneros. sendo assim, num mesmo momento histórico haveria vários "horizontes de expectativas", porque haveria vários gêneros literários em perfeita harmonia. mas, dentro de 20 ou 30 anos de convivência, estes gêneros, todos juntos (e isso é importante pro argumento dele), entrariam em declínio e seriam relegados ao ostracismo completo, sendo que outros gêneros novos tomariam o lugar deste antigo grupo.
ele não sabe muito bem explicar o porquê desta dinâmica, mas aposta que deve ter algo a ver com sucessões de gerações literárias. não há como explicar convincentemente a razão de os ciclos destas gerações serem tão estáveis (sempre duram de 20 a 30 anos).
bom, acho que ele coloca boas questões e o ponto de vista que esta metodologia faz emergir é de fato bastante intrigante. mas não me senti plenamente satisfeita com as soluções que ele encontra, ou, pelo menos, com a forma como ele as apresenta. acho que, até o momento, a literatura na história que ele conta ainda está muito afastada da história. sim, porque tomando apenas um conjunto de gráficos, embora novas e interessantes questões apareçam, não há como oferecer uma explicação que passe pela história. os gráficos tratam apenas da produção de livros. esta produção de livros, portanto, permanece alijada de todo o resto da época e dos homens que a produziram.
eu gostaria de trabalhar um tantinho com esta metodologia pra poder testar melhor estas coisas todas, tanto as questões que ele propõe, quanto uma crítica à maneira como os gráficos, mapas e bancos de dados são produzidos. sim, porque ele não deixa muito claro como estas coisas foram de fato elaboradas e de que forma esta confecção interfere nos resultados oferecidos. creio que seria deveras interessante mesclar esta literatura vista de longe do moretti com uma literatura vista bem de perto e testar os limites de cada uma delas.
a revista veja fez uma adaptação de alguns gráficos do moretti. evidentemente que são adaptações e o livro dele não é tão colorido assim.

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